Fafião-Portas Ruivas-Borrageiro-Pedra Negra...Bivaque-100Trilhos
near Fafião, Vila Real (Portugal)
Viewed 55 times, downloaded 6 times
Trail photos
Itinerary description
No silêncio da madrugada de sábado 23 de setembro, 4h00, ecoou impiedosamente o som do despertador para me arrancar do conforto e segurança do quarto. Arrastei-me penosamente até à cozinha, onde estagnada esperava por mim a mochila de 50 litros, compactada com o estritamente necessário, para mais um fim de semana de autonomia, com o grupo 100 Trilhos, que nos iria levar ao coração do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
O ponto de encontro foi na pacata localidade de Fafião, evocada pelo seu passado como a "aldeia onde o lobo era levado para morrer", conhecida hoje como a “Aldeia de Lobos”, que na sua reconciliação com o lobo, lhe dedica um festival de 3 dias em junho, com o objetivo de chamar a atenção para a necessidade de preservação desta espécie ameaçada.
De mochilas carregadas de expectativas e inquietações às costas, iniciamos a expedição de dois dias, percorrendo o trilho da Vezeira de Fafião, que nos levou, através de um carreiro sinuoso e vertiginoso até à barragem do Porto da Lage.
Num sobe e desce constante, num teste ao equilíbrio, lá fomos seguindo o curso do Rio Fafião, que gradualmente molda e esculpe a paisagem, surpreendendo-nos ao fazer surgir, lá no fundo, lagoas cristalinas de cor verde esmeralda e o vale de Fafião rasgado das entranhas da montanha. Chegamos à Barragem do Porto da Lage, onde o rio forma lagoas com a sua represa. Prosseguimos a expedição, passando pelo encantador Prado da Touça, em direção a Portas Ruivas. O terreno ficou ainda mais estreito e mais acidentado. À medida que trepamos para Portas Ruivas, a paisagem aparecia-nos mais selvagem e intocada. A vegetação reclamava o seu terreno, dificultando a progressão. Mas a imponente beleza da paisagem, granítica que se nos deparava a cada passo firme e suado para vencer a verticalidade, dava-nos forças para continuar.
Chegados ao alto do megalítico ‘colosso’ de Portas Ruivas (1277mts ⛰), sentimo-nos como se estivéssemos no epicentro de um vasto espetáculo natural, com montanhas e vales, estendendo-se até onde os olhos podem alcançar. Depois desta paragem contemplativa, descemos até ao curral de Portas Ruivas, um abrigo de montanha com a forma de um iglu.
Seguimos caminho em direção ao próximo marco icónico desta serra: o Prado da Messe, um oásis verdejante no seio da paisagem árida da serra. Era o local perfeito para uma pausa bem merecida, onde recarregamos as energias.
Retomamos a rota, em modo mais plano, em direção ao Prado do Conho, onde decidimos fazer uma breve pausa para reabastecer água para a noite.
O destino final para o dia estava agora à vista: o Alto do Borrageiro. Com as energias que nos restavam, começamos a subir pela encosta íngreme que nos levaria ao topo (1430 mts ⛰). O caminho era desafiador, mas a emoção de o atingir impulsionou-nos a continuar. À medida que subíamos, o sol começava a baixar no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Sabíamos que estávamos prestes a testemunhar um pôr do sol incrível no topo do Borrageiro.
Ofegantes e extasiados, chegamos à base onde iríamos pernoitar sob o céu estrelado. O sol era agora um grande disco de fogo, prestes a desaparecer abaixo do horizonte. Sentámo-nos em silêncio, maravilhados com o espetáculo diante de nós. As estrelas começaram a aparecer timidamente no céu escuro, prometendo uma noite estrelada inesquecível.
Montamos o bivaque num ponto estratégico, que o nosso guia experiente preparou para que ficássemos resguardados do vento, que já se fazia sentir e ouvir. À medida que a escuridão envolvia a montanha, sentimos uma profunda ligação com a natureza e uma gratidão imensa por ali estarmos. Já dentro dos sacos, contemplamos as estrelas que cintilavam como diamantes. Era como se estivéssemos em sintonia com o universo, em conexão com o cosmos. As dúvidas sobre o que nos leva a trocar o conforto e segurança do lar, para caminhar durante dois dias na montanha, cederam espaço para uma sensação de realização e de tranquilidade. Estávamos onde queríamos estar.
Aos primeiros raios de luz, começou o rebuliço dos corajosos que não queriam perder o espetáculo do nascer do dia. Para os outros, o despertar foi lento e preguiçoso, o ar gélido que se fazia sentir, prendia-nos dentro do saco de cama quente.
Depois de um reconfortante pequeno-almoço, arrumamos tudo cuidadosamente na nossa mochila, que agora estava mais leve, e partimos em direção ao desafio deste segundo dia: subir à majestosa Roca Negra. No cume somos brindados com uma panorâmica a 360 graus de pura magia. Apesar de não ser uma estreia, cada vez que chegamos ao topo, é como se fosse a primeira vez.
Após a Roca Negra, chegamos ao Prado da Rocalva, um oásis de vegetação exuberante e planícies verdejantes. Continuamos a jornada, cruzando o Prado do Vidoeiro, rumo à paisagem lunar da Sesta da Amarela nos proporcionou um local perfeito para descansar e contemplar as paisagens deslumbrantes que se estendiam diante de nós. De alma cheia de memórias visuais e sensoriais, reunimos forças para enfrentar mais uns quilómetros desafiantes para subir ao estradão que nos levaria de regresso à Aldeia de Fafião, o ponto de partida desta jornada.
