Gerês: de Pincães às lagoas do Marinho (ou rota das mariolas)

“Há sítios no mundo que são como certas existências humanas: tudo se conjuga para que nada falte à sua grandeza e perfeição. Este Gerês é um deles (Miguel Torga).

1. O Gerês é uma serra de impressionante beleza paisagística: imponentes picos graníticos (Nevosa, Carris, Pé do Cabril, Rocalva, Roca Negra, …); vales profundos e encaixados que suportam uma densa rede hidrográfica que possibilita uma grande variedade de formas de vida e de vivências; gigantescos anfiteatros proporcionando cenários sem igual; uma vasta variedade de flora (carvalhos, castanheiros, azevinhos, medronheiros, teixos, vidoeiros e pinheiros nórdicos nas partes mais baixas e, nas partes mais altas, pequenos arbustos como urzes, tojos, carquejas e várias plantas medicinais) e de fauna (corços, garranos, lobos, aves de rapina); miradouros com vistas deslumbrantes (Pedra Bela, Junceda, Ermida, Rocas, Silhas, Fraga Negra, Boneca, Preguiça …); cascatas e poços idílicos (Pincães, Cela Cavalos, Arado, Fecha de Barjas, Sete Lagoas do Xertelo, Poço Azul …).
O somatório de todas estas características faz do Gerês o santuário de todos os amantes da natureza.
2. Conhecer e fruir o património paisagístico do Gerês entre a aldeia de Pincães e as Lagoas do Marinho passando por cascatas, silhas, fojos, miradouros (com vistas brutais) e “vales mariolados” foi o objetivo deste percurso.
3. Começamos e terminamos na pequena e pitoresca aldeia de Pincães. Do parque de lazer da aldeia seguimos para a afamada cascata de Pincães onde chegamos por um lindo trilho que acompanha uma levada. Uau! A cascata e o enquadramento são belíssimos. Depois das fotografias da praxe, seguimos, por trilho, ao longo da ribeira da Escalheira até à silha do urso do Muro. Uma desilusão. A silha (e o seu grande apiário) continua bem conservada, mas o monte envolvente tinha ardido havia poucos dias (já fomos mais felizes naquele local como pode ser constatado pelas imagens fotográficas). Daqui até ao fojo do lobo de Pincães (2) foi uma bela subida por um trilho assinalado, aqui e ali, por espetaculares mariolas. Este fojo, e as vistas que das suas imediações é possível apreciar, é um local inesquecível (lá longe, os picos Bicos Altos, Iteiro d´Ovos, Portas Ruivas, Borrageiro II e, mais perto, os vales dos rios Fafião, Laço e Pigarreira). Depois continuamos de miradouro em miradouro, de mariola em mariola por um trilho “à gerês” (mal definido, rochoso e sinuoso com, aqui e ali, lindas e majestosas mariolas), até às lagoas do Marinho (um prado amplo com duas lagoas bastante afastadas uma da outra e um “hostel” de montanha (Cabana do Penedão) com condições de acolhimento raras nas serras por onde temos andado.
Devorada a merenda, iniciamos a viagem de regresso por um trilho mariolado até a Chã da Pereira. Daqui até ao ponto de partida, em Pincães, foi só rolar por um desimpedido e rápido caminho rural.
4. Em síntese, diríamos que se trata de um percurso fabuloso (ao nível dos melhores que já fizemos no Gerês) com quatro pontos de passagem de referência: cascata de Pincães, silha e apiário do Muro, fojo do lobo de Pincães e Lagoas do Marinho. Os trilhos de ligação destes pontos são espetaculares como espetaculares são também as vistas panorâmicas que de diversos miradouros naturais é possível desfrutar. Ah e as mariolas? Um encanto.

5. Alertas:
O percurso:
• Não está marcado na sua totalidade. Encontram-se muitas mariolas que levam a onde se quiser ir desde que se saiba para onde e por onde ir (há mariolas por tudo quanto é trilho). A utilização do GPS é fundamental.
• Sem ser complicado, é duro do ponto de vista físico devido à distância a percorrer, à tecnicidade dos trilhos e à forte exposição solar (sobretudo no verão).
• Está inserido no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), mas não carece de autorização prévia do ICNF para grupos até 10 caminhantes.

1) Silha do Urso - uma construção antiga constituída por um muro circular em pedra que protegia as colmeias e o mel dos ataques dos ursos.
2) Fojo do lobo - construção ancestral constituída por duas paredes que convergem para um fosso, utilizada para capturar lobos.

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