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Maratona do Porto 2014

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Trail stats

Distance
26.3 mi
Elevation gain
715 ft
Technical difficulty
Difficult
Elevation loss
922 ft
Max elevation
327 ft
TrailRank 
24
Min elevation
-1 ft
Trail type
One Way
Time
3 hours 50 minutes
Coordinates
3580
Uploaded
July 22, 2016
Recorded
November 2014
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near Massarelos, Porto (Portugal)

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Itinerary description

UM ANO ATÉ À MARATONA (A MINHA PRIMEIRA MARATONA)

PRÉ-MARATONA
Desde criança que adoro atletismo, mas, com pena, nunca tive a oportunidade de o praticar durante a adolescência/crescimento. Ainda assim, residiu sempre em mim a vontade de, um dia, testar os meus próprios limites físicos.
Apesar de fazer caminhadas de montanha pontualmente, de ter nas pernas não mais de meia dúzia de trilhos levezinhos de BTT e de correr de forma intermitente desde 2009, até finais de 2013 estava longe de poder ser considerado uma pessoa virada para o desporto. Nunca tinha corrido mais de 8km e nunca tinha estabelecido nenhum objectivo desportivo concreto, altura em que surge uma conversa com um amigo que se tinha acabado de preparar para uma meia-maratona. Este explicou-me como se preparou e mostrou-me os planos de treino da ASICS, surgindo, desde logo, na minha cabeça a expressão: “Era exactamente disto que eu estava a precisar!”
Entusiasmado com a ideia, procurei uma corrida próxima, surgindo a Family Race da Maratona do Porto 2013 (16km) como objectivo possível, daí a pouco mais de 1 mês. Tracei o meu primeiro plano de treino e comecei a segui-lo religiosamente.
O que é que muda com a existência do plano e a inscrição numa corrida? Tudo! Passamos a ter uma base de distância e ritmo calendarizada, e um objectivo concreto, desaparecendo os momentos em que estamos a meio de um treino e pensamos “Estou cansado”, “vou parar”, “não aguento mais”, “já corri o suficiente”, “hoje não me apetece ir”, “hoje não vou porque está a chover”…. Etc, etc, etc… Ficamos comprometidos e se, em determinado dia, o plano, adaptado às nossas capacidades, prevê 12km, são 12 que vamos fazer!
3 de Novembro de 2013 foi, então, o dia da minha primeira corrida oficial, tendo concluído os 16km em 1h25min. Na adrenalina do feito, fiz a promessa a mim mesmo que, daí a um ano, estaria na mesma corrida, não para a Family Race, mas para completar os 42km da Maratona do Porto!...
Já totalmente absorvido pelo vício da corrida, procurei renovar de imediato o meu objectivo, sendo o salto dos 16 para os 21km o mais natural. Encontrei a Meia-Maratona dos Descobrimentos, em Lisboa, que realizava a sua 1ª edição a 8 de Dezembro. Inscrevi-me de imediato!
Treinei durante mais um mês, quase sem falhas e, a 8 de Dezembro, lá estava eu em frente aos Jerónimos para completar a minha primeira Meia-Maratona! Senti-me excepcionalmente bem durante o percurso, correndo consideravelmente acima do ritmo que o plano de treino previa, tendo terminado a prova em 1h46min51s. A sensação de superação pessoal era incrível! Era algo inimaginável 3 meses antes…
Continuei renovando objectivos, que passavam por fazer mais algumas meias-maratonas, de modo a chegar ao verão com o máximo de quilómetros possíveis nas pernas e avaliar se sempre me sentia capaz de “dar o salto” para a maratona.
Seguiram-se, então, 3 meias-maratonas no espaço de, aproximadamente, 1 mês: a Meia-Maratona do Douro Vinhateiro a 18 de Maio (prova em que correu tudo muito, mas muito mal, no entanto, serviu para ganhar experiência a vários níveis), Meia-Maratona da Figueira da Foz a 8 de Junho e Meia-Maratona de Guimarães a 22 de Junho.
Em nenhuma delas consegui melhorar o recorde pessoal da distância, pelo que começava a questionar a minha forma e capacidade para um desafio como uma maratona. E estava na altura de decidir… Se queria pensar em fazer 42km em Novembro, era altura de elaborar um plano de treino específico e pô-lo em prática….

