Serra do Alvão: De Quintelas, Agarez, Galegos da Serra e Arnal ao Planalto do Vaqueiro
near Agarez, Vila Real (Portugal)
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A nossa ideia na empreitada de hoje era explorar mais do Parque Natural do Alvão, as povoações mais rurais na parte Sudeste do Parque: começar em Quintelas, Agarez, Galegos da Serra, Arnal, Sirarelhos e voltar novamente a Quintela para fazer um trilho circular.
Tivemos que segurar o nosso desapontamento pelo caminho de carro até ao Alvão porque apanhamos um nevoeiro cerrado o caminho todo, tão cerrado que dificilmente iria levantar. Não chovia, o que já não estava mal mas o nevoeiro estragava os planos para ir ao Alto do Vaqueiro que está a 1320 metros de altitude.
Em Quintelas, deixamos o carro e o tempo não estava nada mal. Tudo muito verdinho em consequência de ter chovido nos últimos dias. Começamos a subir por um caminho empedrado, uma calçada, até ao 3,6km altura que chegamos a uma ponte com um moínho da Ribeira de Arnal. Subimos uma ladeira á direita da Ribeira até a um miradouro sob Vila Real, que já se deixava ver. Ficamos todos contentes pelo nevoeiro estar a dissipar-se. Continuamos a subir até á Cascata de Galegos da Serra, lindíssima. Depois de milhentas fotos, continuamos até um lugar de Galegos da Serra onde depois de atravessar a Ribeira por cima de umas pedras, atravessamos os campos verdejantes e entramos numa parte mais montanhosa, com a visão de paredes rochosas (que mais parecia o Gerês!) á nossa frente. Esta parte mais rochosa do caminho levou-nos a Arnal. Um caminho antigo que liga a aldeia de Galegos da Serra e Agarez a Arnal, um caminho de pé posto alagado pelas chuvas dos últimos dias e pelos vários riachos que existem. Tinha lido que Arnal é a aldeia mais escondida, recatada e preservada, uma pêrola do Alvão e confirmamos!
Continuámos a subir com o objectivo de ir ao Planalto do Vaqueiro por uns carreiros estreitos da montanha, já com florezinhas de curcuma aos pés a anunciar a Primavera cada vez mais próxima. Dava gosto olhar para trás e ver a pequena aldeia de Arnal encaixada no fundo com o casario em granito e telhados em lousa e os lameiros verdes á volta e uma parede granítica ao lado.
Ao km8.9 começou-nos a correr mal. Nós estavámos a seguir um trilho de 2016 para ir ao Vaqueiro. Entretanto a vegetação cresceu e impossibilitou a progressão. Ainda teimámos em avançar até um pinheiral alto e isolado mas só nos embrenhámos mais nos tojos. A solução foi procurar o mais reto possível o estradão, abortando a recta até cima. Ainda ponderamos ir ao Alto do Vaqueiro e ás eólicas pelo estradão mas ainda havia nevoeiro no topo, acima de nós. Não valia a pena ir. De modo que apesar de incentivar qualquer pessoa que me estiver a ler a fazer este trilho, aconselho a cortar o trecho que vai do km8.9 até ao km10. E ir sempre pelo estradão ao km8.9. Ou então, onde existe a tabuleta para a Barragem ir por aí e fazer uma volta mais por cima do pinheiral e ir ter á 1ª eólica.
Depois desta peripécia com os tojos começamos a descer em direção a um carvalhal que desde cima nos enchia o olho. Tem que se passar por duas cancelas, abrir e deixá-las fechadas para entrar no bosque encantado de carvalhos e muros cheios de musgo e a ribeira ao nosso lado direito a correr. Foi um dos pontos altos do nosso percurso.
Voltamos a Galegos da Serra e a Sirarelhos, novamente a um ambiente rural e agricola. Encantamos-nos pelos campos em socalcos "á lá Sistelo". Numa tentativa de ver melhor os socalcos de cima a baixo, ao km18.4, fizemos um desvio para dentro e subimos a um pedregulho e tivemos a surpresa de uma série de quedas de água da Ribeira do Arnal. Surprendente.
Novamente chegamos a Quintelas, onde tinham ficado os carros, sempre com a vista de Vila Real e da sua ponte a acompanhar-nos.
O trilho não é difícil. Para seguir o nosso traçado é preciso GPS porque não é um trilho marcado. Havemos de voltar para ir ao Alto do Vaqueiro de outra forma. Todo o trilho é de enorme beleza.
"A aldeia de Arnal protagoniza uma das mais lindas lendas do distrito de Vila Real, a do Calhau Encantado, ou Penedo Negro, como alusão ao maciço granitico que junto à aldeia, devota de Nossa Senhora do Rosário, se ergue de forma muito imponente.
