Travessia Castelhanos x Candonga

TRAVESSIA CASTELHANOS x RIO SAGRADO cruzando de sul a norte o Parque Nacional Guaricana.


RESUMO RÁPIDO: Travessia (50 Km) entre a localidade de Castelhanos (São José dos Pinhais) e a localidade de Rio Sagrado (Morretes) com grande trecho praticamente selvagem, utilizando partes da antiga estrada da Candonga, antiga rota de ligação utilizada por moradores e fazendeiros da área. Travessia realizada em Out/2017.


Percurso de trekking completamente autônomo, em grande parte (33Km, setor sul) realizado em meio à Mata Atlântica, percorrendo antiga trilha, remanescentes de antiga estrada de ligação hoje engolida pela selva. Mescla, ao norte, trecho de 16 km por estradas secundárias de terra e, no trecho final asfalto.
Não arisque a sorte. Se não conhece a região, não se aventure sem companhia de quem conheça a área.


CARACTERÍSTICAS DO TRAJETO:
O acesso rodoviário (sul) até a localidade de Castelhanos é feita pela BR-376, até o trevo de retorno no Km 664. Pelo norte, o acesso rovodoviário é pela BR-277, até o trevo do Rio Sagrado (550m antes da Saída 29 – Morretes e Antonina).
O percurso corta algumas serranias secundárias, como a Serra Preta e a Serra de Castelhanos, e atravessa diversos rios e riachos da região, como Rio Zoador, Rio Arraial, Rio Caçada e Rio Canasvieiras, apenas para citar os principais.
A trilha não é óbvia e tampouco sinalizada. Começa no portão da antiga Fazenda Guaricana, em Castelhanos, e segue em um trecho inicial pelo leito de uma antiga estrada secundária que levava até a sede desta fazenda e depois à antiga base da Polícia Militar Ambiental de Canasvieiras. Mesmo neste trecho sobre o leito de estradas, o terreno é bastante úmido, muito barro e pedregulhos, com a trilha ora sendo engolida pela mata, desviando árvores caídas, desbarrancamentos e vegetação abundante.
Depois da antiga base da PM Ambiental, os rastros praticamente se perdem e a navegação torna-se mais complexa. Mata fechada, facão e diversos trechos “farejando” rastros e abrindo a vegetação no peito. Não recomento fazer este percurso sem bons conhecimentos de navegação terrestre. GPS/GNSS ajuda, mas não resolve todos os problemas, pois é necessário ter domínio das técnicas de progressão em mata fechada.
Os pontos de acampamento são em sua maior parte, pequenas “clareiras” (áreas de mata menos densa) próximas de riachos. Em todo o trecho de mata é possível acampar com rede de selva (melhor recomendação para as circunstâncias locais).
O trecho de mata mais densa, entre os restos da Fazenda J Simões e a Casa da Copel possui água abundante e, na tracklog estão listados os principais pontos de captação de água, em sua maioria de excelente qualidade até mesmo para consumo direto/imediato (sem tratamento prévio).
Além da dificuldade de navegação que o trecho pode apresentar, há que se observar com cuidado a farta existência de ofídios, além de muitos insetos e muitos exemplares de fauna nativa, dos mais variados gêneros.
Depois da Casa da Copel o percurso não oferecerá mais dificuldades técnicas, tratando-se de mera progressão por leito de estrada, inicialmente de terra, e mais ao norte, depois da Igreja S. Francisco de Assis, de asfalto.
A altimetria do percurso, apesar de não deter grandes acumulados, oscila bastante em função das passagens por divisores de água e encostas. O início, na cota 300m vence logo de cara um trecho de aclive de 200m, em 3 trechos seguidos oscilando entre 300 e 500m de altitude. Depois a caminhada evolui num aclive grande e contínuo até a cota 770m seguido por um grande trecho em declive, que despenca gradualmente até a cota 170m (leito do Rio Canasvieiras), para depois galgar novamente até a cota 580 (na altura da Chácara Vô Nadico), onde já é possível captar sinal de celular da maioria das operadoras (testamos Vivo e Claro). Dali até o final, no trevo da Estrada do Rio Sagrado com a BR-277 (cerca de 9 Km) é só descida.


DIFICULDADE:
Dada a altimetria relativamente baixa a trilha é de exigência física mediana e o percurso não apresenta dificuldades técnicas, pois não são exigidas técnicas especiais de progressão, como escalada, escalaminhada, tampouco equipamentos adicionais. Todavia, em razão da distância percorrida, das condições de isolamento (mais de ¾ do percurso sem sinal de celular e sem passar por locais habitados ou próximos da civilização por mais de um dia inteiro) a graduação - calculada segundo classificação baseada no padrão MIDE tropicalizado resulta, adaptada pros padrões Wikiloc nível “somente para experientes”. Utilizando-se os critérios qualitativos prescritos pela FEMERJ (2015) podemos dizer que esta é uma trilha de longo curso.


