A grande Falha Cársica do Reguengo do Fetal
near Reguengo do Fetal, Leiria (Portugal)
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Itinerary description
Rua das Sete Ruas com simplicidade a batizou o povo com a razão de o ser. Não as contamos e, com a vontade de enfrentar as encostas que nos esperam, caminhamos com olhos em frente e passo acelerado. Na Rua dos Faiais, onde nem uma faia vi que existisse, por aqui acabam as habitações quando, ao lado de geminados sobreiros, cortamos para piso de terra. Um monolito chanfrado no tempo diz a quem passa que nele se apoiava o varal da picota ou cegonha que muita água tirou para irrigar as hortas aqui próximas que apenas conseguimos imaginar. Do outro lado, a velha eira já se esqueceu do grão e do malho.
Subimos agora. Uma corda ladeia o caminho facilitado pelos degraus rústicos e sombreado por lindos sobreiros. À direita só na recordação ouvimos o ruído e vemos a água cascateando na ribeira agora seca.
Chegamos ao Buraco Roto. Os tons ocres e avermelhados das bocas da terra tentam-nos a entrarmos. Estamos já habituados a estas tentações. Entramos e, de lanternas acesas, apreciamos e sentimos a beleza que se esconde na gruta intestina. Vamos até onde podemos nesta sensação de quem se entranha na mãe terra e comunga do seu íntimo.
Saímos e temos agora à frente o buraco que se diz roto. Enventual reminiscência de outra galeria, é este "arco" de uma infinda beleza. Vitoriosos de feitos ainda por fazer pelo "arco triunfal" passamos subindo.
A encosta íngreme vai-nos revelando a beleza da povoação que no vale se estende e sobe ao outeiro defronte. Lá em cima estão o Santuário de Nossa Senhora do Fetal e o campo onde se vão semeando os corpos que as almas deixaram sem vida na terra e se encontram sob a proteção da Santa da sua devoção.
Aqui contrariamos a sinalização do trilho e, à esquerda, vamos descendo pelo carreiro por onde outrora subiam os peregrinos de Fátima. Entramos na EN-356 para dela sairmos uma centena de metros adiante e subir na direção da velha e desativada pedreira. Olhamos com pena a ferida na serra que não viu completada a cura prometida. Seguros estamos de que a natureza encontrará forma de remediar as chagas que a necessidade humana vai fazendo e esquecendo de desfazer.
Ali em cima, à nossa esquerda, o grande painel de 92m2 convida-nos a voar numa companhia aérea extinta desde Dezembro de 1991. É em azulejo manufaturado na conceituada fábrica Aleluia de Aveiro que nasceu como fábrica de louça em 1905. Chegamos junto dele. A dimensão impressiona e impressiona também o seu avançado estado de degradação. Parte dos 4000 azulejos que o compunham jaz em pequenos cacos no chão e a estrutura de cimento mostra já o enferrujado esqueleto. Então não foi considerado "de interesse municipal" e proposto à classificação de monumento?... então não foi manifestado o interesse da PAN AM Foundation em que se preservasse por ser icónico e só existir outro idêntico?... tanta treta, meu Deus!...
Seguimos a meia encosta por um carreirinho aberto um dia por associação da zona para evento pedestre que os fanáticos do btt nunca deixaram que se apagasse. A paisagem é belíssima para quem caminha, para quem pedala passa despercebida decerto. Estou grato a quem teve a ideia e a levou a cabo.
Chegamos ao "Baloiço da Barrosinha". Instangramável, diz-se. Custa-me a aceitar a plantação destes equipamentos por tudo o que é monte e miradouro. Não preciso balançar-me para serenamente apreciar esta paisagem, há muito que o faço em pé ou sentado encostado a uma das rochas calcárias que aqui abundam.
Em carreiro paralelo mas em nível superior seguimos agora em sentido contrário enchendo de novo os olhos com a beleza que se nos oferece. Atravessamos um pouco do parque eólico "Chão de Falcão II" e subimos ao geodésico do Caramulo. 360° de deslumbramento!... a Torre da Magueixa, o Vale da Pedreira, a Maúnça, o Marouço... tudo aqui tão perto. Ao longe as terras da Maceira e da Marinha... ainda mais longe a Serra da Boa Viagem... o mar lá ao fundo a ocidente... a sudoeste vê-se até à Serra dos Mangues... a sul os Candeeiros e Santo António... é lindo tudo o que daqui se avista.