Reza esta lenda, citando Joaquim Alves Ferreira no seu livro "Lendas e Contos Infantis" (1999), que: "Lá bem no alto da serra, junto da povoação de Arnal, ergue-se um descomunal fragão, chamado Penedo Negro e também A Capela, por ter um recorte em forma de portão de igreja, forrado de musgo verde e macio.
Os pastores e os viandantes olhavam-no com curiosidade e receio e passavam lá com o credo na boca, pois havia quem dissesse que, à meia noite, lá dentro, se ouvia um cantar muito triste e arrastado de mulher que, no entanto, ninguém conseguia ver.
Mas, certa madrugada, ainda com estrelas no céu, passou por lá um aldeão, recoveiro de oficio, que ia à Bila fazer compras, como de costume.
Mal entrou nas portas da Bila, tratou de mercar a bola de quatro cantos, não fosse o pão acabar cedo, pois era dia de feira. Só depois iniciou as outras voltas. Apreçou, aqui e ali, a mercadoria e fez as compras para si e para os vizinhos.
Enfiou o alforje no grosso varapau de marmeleiro apoiado sobre o ombro e pôs-se a caminho de casa, já com o sol a baixar para trás da serra.
E, como não tinha comido nada, pois comer na estalagem é um roubo, e a jornada era longa e penosa, sentiu uma vontade irresistível de comer. Mas comer o quê, se só levava a bola de quatro cantos e a Senhora lhe recomendara tanto que a levasse bem inteirinha? E depois ia perder toda aquela riqueza que a Senhora prometera dar-lhe? Pôs de parte aquela ideia maluca e continuou a caminhar.
Mas um pouco a cima de Agarez, avistou uma fonte gorgolejante que o convidava a matar a sede e a descansar.E, como à fome e à sede ninguém resiste, resolveu parar, pensando lá com os seus botões:
- É certo que prometi à Senhora levar a bola inteira e eu não sou homem de faltar à palavra. Mas, como diz o outro, a fome não tem lei. Vou comer só um canto e levo-lhe os outros três. A Senhora pareceu-me tão boazinha... há-de compreender e perdoar.
E, se bem o pensou, melhor o fez. Sentou-se à beira da fonte, pôs o alforje no chão, comeu o canto da bola e bebeu uma tarraçada de água fresca. Depois, já reconfortado, retomou a subida da encosta.
E justamente quando ladeava o esfíngico penedo, ouviu um ruído surdo semelhante ao ranger de gonzos de pesado portão.
Com os cabelos eriçados, olhou para o sítio donde viera o ruído estranho e deu com os olhos numa Senhora muito linda, de sorriso triste mas encantador, como nunca tinha visto, que lhe disse com voz meiga:
- Não tenhas medo e presta bem atenção ao que vou dizer-te. Eu sou uma moura encantada e tenho tanto oiro que não há balanças que o possam pesar.
Pois todo este oiro será teu e eu própria irei para tua casa e casarei contigo, se conseguires desencantar-me. Para que isso aconteça, traz-me da Bila uma bola de quatro cantos. Mas toma bem sentido: não a "encertes" por nada deste mundo; se não, dobras-me o encanto.
Dito isto, desapareceu no interior do Penedo Negro e a porta voltou a fechar-se como se abriu.
O bom recoveiro, muito surpreendido com aquela inesperada aparição, retomou a jornada, serra abaixo, sempre a repetir as palavras da linda Senhora que não lhe saía do pensamento.
Ao chegar junto do Penedo Negro, bateu com a ponta do varapau. A porta abriu-se rapidamente e a Senhora reapareceu, mas agora com o semblante carregado, e disse-lhe com ar severo:
Em cavalo de três pernas,
Contigo não posso ir.
Fecha-te, porta de pedra,
Para nunca mais te abrir.
E desapareceu, enquanto o Diabo esfrega um olho, atrás da porta de pedra, para sempre.
O pobre do homem, com os três cantos da bola na mão e o alforje das compras ao ombro, partiu, desalentado, para a sua aldeia, onde passou o resto da existência, a lamentar a tentação de comer da bola de quatro cantos, e a calcorrear os caminhos da serra para ganhar a vida.
E a Senhora linda lá continua encantada, com os seus tesouros fabulosos, no Penedo Negro, a que os povos da serra, por essa razão, também chamam Calhau do Encanto.
