Os Velhos de S. Tiago (Arruda)
near São Tiago dos Velhos, Lisboa (Portugal)
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Trail photos
Itinerary description
O padre, sentado num cadeirão lateral, aguardava nervosamente. De vez em quando erguia o olhar e perscrutava, lá no fundo da assembleia de fiéis reunidos para o ofício Dominical. Nada. O povo agitava-se, os minutos passavam lentos. Até que, bem lá de junto da porta do templo, alguém gritou:
- Chegaram! Os Velhos de S. Tiago já chegaram!
O Padre benzeu-se ao mesmo tempo que se erguia, deu graças aos céus, virou as costas aos fiéis e aproximou-se do altar principal da Sé de Lisboa para celebrar a Missa.
Aqueles anciãos dos casais de S. Tiago, local de passagem e pernoita dos romeiros do Apóstolo, como não havia celebração na sua terra, iam todos os Domingos à Sé de Lisboa, a quase 6 léguas de distância, para ouvir a sempre renovada palavra do Senhor e participar na Eucaristia como Ele ensinara: "fazei isto em memória de mim"
E a missa não começava sem eles.
A povoação cresceu e acabou por ficar conhecida por S. Tiago dos Velhos, nome carinhoso recebido em memória dos piedosos habitantes.
E nós, os velhos de S. Tiago, presos há dois anos pela pandemia e sentindo cada vez mais o apelo de Compostela, e não querendo deixar passar o Ano Santo de 2021 sem entrar na Catedral pela Porta Santa, fomos treinar as pernas neste belo percurso idealizado pelo amigo Carlos Aguiar. O trajecto privilegia os trilhos de pé-posto em detrimento do encurtamento de distâncias, o que lhe confere muito mais interesse e sombra, em alguns troços.
Parqueamos o carro numa pequeno espaço nas traseiras da igreja, onda além de lugares há uma estreita faixa ajardinada com bancos e sanitários públicos muito asseados.
A Igreja de S. Tiago é uma edificação que pode até remontar ao séc. XII, quando o primeiro rei de Portugal promoveu uma febre construtora de templos nos territórios recentemente conquistados de Lisboa e arredores. Na sacristia uma cruz da Ordem dos Templários deixa fortes indícios sobre a veracidade desta tese e de que eles aqui viriam orar.
Depois das fotos seguimos estrada abaixo, que em pouco tempo nos conduziu ao idílico recanto da Cascata das Contradinhas. Sombrio e belo, o abrigado recanto fez-me lembrar os infalíveis cursos de água que tinham de marcar presença nas "Cascatas de São João" que montava na minha infância.
Só corria um fio de água, que a Ribeira do Boição em Setembro está quase seca, mas em tempo de chuvas, quando a ribeira recolhe mais água, quer esta quer a Cascata do Boição (Bucelas) ficam espectaculares.
Ficamos um bocado no sossego e frescura e depois arrancamos de novo, passamos uma ecológica estação de tratamento de águas, para depois já no asfalto ir encontrar vários marmeleiros cuja localização registamos e onde voltamos no final, de carro, para recolher os dourados frutos para a preciosa marmelada.
Mais adiante seguimos um velho caminho que ligava talvez em tempos medievos S. Tiago a outra povoação próxima, talvez A-dos-Eiros? Depois voltamos à estrada municipal para a deixar de novo mais adiante, junto de um grande depósito de sucata. Aí, na transição para outra via asfaltada, a rua 25 de Abril que liga a A-dos-Eiros, palmilha-se um trilho aborrecido, pela proximidade das sucatas e suas vias de acesso.
Um bocado depois, quando estávamos a descer um estradão em direcção à EN 115-4 que segue para Arruda, trocamos o caminho largo por um de pé posto, que segue à nossa direita e começa a subir em direcção a uma larga mancha de pinheiro, lá no alto da colina. Começamos a circundar o pinhal, e, tendo sombra, uma aragem e belas vistas para Arruda e o vale do Tejo, fizemos uma pausa para comer a nossa merenda.
Quando retomamos, houve que continuar a subir até atingir o estradão de saibro branco que serve para a manutenção dos aero geradores. Em nada estávamos nas ruínas do Forte do Cego, uma das edificações militares das Linhas de Torres. Inicialmente conhecido por Forte de São Sebastião, foi construído em 1809-10, e localiza-se na primeira linha de defesa. Visava atrasar o avanço das forças francesas na Guerra Peninsular, que decorreu de 1807 a 1814, assim permitiria o embarque dos contingentes ingleses em Lisboa, em caso de derrota.