Descemos com cheiro a alecrim e escutando o gemido do vento cortado pelas pás do gigante aerogerador. São 2,3 MW de potência nominal... perco-me nas contas que mentalmente tento fazer para saber em quanto tempo gastaria a energia gerada por este gigante em apenas uma hora de bom vento.
Chegamos à Pedreira do Caramulo que investigadora da sua e de outras histórias batizou de "Reguengo II". O meu pensar segue rumos de história. Quanta pedra ofereceu este pouco de serra à construção do belo monumento gótico?... quantas calegadas mãos aqui trabalharam cortando pelo visível espinhado, com longos picões de aço, num contínuo martelar extraindo pedras que entregues à imaginação dos canteiros delas fizeram emergir as belíssimas obras que não cansamos de admirar?... quantos bois levaram, suando serra abaixo, os carros chiando com os grandes blocos que mais que um dia levavam a chegar à monumental obra?...
Da pedreira saímos e da serra descemos em direção aos moinhos do Alto do Reguengo.
O pequeno carreiro, por pés de burros e moleiros feito, que nos trazia a este belo lugar, desapareceu. Uma máquina impiedosa abriu um largo caminho descaracterizando o que à memória do povo pertencia. Como dizer agora a nossos filhos e/ou netos "por este carreiro passava o moleiro e o burro"?... pena já não vale e a história desaparece. Haveria necessidade?...
Os velhos moinhos aqui estão, testemunhas do passado que gentes e tempo hão de esquecer. A paisagem, essa não esquecerão meus olhos.
Procuramos descer entre carrascos e moitas a abrupta encosta. Não é fácil mas cá vamos.
Passamos as Alminhas e a prece sai da alma em silêncio. Desde que a porta está aberta parece-me que tem sido menos vandalizada.
Do outro lado da proteção da estrada seguimos a EN-356. À esquerda a III Estação da Via Sacra, "Jesus cai pela 1ª vez" e eu distraído tropeço e quase O emito na queda.
Chegamos ao Alto do Rebelo. Entre a vegetação existe um belo Cruzeiro em calcário que, segundo o que no verso está escrito, a freguesia decidiu erigir no ano 40 do passado século para comemorar os 300 anos da Restauração da Independência. Um cruzeiro que nada de religioso evoca deixa-me a pensar. Talvez tente saber, junto de quem sabe, se mais história há sobre a real motivação deste monumento.
Começamos a descer para o Malhadouro. Estamos em plena falha cársica do Reguengo do Fetal. Descida íngreme e difícil que estruturas em madeira amenizam. Recordo a primeira vez que aqui passei. Poucas eram as ajudas e subi "a quatro".
Uma algaraviada à nossa esquerda leva-me a parar para constatar mais que perceber do que se trata: Um grupo de jovens apoiam e instruem dois outros que a escarpa escalam. O Vale do Malhadouro, que continua pelo da Quebrada até ao Planalto de São Mamede, parece-me ter configuração Flúvio-cársica mas os meus humildes conhecimentos de geotectónica não me permitem afirmá-lo.
Subimos um pouco e entramos na lapa da Pia da Ovelha. Com o calor que faz e ao tempo que o faz, não contava ouvir o "ping... ping" da água a cair na pia, agora transformada em "lago esotérico" com velinhas e flores a boiar, mas ouve-se. Um "altar sacrificial" há muito aqui existe. Sempre me quedei impressionado com a quantidade de "cerebróides" neste bloco incrustados e com cimento bem fixos. São nódulos siliciosos Chérticos, datados do Bajociano, típicos da zona de Chão das Pias, que pela forma e o aspeto fazem lembrar a massa encefálica. Na natureza se desagregaram do calcário onde embutidos nasceram para aqui terem sido, por mão humana, reembutidos no cimento. Não tendo aqui nascido foram trazidos com desconhecida intenção e/ou devoção que me não atrevo a comentar e menos ainda a criticar.
Descemos com cuidado porque a descida é demasiado perigosa para descuidos.
Subimos já a Serra da Andorinha em direção ao Alto do Poio. Olhamos para trás apreciando a monumentalidade da "Pia da Ovelha". Obras de Deus agradecem-se no íntimo do coração. Bem Hajas, Senhor!
