:VM00: Via Mariana - Sameiro ---} Braga Albergue Casa da Roda

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Quando terminei a Via Francigena, em Roma, em Agosto de 2012, aproveitei para visitar os monumentos da cidade. Ficou-me sempre na memória a obra de Caravaggio, a Nossa Senhora dos Peregrinos (Madonna di Loreto, de 1606), que se encontra na igreja de Santo Agostinho. A imagem marcou-me. Não há artificialismos e riquezas. Adivinha-se uma porta de uma casa banal, vê-se até estuque caído e tijolos à vista na parede. Todos, incluíndo Maria, estão descalços. O Menino pesa muito, é uma criança já com mais de um ano, que Maria se curva um pouco para amparar no seu colo. Os peregrinos, apoiados nos seus toscos cajados, estão vestidos de forma algo andrajosa, os pés inchados e provavelmente cansados e famintos, mas ajoelham e adoram.
Apenas uma muito fina auréola sobre as cabeças de Jesus e de sua jovem Mãe nos falam do divino.
O Papa Francisco quando era ainda o bispo Jorge Mario Bergoglio, e se de deslocava a Roma, visitava-a diáriamente, sentia-se rendido à ternura e naturalidade presente na cena: "Por causa do realismo, da veracidade. Ela é uma mãe com um filho que lhe cresce entre os braços, que é pesado, mas contempla-o sempre com ternura. Contempla aqueles peregrinos que passam e que depois não a verão mais. Contempla-nos quando ali vamos." (Ave-Maria, edição Planeta)



Os peregrinos. Maria. Uma ideia que ficou a germinar.
Gosto da montanha, da floresta, de caminhos calcorreados séculos a fio, carregados de alma e estórias.
Por isso, quando os galegos José de la Riera e Luís Martinez (Luis do Freixo), mais tarde com a participação do Henrique Malheiro em Portugal, nos brindaram com este novo trajecto peregrinatório, a Via Mariana, fomos fazê-la logo que possível. Com muitos milhares de quilómetros percorridos nos caminhos de Tiago, queríamos agora calcorrear os velhos caminhos que levam aos Santuários dedicados à Virgem, cuja história se encontra tão fortemente ligada à do Apóstolo na sua pregação pela Península. Tinham passado uns meses desde a sua criação, mas assim mesmo apenas uma escassa trintena de peregrinos ou nem isso a teria feito na integra.

Fui com a minha companheira, propositadamente, no meio do Outono - a estação em que mais gosto de caminhar naquelas serranias do noroeste peninsular. Estavam ainda alguns troços mal sinalizados, outros sem sinalização alguma, e pequenos trechos pouco transitáveis; os pontos de apoio não abundam, algumas etapas são completamente desertas, nesse aspecto. Provavelmente o peregrino que a fizer nos tempos vindouros já irá encontrar uma realidade diversa - mas assim mesmo aconselho a não deixar o gps em casa.

Irei publicar, etapa a etapa, e também o percurso global de perto de 400km, até Março de 2020. Como habitualmente, nestes registos de Grandes Rotas, deixarei contactos e indicações pertinentes.

Etapa 00 - 8.2 Km - Santuário do Sameiro > Braga / Albergue da Casa da Roda

Partimos de Lisboa no Intercidades das 9:30 em 16 de Outubro de 2019. A CP faz preços especiais para algumas circulações, se compradas com antecedência on-line. Por 16 euros os dois (com desconto senior num dos tickets) estávamos em Braga às 13:26. Aí estava bem mais frio do que à partida, e começava a pingar. A fome já era muita, e quando vimos o interior quente, acolhedor e bem decorado do Agostinho da Estação, entramos logo, sem sair da gare. O menu, a 7 euros por pessoa, incluía prato, bebida, sobremesa e café, tudo excelente.
Quando saímos continuava a chuva pegajosa... resolvemos desistir do planeado autocarro e por 13,45 euros fomos os dois de táxi até ao Sameiro.

