Activity

Subida ao Pico [Açores - Pico]

Download

Trail photos

Photo ofSubida ao Pico [Açores - Pico] Photo ofSubida ao Pico [Açores - Pico] Photo ofSubida ao Pico [Açores - Pico]

Author

Trail stats

Distance
6.44 mi
Elevation gain
3,517 ft
Technical difficulty
Very difficult
Elevation loss
3,517 ft
Max elevation
7,732 ft
TrailRank 
41
Min elevation
4,108 ft
Trail type
Loop
Time
8 hours 25 minutes
Coordinates
2246
Uploaded
October 20, 2018
Recorded
September 2018
Share

near Prainha do Galeão, Açores (Portugal)

Viewed 1111 times, downloaded 36 times

Trail photos

Photo ofSubida ao Pico [Açores - Pico] Photo ofSubida ao Pico [Açores - Pico] Photo ofSubida ao Pico [Açores - Pico]

Itinerary description

Bom, começo este registo por dizer que o Pico sempre foi para mim um local fantástico, como que de outro planeta ou universo paralelo, e, portanto, inalcançável. Daquelas coisas que nunca pensamos muito bem nelas, mas quando pensamos é como se fosse algo saído de um livro de Júlio Verne ou de um filme de Méliès.
Tudo isso mudou há uns anos devido a dois fatores: o facto de a minha irmã ter vindo viver para os Açores, que me aproximou de uma região até então desconhecida, e a descoberta do geocaching, que hoje faz parte do meu modo de vida.
Com estes dois elementos em cena, começou a formar-se na minha mente a remota possibilidade de um dia vir a concretizar este sonho etéreo.
Com o passar dos anos, e com o aumento exponencial da minha paixão pela caminhada e pela montanha, a imagem do Pico começou a formar-se mais nitidamente no meu horizonte, até que no dia em que subi ao pico da Vara com a minha irmã, decidi que chegara a hora de deixar as palavras e passar aos atos, estabelecendo uma meta concreta para a subida ao ponto mais alto de Portugal. Felizmente que Timor Leste, Angola e Moçambique já não são territórios nossos, caso contrário teria certamente de aguardar mais uns anos para poder dizer o mesmo.

O ano passado, depois de um período difícil com a mais-que-tudo, decidi que seria uma boa oportunidade para tentar a subida ao Pico e pernoitar na cratera, como uma forma de comemorar a vitória de uma batalha na vida com uma outra vitória, esta mais simbólica.
Infelizmente, e apesar de a montanha ter colaborado com o tempo, não foi possível concretizar esse objetivo e tivemos de desistir a meio. Mas para mim foi apenas um "até já", pois já me tinha decidido e fá-lo-ia por nós dois.
Desta vez, na companhia da minha irmã, que também nunca subira lá acima, planeámos as coisas e marcámos três dias inteiros para tentar a subida.
Este seria o primeiro, e quis o destino que fosse precisamente hoje que faríamos a ascensão.
Acordámos às 4h30 e vimos que o tempo estava bom, como indicara a previsão no dia anterior.
O ano passado, por esta altura, sentia um friozinho na barriga, mas este ano nem tanto. Como já tinha estado na montanha, o lugar do nervosismo foi ocupado por uma grande serenidade e uma confiança inabalável de que seria hoje.