RECOMENDAÇÕES GERAIS
Como todo percurso em ambiente natural e selvagem, há riscos que devem ser conhecidos e avaliados pelo caminhante - que deve ser capaz (física e tecnicamente) de mitiga-los. Estes riscos incluem: quedas de mesmo nível ou de elevações, ataque de animais peçonhentos (cobras) ou insetos nocivos (aranhas, carrapatos, abelhas, vespas, formigas, etc), vegetação fechada com possibilidade de contato com espinhos e folhas duras, pontiagudas e/ou serrilhadas (irritantes e/ou alergênicas). A combinação destes riscos, variáveis em diferentes épocas do ano, pode resultar em sérias injúrias físicas, incapacitação parcial ou total, temporária ou permanente e até mesmo a morte.

- Recomenda-se SEMPRE o uso de calçado fechado, adequado para trilhas em terrenos acidentados: no caso bota de trekking previamente testada e adaptada aos seus pés, com bom suporte ao tornozelo e calcanhar. Essencial ter consigo equipamentos básicos para qualquer caminhada com pernoite na natureza, como lanterna de cabeça com pilhas sobressalentes (prever uso por pelo menos 3 noites, como segurança), proteção contra chuva e frio – como um poncho ou anoraque e um cobertor aluminizado de emergência, além de comida e demais itens de manutenção suficientes para completar a jornada, que dependendo do ritmo de caminhada pode levar de 2 a 3 dias em média. Recomenda-se portar um apito de emergência e um telefone celular, que deve ter sua carga de bateria preservada para eventuais chamadas de urgência em caso de necessidade.
- Para este trajeto, em especial, recomenda-se a utilização de rede de selva ou similar, para acampamento (evitar abrir clareiras e cortar vegetação além do estritamente necessário para progredir no percurso). Um bom facão, com bainha e material para afiação do mesmo também se mostra essencial, pois muitos trechos exigirão seu uso para o corte de bambuzinhos e cipós do tipo “unha de gato”.


Ao trilhar pela região você também se torna responsável por ela. Lembre-se:
- Você é o principal responsável por sua saúde e segurança. Procure antecipadamente conhecer os riscos e perigos na região da atividade. Na atividade, preste atenção onde pisa, onde senta e onde se segura. Cobras, aranhas e outros insetos potencialmente perigosos são encontrados na área com alguma facilidade e constituem riscos reais em qualquer área natural, especialmente nas estações de primavera e verão.
PRATIQUE O MÍNIMO IMPACTO:
- TRAGA TODO o seu lixo de volta consigo. Se você foi capaz de levar uma embalagem cheia, não vai cair teu braço de trazê-la de volta vazia e dispensá-la corretamente na coleta urbana de lixo. Isso inclui o microlixo e principalmente suas bitucas de cigarro se você possui o hábito de fumar. Uma latinha metálica dessas pastilhas de hortelã tipo Mentos/Kiss com um pedaço de algodão embebido em água dentro é ideal como cinzeiro, e para carregar suas bitucas no retorno à civilização com você!
- NÃO DESMATE, NÃO ARRANQUE plantas tais como árvores, flores e cipós. Também não risque ou marque os caules de árvores, tampouco faça marcas ou pichações em quaisquer superfícies, como em mourões de cercas e outras estruturas que possa encontrar pelo caminho. Esta trilha costuma ficar fechada por taquarinhas, então uma limpeza NESTES pontos e destas espécies é sempre bem-vinda (não sejamos hipócritas), mas não exagere! Evite cortar plantas nativas!
- NÃO faça marcas nas árvores, NÃO coloque fitas ou sinalize partes da trilha, isso só deve ser feito por pessoas qualificadas e dentro de um plano de manejo, com coerência e precisão. Também NÃO danifique eventual sinalização existente;
- NÃO FAÇA FOGUEIRAS - toda a área é coberta por legislação de proteção ambiental e pode ficar sensível a incêndios, especialmente no inverno, quando tudo fica muito mais seco. EVITE ao máximo FUMAR na área e, se o fizer já sabe: não descarte suas bitucas no chão - apague-as com água e traga junto com todo o seu lixo;
- FAÇA SILÊNCIO e desfrute da natureza como ela é, inclusive seus sons característicos – que não incluem qualquer estilo musical (por mais que você goste) e tampouco as incríveis vocalizações de bípedes como nós;
- Necessidades fisiológicas devem ser feitas longe de cursos d'água (pelo menos a 50m de distância). Dejetos sólidos devem ser enterrados e o papel higiênico trazido de volta com seu lixo;
- NÃO POLUA A ÁGUA das nascentes existentes na região: em seus eventuais banhos de rio, não use sabonetes e outros cosméticos e observe antes a remoção total dos resíduos de filtro solar, cremes e/ou repelentes aplicados sobre a pele. LAVE-SE ANTES, FORA E LONGE DO RIO com uma garrafa para remover estes resíduos, sem lançar esta água usada diretamente no rio novamente. Estes produtos são altamente contaminantes e aquelas são águas que você mesmo e outros usarão para beber adiante. NÃO LAVE PANELAS ou mesmo descarte restos de comida nos riachos;
Agindo desta forma você não se coloca em risco e nem a outras pessoas, como seus próprios companheiros de caminhada ou ainda terceiros que poderiam ser acionados para um eventual resgate, além de contribuir para a preservação do local e da região como um todo, mantendo-os belos e interessantes aos que por ali irão passar depois de você. RESPEITE!


"A natureza também pertence aos que ainda estão por vir"
Boas trilhas!