Esta aldeia é o termino de um dos mais belos percursos pedestres referenciados, que os amantes da natureza e da paisagem percorrem regularmente. Foi um importante centro de povoação em tempos anteriores, albergando uma das poucas escolas da freguesia." Parque Natural do Alvão
Tivemos que segurar o nosso desapontamento pelo caminho de carro até ao Alvão porque apanhamos um nevoeiro cerrado o caminho todo, tão cerrado que dificilmente iria levantar. Não chovia, o que já não estava mal mas o nevoeiro estragava os planos para ir ao Alto do Vaqueiro que está a 1320 metros de altitude.
Em Quintelas, deixamos o carro e o tempo não estava nada mal. Tudo muito verdinho em consequência de ter chovido nos últimos dias. Começamos a subir por um caminho empedrado, uma calçada, até ao 3,6km altura que chegamos a uma ponte com um moínho da Ribeira de Arnal. Subimos uma ladeira á direita da Ribeira até a um miradouro sob Vila Real, que já se deixava ver. Ficamos todos contentes pelo nevoeiro estar a dissipar-se. Continuamos a subir até á Cascata de Galegos da Serra, lindíssima. Depois de milhentas fotos, continuamos até um lugar de Galegos da Serra onde depois de atravessar a Ribeira por cima de umas pedras, atravessamos os campos verdejantes e entramos numa parte mais montanhosa, com a visão de paredes rochosas (que mais parecia o Gerês!) á nossa frente. Esta parte mais rochosa do caminho levou-nos a Arnal. Um caminho antigo que liga a aldeia de Galegos da Serra e Agarez a Arnal, um caminho de pé posto alagado pelas chuvas dos últimos dias e pelos vários riachos que existem. Tinha lido que Arnal é a aldeia mais escondida, recatada e preservada, uma pêrola do Alvão e confirmamos!
Continuámos a subir com o objectivo de ir ao Planalto do Vaqueiro por uns carreiros estreitos da montanha, já com florezinhas de curcuma aos pés a anunciar a Primavera cada vez mais próxima. Dava gosto olhar para trás e ver a pequena aldeia de Arnal encaixada no fundo com o casario em granito e telhados em lousa e os lameiros verdes á volta e uma parede granítica ao lado.
Ao km8.9 começou-nos a correr mal. Nós estavámos a seguir um trilho de 2016 para ir ao Vaqueiro. Entretanto a vegetação cresceu e impossibilitou a progressão. Ainda teimámos em avançar até um pinheiral alto e isolado mas só nos embrenhámos mais nos tojos. A solução foi procurar o mais reto possível o estradão, abortando a recta até cima. Ainda ponderamos ir ao Alto do Vaqueiro e ás eólicas pelo estradão mas ainda havia nevoeiro no topo, acima de nós. Não valia a pena ir. De modo que apesar de incentivar qualquer pessoa que me estiver a ler a fazer este trilho, aconselho a cortar o trecho que vai do km8.9 até ao km10. E ir sempre pelo estradão ao km8.9. Ou então, onde existe a tabuleta para a Barragem ir por aí e fazer uma volta mais por cima do pinheiral e ir ter á 1ª eólica.
Depois desta peripécia com os tojos começamos a descer em direção a um carvalhal que desde cima nos enchia o olho. Tem que se passar por duas cancelas, abrir e deixá-las fechadas para entrar no bosque encantado de carvalhos e muros cheios de musgo e a ribeira ao nosso lado direito a correr. Foi um dos pontos altos do nosso percurso.
Voltamos a Galegos da Serra e a Sirarelhos, novamente a um ambiente rural e agricola. Encantamos-nos pelos campos em socalcos "á lá Sistelo". Numa tentativa de ver melhor os socalcos de cima a baixo, ao km18.4, fizemos um desvio para dentro e subimos a um pedregulho e tivemos a surpresa de uma série de quedas de água da Ribeira do Arnal. Surprendente.
Novamente chegamos a Quintelas, onde tinham ficado os carros, sempre com a vista de Vila Real e da sua ponte a acompanhar-nos.
O trilho não é difícil. Para seguir o nosso traçado é preciso GPS porque não é um trilho marcado. Havemos de voltar para ir ao Alto do Vaqueiro de outra forma. Todo o trilho é de enorme beleza.
"A aldeia de Arnal protagoniza uma das mais lindas lendas do distrito de Vila Real, a do Calhau Encantado, ou Penedo Negro, como alusão ao maciço granitico que junto à aldeia, devota de Nossa Senhora do Rosário, se ergue de forma muito imponente.
Reza esta lenda, citando Joaquim Alves Ferreira no seu livro "Lendas e Contos Infantis" (1999), que: "Lá bem no alto da serra, junto da povoação de Arnal, ergue-se um descomunal fragão, chamado Penedo Negro e também A Capela, por ter um recorte em forma de portão de igreja, forrado de musgo verde e macio.
