Pelas margens do Nabão até à Senhora das Lapas
near Tomar, Santarém (Portugal)
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Itinerary description
Entro em Tomar. O Mouchão, ainda está deserto. Os 3° desta manhã fria não convidam a passeios matinais. A água azul no Açude dos Frades liberta uma ténue nuvem de vapor. Ainda não são 9 horas e a cidade dos templários, preguiçosamente, vai despertando para este sábado luminoso de Inverno.
Tomar é das mais bonitas cidades de Portugal. O turismo é, talvez, a sua principal "indústria" mas poucos sabem que foi uma das primeiras cidades industrializadas do país, senão a primeira.
Sendo D. Gualdim Pais, 3° Grão-mestre da ordem dos Templários em Portugal, o fundador da cidade, é ao Infante D. Henrique, enquanto administrador da Ordem de Cristo, que se deve a importante obra de regularização do Nabão com o desvio do leito e a drenagem dos pântanos. Ainda que não tenha sido esse o motivo, por certo que foi a causa para a industrialização da cidade.
Pausemos a história e iniciemos a caminhada. A intenção é seguir o Nabão até ao Sobreirinho e, eventualmente, chegar à Senhora das Lapas. Vamos ver se temos tempo.
O carro fica em frente à Escola de Santo António. Seguimos apressados, que o frio engadanha as mãos e o chão enregela os pés, em direcção à Real Fábrica da Fiação de Thomar. Esquecida estará, decerto, a "Fábrica de Meyas de Lãa e Algodão Fabricadas em Theares" de Noel le Maitre que aqui funcionou mas, por atraso de fornecimento de novos teares, acabou por falir.
A Real Fábrica da Fiação de Thomar terá sido fundada por dois industriais franceses, Jácome Ratton e Timotheo Lacussan Verdier, em 1789. Quão importante terá sido podemos avaliar porque sabemos que foi a unidade mais produtiva do seu tempo com equipamento sempre na vanguarda da modernização. Não teria passado meia dúzia de anos que Richard Arkwright patenteara o seu invento e a Real Fábrica já era a primeira a utilizar a "water frame" em Portugal; a "máquina a vapor" ainda era menina e já a Real Fábrica a tinha como motriz para as fiadeiras e teares; ainda os notívagos curtiam bebedeiras à luz de candeeiros a querosene e já a luz eléctrica fazia da noite dia na Real Fábrica à custa da central hidroeléctrica alimentada pela água da "Vala". Não é, pois, de estranhar que esta tenha sido produtiva até quase ao final da primeira metade do século XX.
O estado deplorável em que se encontra agora só se compara com o que ficou após o grande incêndio de 1883. Então foi rapidamente recuperada, agora parece estar condenada.
Foto tirada pela ranhura da rede e seguimos junto ao muro. Observamos os coadouros por onde se some a água e lá vamos à beira da "Vala". Corvos marinhos e, se não estou enganado, garças azuis, levantam voo e vão pousar na cumeira do telhado da fábrica. As garças reais fazem um voo rasante à água do canal e pousam mais à frente. Que bom sinal é a existência destas aves por aqui mas...
A "Vala" está suja e com plantas infestantes que lhe dão um ar de triste abandono.
Atravessamos para a margem esquerda pela ponte e seguimos por um caminho de terra batida. De cada lado, bem fresca, a geada da noite. Mãos nos bolsos, com o rio à esquerda e a "vala" à direita cá vamos em demanda da sua origem.
Quilómetro e meio andado começamos a escutar um rumor de água batida. Cá está! Sabíamos que existia, que estava Classificado como IIP (Imóvel de Interesse Público) mas não contávamos com esta monumentalidade.
A água corre às catadupas, em alva espuma, criando um ondulante lençol que contrasta com a quietude que, a montante, nos alegra o olhar e apazigua o espírito. O açude de dois tramos desiguais apresenta a face de saída em degraus de pedra onde a água batendo se torna branca azulada refletindo a cor do céu. A albufeira é um espelho colorido pelo Outono das árvores. Patos selvagens nadam ao longe. Que belos quadros!
Por carreiros chegamos à fábrica da Companhia de Papel do Prado. Depois de uma tentativa de recuperação pediu a insolvência em 2017. Tinha nascido em 1875. Não terá sido a primeira fábrica de papel da região de Tomar mas foi a última a deixar de laborar.
Contornamos a fábrica pela estrada do Prado para logo à frente voltarmos ao contato com o Nabão. Seguindo com o Rio à vista e as belas imagens que nos oferece, chegamos ao Sobreirinho. Passamos a praia e seguimos por carreiros lindíssimos sempre com o canto da água à nossa direita. Entramos num canhão cársico que torna o rio belíssimo. Chegamos às Lapas. Venham ver... isto aqui é mesmo bonito. Havendo mais carreiro, o entusiasmo leva-nos a continuar margem acima. Oh diabo. Já devíamos estar de regresso… voltamos atrás e gozamos de novo a paisagem. No Sobreirinho atravessamos a estreitinha ponte mas pela aproximação de um carro, paramos antes, porque o carro cabe à certa e não cabe mais nada. Do outro lado a antiga fábrica, construída em 1772 por alvará do Marquês de Pombal, mostra apenas um conjunto de ruínas que, mesmo assim dão uma ideia da beleza que terá tido.
Subimos por um carreirinho entre carvalhos e medronheiros e chegamos a um caminho que nos leva até Milheira. Vamos com pressa mas ainda dá para admirar a paisagem do vale onde corre um ribeirinho que vai alimentar o Nabão. Depois, quase correndo, tomamos caminhos de serra e bonitos carreiros até que encontramos os caminhos já percorridos em sentido contrário ali perto do Açude.