Alguém há pouco batizou esta parte de "Trilho da Pedreira", ainda que discorde porque "Trilho do Cabeço do Poio" seria mais apropriado, vejo-me a meio caminho na incoerência de seguir mesmo pela velha pedreira que jaz abandonada ali à entrada do Vale da Quebrada. Percorremos um dos balcões onde máquinas e homens esventraram a montanha. No meu espírito é tanta a mistura de emoções que não consigo descrever. A ferida para aqui está purulenta sem que haja quem a cure.
Quem aqui passa deve ter consciência dos riscos que tal ação acarreta. Olho à volta e meditativo, ainda que muito atento, vou avançando pela bostela desta chaga.
Subimos de novo a Andorinha. Um velho "polvorinho" recorda-nos os tempos e perigos da laboração da pedreira.
Chegamos ao caminho largo, dirigimo-nos a uma eólica e, por carreirinho novo, pisamos o teto da grande falha. Velhos calcários estratificados falam da sua génese para quem neles sabe ler. A mim extasiam-me e despertam a vontade de viver e experenciar estas maravilhas. Um Deo gratias se repete no meu íntimo. Olho à minha volta e meus olhos bebem a paisagem embriagando-se de beleza.
Cuidadosamente vamos descendo para o Vale de Ventos e é aqui que mais me extasio com a grandiosidade das formas cársicas que nestes lugares tanta beleza oferece a mãe natura. Sentamo-nos debaixo da rocha meditando. À nossa frente a Murada promete outras belas caminhadas por carreiros que nela se adivinham. Hoje regressamos vale abaixo.
Na dobra do caminho cortamos por montante carreiro, entre centenários sobreiros, usufruindo da beleza da vegetação que nos rodeia. Um pisco de peito ruivo esvoaça à nossa frente como que a indicar o caminho.
Chegamos ao Santuário de Nossa Senhora do Fetal. Lembramos o milagre do pão ilustrado na parede da arcada do edifício que um dia esteve destinado a ser abrigo de peregrinos mas de que me não chegou notícia que o tenha sido.
Descemos a Rua de São José e chegamos à igreja de Nossa Senhora dos Remédios. Uma vez mais olhamos o pedestal onde um santo sem tronco nem cabeça repousa incógnito. Quem representará?... a tantos perguntei e ninguém ainda me soube dizer. O templo está fechado pelo que nos é negado o agradecimento em local de reflexão. Fazêmo-lo de cá de fora. Gratia Domine.
Apressados seguimos por uma das sete ruas para aquela que das sete ruas se chama. O carro nos espera.
Até p'rá próxima e bem hajas, Reguengo do Fetal!...
Subimos agora. Uma corda ladeia o caminho facilitado pelos degraus rústicos e sombreado por lindos sobreiros. À direita só na recordação ouvimos o ruído e vemos a água cascateando na ribeira agora seca.
Chegamos ao Buraco Roto. Os tons ocres e avermelhados das bocas da terra tentam-nos a entrarmos. Estamos já habituados a estas tentações. Entramos e, de lanternas acesas, apreciamos e sentimos a beleza que se esconde na gruta intestina. Vamos até onde podemos nesta sensação de quem se entranha na mãe terra e comunga do seu íntimo.
Saímos e temos agora à frente o buraco que se diz roto. Enventual reminiscência de outra galeria, é este "arco" de uma infinda beleza. Vitoriosos de feitos ainda por fazer pelo "arco triunfal" passamos subindo.
A encosta íngreme vai-nos revelando a beleza da povoação que no vale se estende e sobe ao outeiro defronte. Lá em cima estão o Santuário de Nossa Senhora do Fetal e o campo onde se vão semeando os corpos que as almas deixaram sem vida na terra e se encontram sob a proteção da Santa da sua devoção.
Aqui contrariamos a sinalização do trilho e, à esquerda, vamos descendo pelo carreiro por onde outrora subiam os peregrinos de Fátima. Entramos na EN-356 para dela sairmos uma centena de metros adiante e subir na direção da velha e desativada pedreira. Olhamos com pena a ferida na serra que não viu completada a cura prometida. Seguros estamos de que a natureza encontrará forma de remediar as chagas que a necessidade humana vai fazendo e esquecendo de desfazer.