Os pastores e os viandantes olhavam-no com curiosidade e receio e passavam lá com o credo na boca, pois havia quem dissesse que, à meia noite, lá dentro, se ouvia um cantar muito triste e arrastado de mulher que, no entanto, ninguém conseguia ver.
Mas, certa madrugada, ainda com estrelas no céu, passou por lá um aldeão, recoveiro de oficio, que ia à Bila fazer compras, como de costume.
Mal entrou nas portas da Bila, tratou de mercar a bola de quatro cantos, não fosse o pão acabar cedo, pois era dia de feira. Só depois iniciou as outras voltas. Apreçou, aqui e ali, a mercadoria e fez as compras para si e para os vizinhos.
Enfiou o alforje no grosso varapau de marmeleiro apoiado sobre o ombro e pôs-se a caminho de casa, já com o sol a baixar para trás da serra.
E, como não tinha comido nada, pois comer na estalagem é um roubo, e a jornada era longa e penosa, sentiu uma vontade irresistível de comer. Mas comer o quê, se só levava a bola de quatro cantos e a Senhora lhe recomendara tanto que a levasse bem inteirinha? E depois ia perder toda aquela riqueza que a Senhora prometera dar-lhe? Pôs de parte aquela ideia maluca e continuou a caminhar.
Mas um pouco a cima de Agarez, avistou uma fonte gorgolejante que o convidava a matar a sede e a descansar.E, como à fome e à sede ninguém resiste, resolveu parar, pensando lá com os seus botões:
- É certo que prometi à Senhora levar a bola inteira e eu não sou homem de faltar à palavra. Mas, como diz o outro, a fome não tem lei. Vou comer só um canto e levo-lhe os outros três. A Senhora pareceu-me tão boazinha... há-de compreender e perdoar.
E, se bem o pensou, melhor o fez. Sentou-se à beira da fonte, pôs o alforje no chão, comeu o canto da bola e bebeu uma tarraçada de água fresca. Depois, já reconfortado, retomou a subida da encosta.
E justamente quando ladeava o esfíngico penedo, ouviu um ruído surdo semelhante ao ranger de gonzos de pesado portão.
Com os cabelos eriçados, olhou para o sítio donde viera o ruído estranho e deu com os olhos numa Senhora muito linda, de sorriso triste mas encantador, como nunca tinha visto, que lhe disse com voz meiga:
- Não tenhas medo e presta bem atenção ao que vou dizer-te. Eu sou uma moura encantada e tenho tanto oiro que não há balanças que o possam pesar.
Pois todo este oiro será teu e eu própria irei para tua casa e casarei contigo, se conseguires desencantar-me. Para que isso aconteça, traz-me da Bila uma bola de quatro cantos. Mas toma bem sentido: não a "encertes" por nada deste mundo; se não, dobras-me o encanto.
Dito isto, desapareceu no interior do Penedo Negro e a porta voltou a fechar-se como se abriu.
O bom recoveiro, muito surpreendido com aquela inesperada aparição, retomou a jornada, serra abaixo, sempre a repetir as palavras da linda Senhora que não lhe saía do pensamento.
Ao chegar junto do Penedo Negro, bateu com a ponta do varapau. A porta abriu-se rapidamente e a Senhora reapareceu, mas agora com o semblante carregado, e disse-lhe com ar severo:
Em cavalo de três pernas,
Contigo não posso ir.
Fecha-te, porta de pedra,
Para nunca mais te abrir.
E desapareceu, enquanto o Diabo esfrega um olho, atrás da porta de pedra, para sempre.
O pobre do homem, com os três cantos da bola na mão e o alforje das compras ao ombro, partiu, desalentado, para a sua aldeia, onde passou o resto da existência, a lamentar a tentação de comer da bola de quatro cantos, e a calcorrear os caminhos da serra para ganhar a vida.
E a Senhora linda lá continua encantada, com os seus tesouros fabulosos, no Penedo Negro, a que os povos da serra, por essa razão, também chamam Calhau do Encanto.
Esta aldeia é o termino de um dos mais belos percursos pedestres referenciados, que os amantes da natureza e da paisagem percorrem regularmente. Foi um importante centro de povoação em tempos anteriores, albergando uma das poucas escolas da freguesia." Parque Natural do Alvão
Waypoints
Waterfall
2,618 ft
Quedas de água da Ribeira do Arnal
Demos com esta visão por um acaso. Estávamos a tentar ver melhor os socalcos, desde o fundo. É imperdível.
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