Às 5h20, chegámos à Casa da Montanha. Não havia nenhum carro cá fora, não havia luzes, não havia ninguém.
Fiquei confuso. Será que nos tinha escapado alguma coisa? Fomos bater à porta e foi aí que vi uma luzinha lá dentro. Afinal, a porta estava aberta, mas ainda não tinha chegado ninguém hoje para subir e parece que o rapaz passou pelas brasas.
Mais aliviados, preparámos as coisas e fomos fazer a inscrição. Às 5h45, já com a lanterna na cabeça, o material de segurança e o equipamento confirmados, iniciámos a epopeia, com a montanha toda para nós.
O trajeto até ao marco 2 fez-se em ritmo acelerado. A adrenalina era muita e perde-se um pouco a noção das dificuldades e da distância, ainda por cima de noite. Além disso, a mente ainda está muito focada e com atenção a tudo, o que relativiza ainda mais o tempo. A partir do marco 2, ainda faltava uma hora para o nascer do Sol, mas o céu já tinha um pouco de luz, a juntar à da Lua, que estava bem acima de nós. Além destas luzes, viam-se as da Madalena ao fundo, as da Horta no Faial e as de São Mateus e São Caetano à direita. Com o esforço inicial, nem se tem muito bem a noção do que nos envolve, mas a pouco a pouco, começamo-nos a aperceber da paisagem, do gigantismo que se desenha à nossa frente e das pernas que já andam e trepam quase por elas próprias.
Íamo-nos aproximando do topo, até que chegámos ao marco 26, onde eu havia voltado para trás o ano passado. A partir daí, era terreno desconhecido. Mas nem tanto, porque a marca desta montanha tinha ficado bem vincada em mim, e foi como se não tivesse havido hiato entre estes dois momentos.
A mana vinha a subir bem, mas embora quisesse deixá-la passar a sua própria experiência, estava sempre de olho, tentando ajudar sempre que a via com maiores problemas.
Quando o Sol nasceu, estávamos no último terço do trilho, mas víamos apenas a sombra imensa da montanha sobre o Faial e o mar, com uma paisagem incrível onde se via um manto de nuvens que chocava contra o Cabeço Gordo e se elevava como um rio se eleva sobre um rochedo.
Com a parte mais difícil para trás, entre os marcos 26 e 36, chegámos a uma parte mais fácil que contorna a parte lateral da montanha, até conseguirmos ver a parte leste da ilha, com vista para as Lajes e a Ponta da Ilha, já com o astro rei acima do horizonte e uma luz a que nenhuma fotografia poderá fazer jus.
Vi o Piquinho pela primeira vez às 9h30.
Ao longo destes anos, não me esforcei muito para ver fotos e vídeos do topo do Pico. Queria guardar alguma surpresa para quando ali chegasse, sem ver esta paisagem assombrosa pelos olhos de outros.
Foi com um misto de solenidade e de espanto que cheguei à cratera, vendo efectivamente aquele cenário pela primeira vez, com aquelas paredes enormes e o Piquinho, imponente, de aspeto autoritário, como que a dizer "Ainda te falta venceres estes 70 metros."
Confesso que não sei explicar muito bem a sensação de estar ali, sem nuvens, a contemplar toda aquela paisagem.
Pode-se dizer que é realmente uma experiência espiritual, de tão transcendental, que nos assola todos os sentidos. Chegar ali, aos 40 anos de idade, faz-nos pensar que vale a pena subir montanhas para vermos as coisas com outras perspectivas, com outro olhar e crescer com isso.
Pouco depois, chegou a mana. Ficámos ali um pouco em silêncio, pois ainda éramos os únicos na cratera, tirámos algumas fotos e descemos até ao último marco, o 46, já no início da subida para o Piquinho. Fizemos um pequeno lanche e avançámos até ao topo de Portugal. Os últimos metros intimidam um pouco à primeira vista, pois a subida é realmente mais íngreme que todo o trajeto até ali, mas não é nada de impeditivo para quem ainda tem força nas pernas e nos joelhos (e não tem medo de alturas).
Pé aqui, mão acolá, puxa daqui, estica dali, a ajudar a mana sempre que precisava, e chegámos ao topo, 2351 metros de pura felicidade e realização.
Eram 10h15. A sensação que se tem quando se chega ali multiplica-se e as palavras tornam-se escassas e infacundas para descrever o que se sente naquele momento. A mana chegou pouco depois, com as pernas a tremer devido às vertigens, mas isso não a demoveu, e chegou ao marco, vitoriosa.
O vento uivava forte, o nevoeiro fez as suas primeiras aparições, mas logo se dissipou.
Muitas fotografias depois, lembrei-me que havia uma cache para encontrar. Desci do pico, contornei uma furna quentinha e com um ligeiro odor a enxofre e, com a dica em mente, não tardei a dar com o contentor. Uma cache GC6, já com mais de 14 anos, nomeada aos Prémios GPS e no Top 500 de favoritos em Portugal. Não haverá certamente muitas como esta.

Fotos e mais fotos, decidimos descer. Foi aí que chegaram as primeiras pessoas à cratera. Quando chegaram ao cimo do Piquinho, deixámos o lugar e descemos calmamente, até à orla.
A descida, fi-la sempre com dores no joelho esquerdo, mas, felizmente, o direito aguentou-se e consegui descer sem cair nenhuma vez, o que já foi muito bom. Aproveitava as paragens para fotografar sempre que podia e tentar congelar ao máximo aquela paisagem estonteante na minha memória, sempre com sol e sem qualquer vento.
A chegada à Casa da Montanha aconteceu às 15h10, com as pernas cansadas, o joelho heroico e a alma a transbordar de felicidade.
No total, foram cerca de 9h30 na montanha, horas que nem parecem ter passado, tal foi a emoção com que foram vividas.

Cumpri um sonho, que me deixa orgulhoso, mas também me faz querer mais. Querer repetir aquela sensação de superação, a sensação indescritível que é ver algo inimaginavelmente belo. Estou certo de que não foi um adeus, mas um "até um dia".
Agradeço à montanha, por nos ter permitido fazer esta aventura épica com um tempo maravilhoso, à minha irmã, por me ter acompanhado e ajudado a realizá-la, e à minha mais-que-tudo, que me apoiou e me incentivou mesmo depois de não o termos conseguido juntos.

Realizado dia 28 de setembro, 2018

Dificuldade [★★★★★]
Beleza cénica [★★★★★]
Satisfação final [★★★★★]

Comments

    You can or this trail