Ali em cima, à nossa esquerda, o grande painel de 92m2 convida-nos a voar numa companhia aérea extinta desde Dezembro de 1991. É em azulejo manufaturado na conceituada fábrica Aleluia de Aveiro que nasceu como fábrica de louça em 1905. Chegamos junto dele. A dimensão impressiona e impressiona também o seu avançado estado de degradação. Parte dos 4000 azulejos que o compunham jaz em pequenos cacos no chão e a estrutura de cimento mostra já o enferrujado esqueleto. Então não foi considerado "de interesse municipal" e proposto à classificação de monumento?... então não foi manifestado o interesse da PAN AM Foundation em que se preservasse por ser icónico e só existir outro idêntico?... tanta treta, meu Deus!...
Seguimos a meia encosta por um carreirinho aberto um dia por associação da zona para evento pedestre que os fanáticos do btt nunca deixaram que se apagasse. A paisagem é belíssima para quem caminha, para quem pedala passa despercebida decerto. Estou grato a quem teve a ideia e a levou a cabo.
Chegamos ao "Baloiço da Barrosinha". Instangramável, diz-se. Custa-me a aceitar a plantação destes equipamentos por tudo o que é monte e miradouro. Não preciso balançar-me para serenamente apreciar esta paisagem, há muito que o faço em pé ou sentado encostado a uma das rochas calcárias que aqui abundam.
Em carreiro paralelo mas em nível superior seguimos agora em sentido contrário enchendo de novo os olhos com a beleza que se nos oferece. Atravessamos um pouco do parque eólico "Chão de Falcão II" e subimos ao geodésico do Caramulo. 360° de deslumbramento!... a Torre da Magueixa, o Vale da Pedreira, a Maúnça, o Marouço... tudo aqui tão perto. Ao longe as terras da Maceira e da Marinha... ainda mais longe a Serra da Boa Viagem... o mar lá ao fundo a ocidente... a sudoeste vê-se até à Serra dos Mangues... a sul os Candeeiros e Santo António... é lindo tudo o que daqui se avista.
Descemos com cheiro a alecrim e escutando o gemido do vento cortado pelas pás do gigante aerogerador. São 2,3 MW de potência nominal... perco-me nas contas que mentalmente tento fazer para saber em quanto tempo gastaria a energia gerada por este gigante em apenas uma hora de bom vento.
Chegamos à Pedreira do Caramulo que investigadora da sua e de outras histórias batizou de "Reguengo II". O meu pensar segue rumos de história. Quanta pedra ofereceu este pouco de serra à construção do belo monumento gótico?... quantas calegadas mãos aqui trabalharam cortando pelo visível espinhado, com longos picões de aço, num contínuo martelar extraindo pedras que entregues à imaginação dos canteiros delas fizeram emergir as belíssimas obras que não cansamos de admirar?... quantos bois levaram, suando serra abaixo, os carros chiando com os grandes blocos que mais que um dia levavam a chegar à monumental obra?...
Da pedreira saímos e da serra descemos em direção aos moinhos do Alto do Reguengo.
O pequeno carreiro, por pés de burros e moleiros feito, que nos trazia a este belo lugar, desapareceu. Uma máquina impiedosa abriu um largo caminho descaracterizando o que à memória do povo pertencia. Como dizer agora a nossos filhos e/ou netos "por este carreiro passava o moleiro e o burro"?... pena já não vale e a história desaparece. Haveria necessidade?...
Os velhos moinhos aqui estão, testemunhas do passado que gentes e tempo hão de esquecer. A paisagem, essa não esquecerão meus olhos.
Procuramos descer entre carrascos e moitas a abrupta encosta. Não é fácil mas cá vamos.
Passamos as Alminhas e a prece sai da alma em silêncio. Desde que a porta está aberta parece-me que tem sido menos vandalizada.
Do outro lado da proteção da estrada seguimos a EN-356. À esquerda a III Estação da Via Sacra, "Jesus cai pela 1ª vez" e eu distraído tropeço e quase O emito na queda.
Chegamos ao Alto do Rebelo. Entre a vegetação existe um belo Cruzeiro em calcário que, segundo o que no verso está escrito, a freguesia decidiu erigir no ano 40 do passado século para comemorar os 300 anos da Restauração da Independência. Um cruzeiro que nada de religioso evoca deixa-me a pensar. Talvez tente saber, junto de quem sabe, se mais história há sobre a real motivação deste monumento.
Começamos a descer para o Malhadouro. Estamos em plena falha cársica do Reguengo do Fetal. Descida íngreme e difícil que estruturas em madeira amenizam. Recordo a primeira vez que aqui passei. Poucas eram as ajudas e subi "a quatro".