TREINO
Em finais de Junho, a primeira experiência de treino acima dos 25km revelou-se positiva, dando alento para aquilo que foram mais de 3 meses de treino intenso, extenso e muito duro, com médias acima dos 150kms por mês e 5 sessões de treino de mais de 2h30min (por vezes com chuva, ora sozinho, ora acompanhado) que se revelaram um desafio constante, não só física, mas também psicologicamente, pois nem sempre acordamos com disposição para correr, mas, ao mesmo tempo, sentimos que, se não o fizermos, não estaremos preparados para um desafio destes…
Durante este período, a resposta física aos treinos tinha altos e baixos e posso dizer que só no final de Setembro tive a convicção absoluta de que me sentia capaz de correr a maratona.

ESTRATÉGIA
Com o aproximar do dia da Maratona, a ansiedade ia crescendo, sendo que, nos dias (talvez semanas) anteriores, o nosso pensamento está completamente absorvido pelo acontecimento e tentamos visualizar todos os cenários possíveis durante a prova!
O plano de treino elaborado previa que completasse a prova em 3h45min, marca que eu, sinceramente, sempre achei inatingível para as minhas capacidades na altura, mas sentia que, num bom dia, talvez conseguisse terminar a prova em menos de 4h. Sendo assim, levava 3 objectivos pessoais:
1º - terminar a prova;
2º - terminar a prova sem parar de correr;
3º - terminar em menos de 4h.
Ainda hesitei bastante sobre qual a melhor estratégia a adoptar durante a prova (e convém levar uma!), mas acabei por assentar ideias na seguinte: Seguir o pacemaker das 3h45min o máximo de tempo que conseguir, tendo sempre, mas sempre, presente a certeza de que os últimos kms iriam ser de sofrimento e que algures a partir dos 25km iria quebrar e começar a perder contacto com o pacemaker, tentando seguir ao melhor ritmo que conseguisse, daí em diante.

A PROVA
No dia da prova a ansiedade fazia-se sentir e tentei preparar tudo meticulosamente, de modo a que nada falhasse. Nada?
Já na zona de partida, a relembrar, mais uma vez, tudo o que seria necessário: “A marmelada! Esqueci-me da marmelada em casa!...... Bem, agora não há nada que se possa fazer, não é catastrófico, vamos manter a calma.” Ia ter que confiar nos sólidos que davam durante a prova, mas só começavam aos 20km. Até lá, não comeria nada…
E aproximava-se o momento da verdade… 2 de Novembro de 2014, um ano depois, lá estava eu no meio daquela multidão preparado para correr pelas ruas do Porto, ladeando o rio mais bonito do mundo e cumprindo o desejo feito na edição anterior! Por vezes ainda parecia irreal…

Tiro de partida dado, começa finalmente a prova e, na confusão inicial, o pacemaker das 3h45min ganha-me larga vantagem. “Deixa-o ir, desde que se mantenha sob mira…”, pensei. Depois de um 1º km de adaptação, começo a sentir-me fisicamente num bom dia, tendo o corpo se ajustado natural e confortavelmente a um ritmo entre os 5:05 e os 5:10 min/km, consideravelmente mais rápido do que o previsto. “Estás-te a sentir bem a este ritmo, mais vale manter”, pensei. Os kms foram passando e, pela primeira vez, posso dizer que senti verdadeiro prazer a correr, com frescura física e sem qualquer sinal de cansaço, estado que se manteve durante cerca de 25km. Nesta fase, corria já claramente à frente do pacemaker das 3h45min, que tinha ultrapassado perto do km 7.

