Lençóis-Capão via Fundão e 21

Fiz essa trilha com minha esposa no sentido contrário no dia 27/08/21, com base no excelente post do Hélio Jr, cuja leitura recomendo fortemente, pelo detalhamento: https://pt.wikiloc.com/wikiloc/trilhas-trekking/pn-chapada-diamantina-travessia-capao-x-lencois-via-21-e-fundao-24869597
Não vou repetir aqui os detalhes descritos por ele, limitando-me à minha impressão.

Estávamos com bem pouca carga: mochilas de ataque com só o essencial, porque emendaríamos nesse passeio, a partir do dia seguinte, uma travessia no Pati, e a ideia era dormir e comer nas hospedagens dos patizeiros, não demandando carregar barraca ou cozinha.

A coisa foi muito bem até chegarmos ao Fundão. A trilha tradicional (das mulas) que cruza a serra do Grizante está bem batida, embora o mato tenha ficado bastante à vontade para fechá-la por cima durante a pandemia. A derivação para as margens do rio Ribeirão não está complicada, a clareira está lá, bem evidente, e o maravilhoso leito seco do córregos de pedras que leva ao Fundão, embora seja travado pela pedraiada, não apresentou problemas para ser vencido.

Após um banho no poço do Fundão, porém, tudo se complicou. Sair dali cânion acima foi um bate-cabeça danado. O sinal de GPS ali é inconstante e pouco fiável. Sabíamos que a saída era pela margem direita (esquerda de quem sobe), mas se ali já houve trilha ou sinais de passagem humana, eles se devem ter se apagado pelo pouco uso durante a pandemia. Ou seja, tivemos que tatear muito para conseguir passar à parte de cima do leito, de onde alcançaríamos a 21. Chegar a ela, vencido o desnível, não foi complicado, mas tivemos mais trabalho para sair da 21. Em alguns trechos há um pouco de trilha, mas é errática. Já passava de 15h, e eu já estava me conformando em dormirmos no mato (tínhamos equipamento para contingência - manta térmica e comida suficiente -, mas seria um baita desconforto). Encontrar as ruínas da escada mencionada no relato deixou-nos mais confiantes, mas vencer o Córrego Branco e o Córrego Verde também não foi fichinha. Chegamos aos Gerais da Fumaça no finzinho da tarde, a tempo de vislumbrar um pouquinho da queda, e descemos para o Capão já à noite (mas ali é bem tranquilo com lanterna), chegando ao centro da vila por volta de 20h.

Depois, quando conversamos com os guias sobre essa "aventura", eles disseram que quase ninguém faz esse percurso num dia só, muitos guias nunca o fizeram, e muito pouca gente faz isso sem guia. É totalmente lado B dos passeios nas zonas tangíveis do parque. Na pandemia, então, muita trilha sumiu. E agora estão usando mais uma ligação entre Fumaça e 21 pela Cachoeira do Palmital, por ser um acesso menos difícil - mas sem a ligação com a Fundão.

Classifico esse percurso como "só para experientes", pela dificuldade de navegação dentro dos cânions (muita sombra de sinal de GPS) e pela ausência de trilha em bons trechos. Para fazer esse percurso num dia só, mesmo se for no sentido Capão-Lençóis (que talvez seja um pouco menos duro), é preciso começar muito cedo (e não às 9h10, como fizemos), ter um bom preparo físico e contar com bastante bom senso e experiência em trilhas.

Outra observação que acho importante mencionar. Costumo fazer trilhas registrando o percurso num relógio Garmin Fenix e, mais recentemente, também no Wikiloc, via celular. Sempre, ou quase sempre, percebo uma significativa discrepância entre os equipamentos, com uma quilometragem sempre menor no Wikiloc - e tendo a confiar mais no relógio, que uso cotidianamente e cujas marcações vejo se confirmarem. Por exemplo, nessa trilha meu Wikiloc marcou 20,87km - o que bate aproximadamente com o registro do Hélio, já que eu marquei de pousada a pousada. Mas meu Garmin registrou 34 km - ou uns 31-32, se descontarmos esses meus trechos adicionais. Por mais que tenha havido alguma distorção por causa do bate-cabeça para encontrar o caminho, acho pouco provável esse percurso ter menos de 25 km. Os guias que conhecem o percurso também estimaram em algo em torno de 30 km, do centro de Lençóis ao centro do Capão.