Peregrinação Mafra-Nazaré-Fátima: Etapa 4
near Quinta de Vila Viçosa, Leiria (Portugal)
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Trail photos
Itinerary description
É uma das etapas emblemáticas do Círio da Prata Grande por coincidir com o local da dormida em São Mamede: a berlinda e os cavalos ficavam alojados no solar dos Mello e Castro, que cediam a capela de São Lourenço para os festejos religiosos.
Tarde do segundo dia,02 de outubro de 2020, com 15,6Km para percorrer, com 594m de acumulado em subidas e descidas, num declive médio de 3,8%, segundo o Google Earth.
Tarde com temperatura muito agradável e com um percurso sem grandes descidas nem subidas. O percurso decorre em terrenos da batalha da Roliça, desenrola-se entre pomares e, depois de passar Óbidos, termina no Santuário do Senhor Jesus da Pedra.
A chuva da manhã deu lugar a uma excelente tarde de sol.
Depois de um almoço retemperador e tempo dedicado ao repouso, no agradável parque de merendas do Santuário da Misericórdia, totalizando 03 horas de paragem, saímos pelas 14H40 e chegámos ao Santuário do Senhor Jesus da Pedra às 19H00: Duração de 04H20 com uma paragem de 35 minutos em São Mamede.
Indica-se o link para a etapa 5:
https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/peregrinacao-mafra-nazare-fatima-etapa-5-71274137
Waypoints
Através de campos de pomares
Por esquecimento só iniciei o Wikiloc 1,25Km depois da partida no Santuário da Misericórdia. Iniciámos a tarde com mais uma peregrina: agora somos oito! À saída do Santuário da Misericórdia ainda vimos, ao longe, o impressionante chafariz onde matavam a sede pessoas e animais em peregrinações há muito realizadas. Pelas suas caraterísticas, imagina-se a importância do local e numerosa frequência de peregrinos e viajantes que percorriam estes caminhos. Depois de grandes eucaliptos, os pomares e terrenos de cultivo foram a nossa companhia até a Azambujeira dos Carros. Na berma do caminho ainda foi possível observar sinais de antiga importância senhorial.
Café o FREIXO
No inicio da Azambujeira dos Carros é possível tomar o café e quebrar o jejum doutros paladares. O nome do café já nos anunciava a importância da árvore que, à saída, iriamos encontrar. Para noroeste é possível observar as alturas da Serra D'Ei Rei.
Freixo
No largo da capela de N.ª S.ª da Oliveira, inaugurada em 23/12/1742, deparou-se-nos um FREIXO secular com uma idade estimada em 278 anos. Foi classificado como árvore de interesse público pelo Diário da Republica nº 295 II Série de 20/12/1993 e, na medição de 2015, o tronco tinha 6,5m de perímetro a 1,30m de altura e o diâmetro da copa era de 16m. Contam-se várias lendas sobre este freixo sendo a principal sobre a proteção que, no interior do tronco, deu a um menino que fugia das tropas francesas, tendo-lhe salvo a vida. Na sombra deste freixo deparou-se-nos uma surpresa: um poema do poeta popular do Sobreiro, António Batalha, que, em 1993, celebrou a passagem dos peregrinos do Círio da Prata Grande.
Caminhos da batalha da Roliça
Descemos a encosta que constituiu a segunda posição dos franceses, ocupada depois de retirar da primeira posição, situada algures entre a atual estação de comboios e São Mamede, como resposta à tentativa de envolvimento, realizado tropas inglesas que atacavam de norte. O desfecho foi favorável às tropas anglo-lusas mas, permitiu aos franceses atingir os seus objetivos: retardar a chegada do exército inglês a Lisboa e ganhar tempo para organizar a defesa da capital do reino. Foi o declive mais acentuado e longo da tarde mas, a descer, contrariamente ao sentido da marcha dos ingleses.
Aos mortos da Batalha da Roliça 2º
Esta cruz assinala a homenagem que as populações locais prestaram aos mortos da batalha da Roliça. Este local indica a área de inicio dos combates para atacar a segunda posição francesa.
Aos mortos da Batalha da Roliça 1º
Local onde terminava a primeira posição dos franceses, onde se travaram alguns combates. Daqui é possível ter a perceção da dificuldade que os ingleses teriam ao atacar a segunda posição dos franceses, no topo das elevações que se entendem da Azambujeira dos Carros. O itinerário do Cirio da Prata Grande seguia o trajeto da Estrada Nacional Nº8, coincidente com a antiga Estrada Real. Para aumentar a segurança seguimos por um caminho paralelo à linha do comboio até São Mamede. Depois de São Mamede repetimos a escolha e seguimos um caminho que, por Este, é paralelo à autoestrada A8.