O regresso não era apenas físico; era uma viagem de introspeção e de revelação. A montanha é um refúgio que nos revela a cada passo o que realmente importa.
🖋🖋 Na perspectiva de Maria Silva.
Obrigado pela excelente narração.
O ponto de encontro foi na pacata localidade de Fafião, evocada pelo seu passado como a "aldeia onde o lobo era levado para morrer", conhecida hoje como a “Aldeia de Lobos”, que na sua reconciliação com o lobo, lhe dedica um festival de 3 dias em junho, com o objetivo de chamar a atenção para a necessidade de preservação desta espécie ameaçada.
De mochilas carregadas de expectativas e inquietações às costas, iniciamos a expedição de dois dias, percorrendo o trilho da Vezeira de Fafião, que nos levou, através de um carreiro sinuoso e vertiginoso até à barragem do Porto da Lage.
Num sobe e desce constante, num teste ao equilíbrio, lá fomos seguindo o curso do Rio Fafião, que gradualmente molda e esculpe a paisagem, surpreendendo-nos ao fazer surgir, lá no fundo, lagoas cristalinas de cor verde esmeralda e o vale de Fafião rasgado das entranhas da montanha. Chegamos à Barragem do Porto da Lage, onde o rio forma lagoas com a sua represa. Prosseguimos a expedição, passando pelo encantador Prado da Touça, em direção a Portas Ruivas. O terreno ficou ainda mais estreito e mais acidentado. À medida que trepamos para Portas Ruivas, a paisagem aparecia-nos mais selvagem e intocada. A vegetação reclamava o seu terreno, dificultando a progressão. Mas a imponente beleza da paisagem, granítica que se nos deparava a cada passo firme e suado para vencer a verticalidade, dava-nos forças para continuar.
Chegados ao alto do megalítico ‘colosso’ de Portas Ruivas (1277mts ⛰), sentimo-nos como se estivéssemos no epicentro de um vasto espetáculo natural, com montanhas e vales, estendendo-se até onde os olhos podem alcançar. Depois desta paragem contemplativa, descemos até ao curral de Portas Ruivas, um abrigo de montanha com a forma de um iglu.
Seguimos caminho em direção ao próximo marco icónico desta serra: o Prado da Messe, um oásis verdejante no seio da paisagem árida da serra. Era o local perfeito para uma pausa bem merecida, onde recarregamos as energias.
Retomamos a rota, em modo mais plano, em direção ao Prado do Conho, onde decidimos fazer uma breve pausa para reabastecer água para a noite.
O destino final para o dia estava agora à vista: o Alto do Borrageiro. Com as energias que nos restavam, começamos a subir pela encosta íngreme que nos levaria ao topo (1430 mts ⛰). O caminho era desafiador, mas a emoção de o atingir impulsionou-nos a continuar. À medida que subíamos, o sol começava a baixar no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Sabíamos que estávamos prestes a testemunhar um pôr do sol incrível no topo do Borrageiro.
Ofegantes e extasiados, chegamos à base onde iríamos pernoitar sob o céu estrelado. O sol era agora um grande disco de fogo, prestes a desaparecer abaixo do horizonte. Sentámo-nos em silêncio, maravilhados com o espetáculo diante de nós. As estrelas começaram a aparecer timidamente no céu escuro, prometendo uma noite estrelada inesquecível.
Montamos o bivaque num ponto estratégico, que o nosso guia experiente preparou para que ficássemos resguardados do vento, que já se fazia sentir e ouvir. À medida que a escuridão envolvia a montanha, sentimos uma profunda ligação com a natureza e uma gratidão imensa por ali estarmos. Já dentro dos sacos, contemplamos as estrelas que cintilavam como diamantes. Era como se estivéssemos em sintonia com o universo, em conexão com o cosmos. As dúvidas sobre o que nos leva a trocar o conforto e segurança do lar, para caminhar durante dois dias na montanha, cederam espaço para uma sensação de realização e de tranquilidade. Estávamos onde queríamos estar.
Aos primeiros raios de luz, começou o rebuliço dos corajosos que não queriam perder o espetáculo do nascer do dia. Para os outros, o despertar foi lento e preguiçoso, o ar gélido que se fazia sentir, prendia-nos dentro do saco de cama quente.
Depois de um reconfortante pequeno-almoço, arrumamos tudo cuidadosamente na nossa mochila, que agora estava mais leve, e partimos em direção ao desafio deste segundo dia: subir à majestosa Roca Negra. No cume somos brindados com uma panorâmica a 360 graus de pura magia. Apesar de não ser uma estreia, cada vez que chegamos ao topo, é como se fosse a primeira vez.
Após a Roca Negra, chegamos ao Prado da Rocalva, um oásis de vegetação exuberante e planícies verdejantes. Continuamos a jornada, cruzando o Prado do Vidoeiro, rumo à paisagem lunar da Sesta da Amarela nos proporcionou um local perfeito para descansar e contemplar as paisagens deslumbrantes que se estendiam diante de nós. De alma cheia de memórias visuais e sensoriais, reunimos forças para enfrentar mais uns quilómetros desafiantes para subir ao estradão que nos levaria de regresso à Aldeia de Fafião, o ponto de partida desta jornada.
O regresso não era apenas físico; era uma viagem de introspeção e de revelação. A montanha é um refúgio que nos revela a cada passo o que realmente importa.
🖋🖋 Na perspectiva de Maria Silva.
Obrigado pela excelente narração.
Waypoints
You can add a comment or review this trail
Comments