Aí entramos no Turismo onde fomos recebidos com inexcedível simpatia pela Rosamaria, que logo quis fazer selfies connosco. Conversamos um pouco sobre as nossas andanças, ficamos amigos! Compramos as Credenciais de Peregrino (3.50 euros cada uma), despedimo-nos, e demos o primeiro passo. Uma visita à Capela do Santíssimo Sacramento, depois a Basílica de Nossa Senhora do Sameiro. Vale a pena contemplar o belo altar e visitar a cripta. Invocamos a protecção da Senhora do Sameiro para a nossa Viagem, e fizemos depois uma rápida visita à Casa das Estampas.

Agora era a sério, chuva e muito vento fizeram-nos companhia por ali abaixo, fomos seguindo o Caminho do Sameiro e entramos no frondoso e bonito Parque do Bom Jesus. Foi ainda nos inícios do séc. XIX que começou a construção deste magnífico espaço, aprimorado mais tarde com grutas e elementos vegetais em cimento arnado tão ao gosto da Belle Epoque. Merecia muitas fotos, mas de cada vez que tirava a câmara do saco ficava cheia de água... estugamos o passo até entrar na Basílica do Bom Jesus do Monte. Estava a decorrer missa, contemplamos discretamente o interior do templo e seguimos para descer então o monumental escadório com vistas priveligiadas sobre a cidade.

O escadório deixa-no na EN103 que abandonamos em definitivo um pouco depois, junto do rio Este. Estávamos frios e molhados, fustigados por aquele dilúvio, nem os ponchos nos protegiam eficazmente. Entramos logo ali na Pastelaria Braga Parque, onde uns chás quentes e croissants nos confortaram.
Depois foi sempre a acelerar até ao Albergue. Chovia menos; mas, 800 metros antes do final... novo dilúvio, e à chegada a camarata da Casa da Roda (JOEMCA) quase se revelava pequena para tanta coisa que tivemos que colocar a secar! O albergue (telef 253 215 165), onde se pernoita por 5.00 eur por pessoa, era já nosso conhecido do caminho Torres. São instalações muito elementares, estava pouco confortável, muito frio, éramos os únicos clientes... logo que chegou a hora peregrina de jantar, ainda não eram 19:30, já estávamos na Taberna do Migaitas, ali bem perto, a servir-nos do belo menú peregrino de 10 euros, com prato, bebida e sobremesa.

Recolhemos aos nossos beliches e metemo-nos bem enrolados dentro dos sacos de dormir, esperando que o tempo melhorasse para o dia seguinte, que assim prometiam os metereologistas.


Links para as restantes etapas:

VM00 - 08.2 Km Sameiro - Braga Albergue Casa da Roda (+ texto introdutório)
VM01 - 21.1 Km Braga - S. Pedro de Goães Albergue (+ links úteis)
VM02 - 31.6 Km S. Pedro de Goães - Ponte da Barca Pensão Gomes (+ notas sobre esta série de trilhos)
VM03 - 23.4 Km Ponte da Barca - Soajo
VM04 - 16.6 Km Soajo - Sra. da Peneda Casa Penedino
VM05 - 26.0 Km Sra. da Peneda - Melgaço D. Isabel
VM06 - 17.3 Km Melgaço - Santiago de Parada de Achas Albergue (O Feirón)
VM07 - 21.5 Km Santiago de Parada de Achas - Santiago de Covelo Casa Costa
VM08 - 24.7 Km Covelo - Estacas Casa Rural D'Agosto
VM09 - 25.7 Km Estacas - Cotobade Casa Rural O Bergando
VM10 - 19.6 Km Cotobade - Campo Lameiro Vivenda Turística Eladio
VM11 - 22.2 Km Campo Lameiro - Cuntis Pensión A Fontiña
VM12 - 22.2 Km Cuntis - Padrón Pensión Flavia
VM13 - 14.5 Km Padrón - Osebe Casa Carolina
VM14 - 14.7 Km Osebe - Santiago de Compostela Hostal La Salle
VM15 - 22.1 Km Santiago de Compostela - Negreira Albergue Alecrín
VM16 - 32.0 Km Negreira - Brandoñas Campamento Turístico Brandoñas
VM17 - 16.9 Km Brandoñas - Berdoias Albergue Via Mariana
VM18 - 19.0 Km Berdoias - Muxía Albergue Bela Muxia
VM global - 389 Km Sameiro - Muxía


Mapa Global da Via Mariana