São Mamede
Sempre que o Círio da Prata Grande ou Círio dos Saloios, se deslocava ao Sítio na Nazaré, parava neste local. A Berlinda, os cavalos e gente fidalga ficavam alojados no solar dos Mello e Castro, que cediam a capela de São Lourenço para os festejos religiosos. O pároco local recebia os peregrinos, eram realizadas as orações convencionadas, ouvidas as loas entoadas pelos anjos e consumidos os pães e a merenda com que as gentes locais, ano após ano, em mesa posta no largo, recebiam os peregrinos do Círio da Prata Grande. Com tal tradição não podíamos deixar de parar e visitar este local. A capela de São Lourenço estava fechada, mas, com auxílio de uma habitante, rapidamente a guardiã da chave foi solicitada, abriu-nos a porta e relatou as suas memórias. Ficámos felizes pelo carinho com que os peregrinos eram recordados. Assim voltassem … ficou a mensagem no ar! «A capela foi mandada construir no século XVI por Martin Afonso de Mello em cumprimento de uma promessa por São Lourenço, seu padroeiro, o ter livrado de um grande perigo no mar» quando se encontrava em serviço pela India.
Variante
Depois de São Mamede desviámos para Este para evitar o perigo que o trânsito intenso, numa estrada sem bermas em zona urbana, constitui para peregrinos. O Círio da Prata Grande seguia pela estrada nacional Nº8, antiga estrada real, até Óbidos. Um caminho rural, colado à A8, por Este, é mais seguro.
Às voltas
A junção do IP6, vindo de Peniche, com a A8 ao lado do caminho de ferro criou muitas alterações ao trajeto original da estrada real. Seguindo os caminhos por nós percorridos é possível ter segurança, caminhar em terra e retomar o percurso da estrada real em A-da-Gorda.
Estrada Real
Seguindo pela Rua Antiga Estrada Real chegamos a Óbidos pelo lado sul, o do aqueduto. Ainda se encontra uma ponte da antiga estrada real, no ponto de menor altitude. Ao longo da estrada, até entrar na Vila, existe uma via pedonal muito agradável. É a maior subida do dia.
Vila de Óbidos
Vindos do parque de estacionamento entrámos em Óbidos, pela Porta da Vila, às 18H35 e assaltámos a loja da Ginjinha. Peregrino que se preze não deixa perder as oportunidades de valorizar os produtos locais, alegrar-se com um miminho e aos seus companheiros. A partilha é boa parte de uma peregrinação. A travessia de Óbidos permitiu-nos "cheirar" a história para explorar numa visita mais prolongada. Não sabemos se foi a vista do Senhor da Pedra, o objetivo do dia, mas ainda havia energias e alegria para testar o corrimão da escadaria! A estrada real não entrava dentro da Vila mas acompanhava as muralhas pelo lado Este.
Santuário do Senhor Jesus da Pedra
Foi uma motivação extra para chegar ao Santuário do Senhor da Pedra pelas 19H00, onde nos cruzámos com um grupo de peregrinos da Ericeira. Queríamos visitar o Santuário, cujo arquiteto trabalhou na construção do convento de Mafra, mas estava fechado. Ficámos pela explicação das suas singularidades: com planta hexagonal da nave central, concêntrica a um círculo constituído pelas paredes exteriores, apresenta um jogo de janelas invertidas e foi construído entre 1740 a 1747 para albergar condignamente uma antiga cruz de pedra, encontrada por um lavrador em 1730, com a imagem esculpida de Cristo crucificado, supostamente milagrosa por ter feito chover após um período de seca prolongado. Fizemos as nossas invocações no exterior, onde tantos peregrinos passaram e se alojaram na Casa dos Romeiros e deram de beber aos seus animais no chafariz de D. João V, ambos a oeste do Santuário. Depois de nos instalarmos e tomar banho no quartel dos Bombeiros Voluntários de Óbidos, seguimos para o Jantar. Nas traseiras do Santuário, no restaurante Senhor da Pedra, por 9€, comemos uma saborosa carne de porco à alentejana, incluindo sobremesas e bebidas. Voltaremos a provar os acepipes da senhora Aurora. Os Bombeiros de Óbidos, com alguma dificuldade porque o espaço disponibilizado estava em uso e as restrições impostas pela pandemia exigem a adoção dos procedimentos adequados, libertaram uma sala para estendermos os nossos colchões e sacos de cama. Agradecemos o apoio e a confiança em época de pandemia. Chegados ao final do dia sentíamos algum cansaço mas nada que superasse as alegrias partilhadas entre peregrinos.
Comments (1)
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Um percurso muito agradável...