Atrasámos o almoço pelo menos hora e meia mas valeu a pena.
Tomar é das mais bonitas cidades de Portugal. O turismo é, talvez, a sua principal "indústria" mas poucos sabem que foi uma das primeiras cidades industrializadas do país, senão a primeira.
Sendo D. Gualdim Pais, 3° Grão-mestre da ordem dos Templários em Portugal, o fundador da cidade, é ao Infante D. Henrique, enquanto administrador da Ordem de Cristo, que se deve a importante obra de regularização do Nabão com o desvio do leito e a drenagem dos pântanos. Ainda que não tenha sido esse o motivo, por certo que foi a causa para a industrialização da cidade.
Pausemos a história e iniciemos a caminhada. A intenção é seguir o Nabão até ao Sobreirinho e, eventualmente, chegar à Senhora das Lapas. Vamos ver se temos tempo.
O carro fica em frente à Escola de Santo António. Seguimos apressados, que o frio engadanha as mãos e o chão enregela os pés, em direcção à Real Fábrica da Fiação de Thomar. Esquecida estará, decerto, a "Fábrica de Meyas de Lãa e Algodão Fabricadas em Theares" de Noel le Maitre que aqui funcionou mas, por atraso de fornecimento de novos teares, acabou por falir.
A Real Fábrica da Fiação de Thomar terá sido fundada por dois industriais franceses, Jácome Ratton e Timotheo Lacussan Verdier, em 1789. Quão importante terá sido podemos avaliar porque sabemos que foi a unidade mais produtiva do seu tempo com equipamento sempre na vanguarda da modernização. Não teria passado meia dúzia de anos que Richard Arkwright patenteara o seu invento e a Real Fábrica já era a primeira a utilizar a "water frame" em Portugal; a "máquina a vapor" ainda era menina e já a Real Fábrica a tinha como motriz para as fiadeiras e teares; ainda os notívagos curtiam bebedeiras à luz de candeeiros a querosene e já a luz eléctrica fazia da noite dia na Real Fábrica à custa da central hidroeléctrica alimentada pela água da "Vala". Não é, pois, de estranhar que esta tenha sido produtiva até quase ao final da primeira metade do século XX.
O estado deplorável em que se encontra agora só se compara com o que ficou após o grande incêndio de 1883. Então foi rapidamente recuperada, agora parece estar condenada.
Foto tirada pela ranhura da rede e seguimos junto ao muro. Observamos os coadouros por onde se some a água e lá vamos à beira da "Vala". Corvos marinhos e, se não estou enganado, garças azuis, levantam voo e vão pousar na cumeira do telhado da fábrica. As garças reais fazem um voo rasante à água do canal e pousam mais à frente. Que bom sinal é a existência destas aves por aqui mas...
A "Vala" está suja e com plantas infestantes que lhe dão um ar de triste abandono.
Atravessamos para a margem esquerda pela ponte e seguimos por um caminho de terra batida. De cada lado, bem fresca, a geada da noite. Mãos nos bolsos, com o rio à esquerda e a "vala" à direita cá vamos em demanda da sua origem.
Quilómetro e meio andado começamos a escutar um rumor de água batida. Cá está! Sabíamos que existia, que estava Classificado como IIP (Imóvel de Interesse Público) mas não contávamos com esta monumentalidade.
A água corre às catadupas, em alva espuma, criando um ondulante lençol que contrasta com a quietude que, a montante, nos alegra o olhar e apazigua o espírito. O açude de dois tramos desiguais apresenta a face de saída em degraus de pedra onde a água batendo se torna branca azulada refletindo a cor do céu. A albufeira é um espelho colorido pelo Outono das árvores. Patos selvagens nadam ao longe. Que belos quadros!
Por carreiros chegamos à fábrica da Companhia de Papel do Prado. Depois de uma tentativa de recuperação pediu a insolvência em 2017. Tinha nascido em 1875. Não terá sido a primeira fábrica de papel da região de Tomar mas foi a última a deixar de laborar.
Contornamos a fábrica pela estrada do Prado para logo à frente voltarmos ao contato com o Nabão. Seguindo com o Rio à vista e as belas imagens que nos oferece, chegamos ao Sobreirinho. Passamos a praia e seguimos por carreiros lindíssimos sempre com o canto da água à nossa direita. Entramos num canhão cársico que torna o rio belíssimo. Chegamos às Lapas. Venham ver... isto aqui é mesmo bonito. Havendo mais carreiro, o entusiasmo leva-nos a continuar margem acima. Oh diabo. Já devíamos estar de regresso… voltamos atrás e gozamos de novo a paisagem. No Sobreirinho atravessamos a estreitinha ponte mas pela aproximação de um carro, paramos antes, porque o carro cabe à certa e não cabe mais nada. Do outro lado a antiga fábrica, construída em 1772 por alvará do Marquês de Pombal, mostra apenas um conjunto de ruínas que, mesmo assim dão uma ideia da beleza que terá tido.
Subimos por um carreirinho entre carvalhos e medronheiros e chegamos a um caminho que nos leva até Milheira. Vamos com pressa mas ainda dá para admirar a paisagem do vale onde corre um ribeirinho que vai alimentar o Nabão. Depois, quase correndo, tomamos caminhos de serra e bonitos carreiros até que encontramos os caminhos já percorridos em sentido contrário ali perto do Açude.
Atrasámos o almoço pelo menos hora e meia mas valeu a pena.
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