Mandados construir por Arthur Wellesley, 1º Duke de Wellington, são ao todo 152 fortes, sendo esta a Obra Militar nº 9, e que em conjunto com o fronteiro Forte da Carvalha defendia o avanço pelo vale de Arruda.
Retomamos o estradão uns metros, para logo entrar num belo e sinuoso trilho, o Trilho do Casal do Paio, que nos levou até o primeiro ponto alto do percurso: o marco geodésico do Boeiro (378 metros). Todo o dia é recheado de amplas paisagens, mas claro que num ponto como este a vista abarca tudo em redor, desde o azul do litoral ao largo vale onde corre o Tejo, sem esquecer o espraiado maciço do Montejunto. Muito bonito.
Descemos depois um trilho que aos zz nos levou até uma zona cársica muito interessante, no fundo da qual se atravessa um estrado de madeira sobre um estreito curso de água por agora... seco. Desembocamos num estradão, que seguimos à direita, e depois um trilho levou-nos até lá acima à Ermida de S. Romão, triste e sózinha, até a cruz que encimava a fachada foi um dia substituída por um marco geodésico (S. Romão 367 metros).
Há depois um bocado bom de asfalto, talvez 1km, ao fim do qual encontramos terra batida, que a dada altura abandonamos para tomar um trilho à direita em que nos primeiros 100 metros deixamos alguma pele, que em Setembro silvas e suas vizinhas estão bem rijas!
Por ali acima vamos chegar à Quinta de S. Tiago; o troço final está repleto de fósseis, uma colheita "en passant" rendeu logo um punhado deles, claro que sem valor, mas é um afloramento notável de vida marinha.
Depois, trilho após trilho, já falta muito pouco, estamos em S. Tiago dos Velhos. Cafés, minimercado, bomba de combustível, está tudo ali na zona onde entramos.
- Chegaram! Os Velhos de S. Tiago já chegaram!
O Padre benzeu-se ao mesmo tempo que se erguia, deu graças aos céus, virou as costas aos fiéis e aproximou-se do altar principal da Sé de Lisboa para celebrar a Missa.
Aqueles anciãos dos casais de S. Tiago, local de passagem e pernoita dos romeiros do Apóstolo, como não havia celebração na sua terra, iam todos os Domingos à Sé de Lisboa, a quase 6 léguas de distância, para ouvir a sempre renovada palavra do Senhor e participar na Eucaristia como Ele ensinara: "fazei isto em memória de mim"
E a missa não começava sem eles.
A povoação cresceu e acabou por ficar conhecida por S. Tiago dos Velhos, nome carinhoso recebido em memória dos piedosos habitantes.
E nós, os velhos de S. Tiago, presos há dois anos pela pandemia e sentindo cada vez mais o apelo de Compostela, e não querendo deixar passar o Ano Santo de 2021 sem entrar na Catedral pela Porta Santa, fomos treinar as pernas neste belo percurso idealizado pelo amigo Carlos Aguiar. O trajecto privilegia os trilhos de pé-posto em detrimento do encurtamento de distâncias, o que lhe confere muito mais interesse e sombra, em alguns troços.
Parqueamos o carro numa pequeno espaço nas traseiras da igreja, onda além de lugares há uma estreita faixa ajardinada com bancos e sanitários públicos muito asseados.
A Igreja de S. Tiago é uma edificação que pode até remontar ao séc. XII, quando o primeiro rei de Portugal promoveu uma febre construtora de templos nos territórios recentemente conquistados de Lisboa e arredores. Na sacristia uma cruz da Ordem dos Templários deixa fortes indícios sobre a veracidade desta tese e de que eles aqui viriam orar.
Depois das fotos seguimos estrada abaixo, que em pouco tempo nos conduziu ao idílico recanto da Cascata das Contradinhas. Sombrio e belo, o abrigado recanto fez-me lembrar os infalíveis cursos de água que tinham de marcar presença nas "Cascatas de São João" que montava na minha infância.
Só corria um fio de água, que a Ribeira do Boição em Setembro está quase seca, mas em tempo de chuvas, quando a ribeira recolhe mais água, quer esta quer a Cascata do Boição (Bucelas) ficam espectaculares.