Uma algaraviada à nossa esquerda leva-me a parar para constatar mais que perceber do que se trata: Um grupo de jovens apoiam e instruem dois outros que a escarpa escalam. O Vale do Malhadouro, que continua pelo da Quebrada até ao Planalto de São Mamede, parece-me ter configuração Flúvio-cársica mas os meus humildes conhecimentos de geotectónica não me permitem afirmá-lo.
Subimos um pouco e entramos na lapa da Pia da Ovelha. Com o calor que faz e ao tempo que o faz, não contava ouvir o "ping... ping" da água a cair na pia, agora transformada em "lago esotérico" com velinhas e flores a boiar, mas ouve-se. Um "altar sacrificial" há muito aqui existe. Sempre me quedei impressionado com a quantidade de "cerebróides" neste bloco incrustados e com cimento bem fixos. São nódulos siliciosos Chérticos, datados do Bajociano, típicos da zona de Chão das Pias, que pela forma e o aspeto fazem lembrar a massa encefálica. Na natureza se desagregaram do calcário onde embutidos nasceram para aqui terem sido, por mão humana, reembutidos no cimento. Não tendo aqui nascido foram trazidos com desconhecida intenção e/ou devoção que me não atrevo a comentar e menos ainda a criticar.
Descemos com cuidado porque a descida é demasiado perigosa para descuidos.
Subimos já a Serra da Andorinha em direção ao Alto do Poio. Olhamos para trás apreciando a monumentalidade da "Pia da Ovelha". Obras de Deus agradecem-se no íntimo do coração. Bem Hajas, Senhor!
Alguém há pouco batizou esta parte de "Trilho da Pedreira", ainda que discorde porque "Trilho do Cabeço do Poio" seria mais apropriado, vejo-me a meio caminho na incoerência de seguir mesmo pela velha pedreira que jaz abandonada ali à entrada do Vale da Quebrada. Percorremos um dos balcões onde máquinas e homens esventraram a montanha. No meu espírito é tanta a mistura de emoções que não consigo descrever. A ferida para aqui está purulenta sem que haja quem a cure.
Quem aqui passa deve ter consciência dos riscos que tal ação acarreta. Olho à volta e meditativo, ainda que muito atento, vou avançando pela bostela desta chaga.
Subimos de novo a Andorinha. Um velho "polvorinho" recorda-nos os tempos e perigos da laboração da pedreira.
Chegamos ao caminho largo, dirigimo-nos a uma eólica e, por carreirinho novo, pisamos o teto da grande falha. Velhos calcários estratificados falam da sua génese para quem neles sabe ler. A mim extasiam-me e despertam a vontade de viver e experenciar estas maravilhas. Um Deo gratias se repete no meu íntimo. Olho à minha volta e meus olhos bebem a paisagem embriagando-se de beleza.
Cuidadosamente vamos descendo para o Vale de Ventos e é aqui que mais me extasio com a grandiosidade das formas cársicas que nestes lugares tanta beleza oferece a mãe natura. Sentamo-nos debaixo da rocha meditando. À nossa frente a Murada promete outras belas caminhadas por carreiros que nela se adivinham. Hoje regressamos vale abaixo.
Na dobra do caminho cortamos por montante carreiro, entre centenários sobreiros, usufruindo da beleza da vegetação que nos rodeia. Um pisco de peito ruivo esvoaça à nossa frente como que a indicar o caminho.
Chegamos ao Santuário de Nossa Senhora do Fetal. Lembramos o milagre do pão ilustrado na parede da arcada do edifício que um dia esteve destinado a ser abrigo de peregrinos mas de que me não chegou notícia que o tenha sido.
Descemos a Rua de São José e chegamos à igreja de Nossa Senhora dos Remédios. Uma vez mais olhamos o pedestal onde um santo sem tronco nem cabeça repousa incógnito. Quem representará?... a tantos perguntei e ninguém ainda me soube dizer. O templo está fechado pelo que nos é negado o agradecimento em local de reflexão. Fazêmo-lo de cá de fora. Gratia Domine.
Apressados seguimos por uma das sete ruas para aquela que das sete ruas se chama. O carro nos espera.
Até p'rá próxima e bem hajas, Reguengo do Fetal!...
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Bem hajas, grande amigo!...