Passo à meia-maratona em 1h49min (a minha segunda melhor marca à data), sentindo-me “com pernas” para a outra metade ainda por percorrer, e só a partir dos 25km a sensação de frescura física deu lugar a uma natural sensação de algum desgaste, dando-se aqui uma ligeira mudança de ritmo, para os 5:20 / 5:30 min/km. Na passagem aos 30km, em 2h37min, já com muito cansaço acumulado, mas longe de me sentir esgotado, sou finalmente “apanhado” pelo pacemaker das 3:45min. Aqui, simultaneamente, quebra-se uma importante marca psicológica: “Nunca corri tanto, nem tão rápido e sinto-me capaz de continuar!”. Mais kms foram passando e o esforço foi-se fazendo sentir cada vez mais até ao km 35. E foi neste ponto que senti a verdadeira e já esperada quebra, invadido por uma sensação de quase esgotamento. O facto de ter sido só aos 35 km era francamente positivo. Se o tão falado “muro dos 30km” corresponde ao ponto em que as nossas reservas de hidratos de carbono se esgotam, então com certeza que este terá sido o meu muro, mas, apesar da clara quebra de ritmo, não fiquei em estado de não conseguir continuar, fiquei em estado “Vou continuar, vai ser duro, mas já só faltam 7km, não vou parar, doa o que doer!” A partir deste ponto começo a correr a rondar os 6 min/km, mas isso pouco importava, o fulcral era não parar, até porque levava uma confortável vantagem para poder terminar abaixo das 4h.
Nos últimos kms, o trajecto da maratona assemelha-se a um campo de batalha com atletas a andar, outros estendidos no chão exaustos ou a contorcerem-se com caimbras, alguns assistidos pela cruz vermelha e, claro, muitos outros mais frescos do que eu, a seguir naturalmente a sua passada. Tentando-me manter alheio a tudo isto, lá ia eu no meu esforço e sofrimento, mas devo dizer que, nesta última fase, já contava todas as passadas que dava e cada km parecia nunca mais passar. Posso tentar descrever o cansaço que estava a sentir como uma dor ininterrupta nas pernas, mas misturada com uma intensa sensação de adormecimento e calor, a que se acrescentam uns pés “a ferver”. Entre o km 38 e 39, apesar de cardiorrespiratoriamente estar muito bem, começo a sentir um adormecimento dos braços e “picadas” nas mãos, altura em que me questiono se é agora que me vai “dar alguma”… Mas não podia ser, não tão perto do fim… Os 5 kms desde o abastecimento dos 35km ao abastecimento dos 40km foram claramente a fase mais dolorosa da corrida, fase essa que me pareceu demorar uma verdadeira eternidade.
Poucos metros depois do km 40, quando mais precisava e quando já sentia que os 2 km que faltavam iam ser os mais duros e longos de toda a história, dá-se uma verdadeira reviravolta digna de filme: surge, do nada, um amigo meu montado na sua bicicleta! “Vamos lá! Vim-te acompanhar até ao fim!” Não imaginam como aquela surpresa foi determinante, pois, para além da imensa alegria de ter alguém a apoiar-me, foi um factor de distracção do esforço que fez com que aqueles 2 últimos kms passassem muito mais rapidamente!
Quando dei por mim já estava a ver a meta ao longe, altura em que realmente “caio em mim” e me apercebo que tinha conseguido! Tinha completado uma Maratona!!
Num derradeiro esforço, aumento o ritmo nos últimos metros para cortar a meta em 3h50min!
Não há mesmo palavras para descrever a sensação que nos invade! Felizmente tinha mobilizado toda a Família, que estava lá para partilhar o feito comigo e aliviar o peso dos kms nas pernas!
Como curiosidade, no final, "tresandava" a amoníaco, sinal de que até de proteínas o meu corpo se tinha socorrido... Parecia que estava dentro de um laboratório!

Passei bem mais de uma semana sem que as imagens e emoções da corrida me saíssem da cabeça por um segundo que fosse! É realmente um daqueles momentos que nos marca e molda, do qual saímos sentindo que algo mudou profundamente dentro de nós... Há a vida antes da Maratona e a vida depois da Maratona.

Após o assentar da poeira dos 42km, calmamente, repensei objectivos, pois, sem eles, já estamos com meia nádega de volta ao sofá... Foi aí que surgiu de forma espontânea o salto para o Trail Running, onde alio corrida ao meu gosto pela Natureza e onde me passei a sentir verdadeiramente “em casa”.

Mas, apesar de ter desviado o foco das corridas de estrada, residirá sempre aqui o “bichinho” de voltar a correr uma Maratona (o que já aconteceu! :) ).

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