Ficamos um bocado no sossego e frescura e depois arrancamos de novo, passamos uma ecológica estação de tratamento de águas, para depois já no asfalto ir encontrar vários marmeleiros cuja localização registamos e onde voltamos no final, de carro, para recolher os dourados frutos para a preciosa marmelada.
Mais adiante seguimos um velho caminho que ligava talvez em tempos medievos S. Tiago a outra povoação próxima, talvez A-dos-Eiros? Depois voltamos à estrada municipal para a deixar de novo mais adiante, junto de um grande depósito de sucata. Aí, na transição para outra via asfaltada, a rua 25 de Abril que liga a A-dos-Eiros, palmilha-se um trilho aborrecido, pela proximidade das sucatas e suas vias de acesso.
Um bocado depois, quando estávamos a descer um estradão em direcção à EN 115-4 que segue para Arruda, trocamos o caminho largo por um de pé posto, que segue à nossa direita e começa a subir em direcção a uma larga mancha de pinheiro, lá no alto da colina. Começamos a circundar o pinhal, e, tendo sombra, uma aragem e belas vistas para Arruda e o vale do Tejo, fizemos uma pausa para comer a nossa merenda.
Quando retomamos, houve que continuar a subir até atingir o estradão de saibro branco que serve para a manutenção dos aero geradores. Em nada estávamos nas ruínas do Forte do Cego, uma das edificações militares das Linhas de Torres. Inicialmente conhecido por Forte de São Sebastião, foi construído em 1809-10, e localiza-se na primeira linha de defesa. Visava atrasar o avanço das forças francesas na Guerra Peninsular, que decorreu de 1807 a 1814, assim permitiria o embarque dos contingentes ingleses em Lisboa, em caso de derrota.
Mandados construir por Arthur Wellesley, 1º Duke de Wellington, são ao todo 152 fortes, sendo esta a Obra Militar nº 9, e que em conjunto com o fronteiro Forte da Carvalha defendia o avanço pelo vale de Arruda.
Retomamos o estradão uns metros, para logo entrar num belo e sinuoso trilho, o Trilho do Casal do Paio, que nos levou até o primeiro ponto alto do percurso: o marco geodésico do Boeiro (378 metros). Todo o dia é recheado de amplas paisagens, mas claro que num ponto como este a vista abarca tudo em redor, desde o azul do litoral ao largo vale onde corre o Tejo, sem esquecer o espraiado maciço do Montejunto. Muito bonito.
Descemos depois um trilho que aos zz nos levou até uma zona cársica muito interessante, no fundo da qual se atravessa um estrado de madeira sobre um estreito curso de água por agora... seco. Desembocamos num estradão, que seguimos à direita, e depois um trilho levou-nos até lá acima à Ermida de S. Romão, triste e sózinha, até a cruz que encimava a fachada foi um dia substituída por um marco geodésico (S. Romão 367 metros).
Há depois um bocado bom de asfalto, talvez 1km, ao fim do qual encontramos terra batida, que a dada altura abandonamos para tomar um trilho à direita em que nos primeiros 100 metros deixamos alguma pele, que em Setembro silvas e suas vizinhas estão bem rijas!
Por ali acima vamos chegar à Quinta de S. Tiago; o troço final está repleto de fósseis, uma colheita "en passant" rendeu logo um punhado deles, claro que sem valor, mas é um afloramento notável de vida marinha.
Depois, trilho após trilho, já falta muito pouco, estamos em S. Tiago dos Velhos. Cafés, minimercado, bomba de combustível, está tudo ali na zona onde entramos.
Waypoints
River
935 ft
Curso de água seco
Waypoint
578 ft
Tratamento de águas
Tree
1,047 ft
Eucaliptal
Tree
583 ft
Marmelos
Bus stop
713 ft
Paragem de autocarro coberta
Bus stop
1,223 ft
Paragem de autocarro coberta
Waypoint
0 ft
Sucata
Waypoint
737 ft
Velho caminho
Comments (2)
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Fantástica descrição, aliás outra coisa não seria de esperar.
Grato pela escolha desta opção para início de retoma das atividades pós pandemia.
Grande abraço!
Obrigado, Carlos. As actividades PR nunca estiveram suspensas, mas as GR... que saudades. Lá iremos, com tempo e saúde. Sobre esta só não encontrei nada nem na net nem nos meus livros, sobre a ermida de S. Romão:(