Finis Terrae - 1ª etapa (Santiago - Negreira)
near Santiago de Compostela, Galicia (España)
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Trail photos
Itinerary description
Olhando, deixamos entrar na alma a beleza da grande Catedral. Orando, despedimo-nos e viramo-nos para onde foi outrora a Porta da Trinidade da velha e desaparecida Cerca de Santiago. Passeando o olhar à direita pela belíssima fachada do Hostal dos Reis Católicos e à esquerda pela "arcada" do Pazo de Raxoi, iniciamos a descida da Costa do Cristo para a Rúa das Hortas. À nossa frente ergue-se a fachada "churrigueresca" da Igrexa da Real Angustia, agora de San Fructuoso. Lucas Ferro Caaveiro desenhou-a para que fosse apreciada à altura do Obradoiro pelo que se centra na cornija superior a parte mais bela do monumento. Olham-nos lá do alto as Quatro Virtudes Cardeais convidando à reflexão: A Prudência - a mãe de todas as virtudes (Platão diria Sapiência); A Justiça - base do relacionamento humano; A Fortaleza - que nos leva à superação dos obstáculos; A Temperança - que evita os extremos. Quem possui todas elas?...
Em um nicho sobre o portal, de colunas ladeada, a Mãe com seu Filho morto ao colo é imagem piedosa e angustiada das mães sofredoras - a Real Angústia. Sabemos que no interior uma outra Senhora da Piedade centra o Altar Mor.
A Rúa das Hortas vai passando sob nossos passos enquanto os olhos deambulam de um para outro lado apreciando fachadas e "balcones". As hortas há muito que desapareceram. Ligeiros e frescos ainda, cá vamos pelo lageado ouvindo o ressoar das botas na pedra. A curva no caminho que à frente se vê impele que para trás olhe na esperança de um último adeus à Catedral, qual filho que parte e sabe que os pais não recolhem enquanto vista do filho houverem.
Passamos o Campo das Hortas, a Rúa do Pombal, a Rúa Poza do Bar e eis-nos já na rua de San Lourenzo entrando na "carballeira". Um maravilhoso reboredo estende-se adiante. Árvores anciãs que muitas gerações de peregrinos acariciaram com sua sombra, sombreiam-nos agora também. No meio uma fonte. É a Fonte da Mixirica. Feita em granito, perdeu-se no tempo e memória do povo a data da sua construção. Notícia é dada em "unha denuncia contra don José Eleicegui" datada de 1849. Antes não haverá outra. Os bancos à volta convidam desonestos, mas cedo ainda é para quem muito caminho tem pela frente.
À esquerda, por entre a ramagem dos velhos carvalhos, vislumbra-se um alto muro de pedra e, para lá daquele, a torre da igreja do antigo convento de San Lourenzo. Diz uma lenda que neste convento esteve encarcerado o bispo Pedro Muñiz el Nigromántico acusado de práticas ocultas, necromancia e bruxaria. Pedro Muñiz foi o bispo que consagrou a Catedral Românica de Santiago no ano de 1211. Extraordinariamente culto e eloquente, com uma biografia riquíssima, ser recordado pelo povo como bruxo... triste sina!...
De entre o que do convento sabemos destaco o que gostaria de ver: o retábulo do altar mor em mármore de Carrara e o jardim com as sebes de buxo podadas em forma de símbolos cristãos. Mas a hora é temporã pelo que do caminho nos não desviamos.
Descendo a Costa do Cano saímos da "carballeira" em direção à Ponte Sarela. Atravessamos o rio. Já não sente a velha ponte nossas botas pois de tantas que a pisaram mais umas são. Um Santiago em pedra aponta-nos a direção e deseja-nos "Animo".
Olhamos a antiga fábrica de curtumes que de Santaló, da Ribeira de San Lourenzo ou da Ponte de Sarela se chamou segundo gentes e épocas. Agora está convertida em habitações com prémio de arquitetura e alguma polémica, li eu. Neste rio foram imensas as fábricas de curtumes. Esta foi das últimas a finar-se. Funcionou entre finais do séc XVIII e o ano de 1950. Digamos que este rio deu um grande contributo à economia de Compostela e odor às terras que dele bebem.
O Camiño Regueiro leva-nos por bosque sombreado de ripícola vegetação. Passamos o Rego Bar por pequena ponte de grandes pedras alinhadas. Chegamos a Sarela de Baixo e, olhando ao longe, dizemos um derradeiro adeus à Catedral.
As Moas de Baixo e de Riba já para trás ficaram e chegamos ao Carballal.
Um hórreo bem cuidado em casa rural gallega restaurada atrai nosso olhar. Por muitos que passemos, exóticos sempre os acharemos de tão peculiares que são. Os prados à volta mantêm a frescura que lhes dá a água do Rego de Porto Marelo.
As povoações vão passando. As casas dispersas, estão plantadas numa paisagem rural de verdes tons ainda que o outono já espreite. Os hórreos nos jardins, recuperados têm agora função decorativa. Um cruzeiro dentro de muros numa antiga mansão restaurada, talhado como se de tronco de carvalho se tratasse, mostra duas imagens a meio que não identificamos. Passamos Quintáns. Descemos para o vale do Roxos que atravessamos por ponte medieval. Ao lado do rio, olhando o suave deslizar da água refletindo ramagens e azul celeste, está um espaço de merendas tão agradável que apetece ficar e desfrutar da quietude e beleza. Mas não... temos caminho para andar. Vamo-nos.
Passamos a Cascalleira e eucaliptos, pisamos asfalto e as pernas já vão menos frescas. E chegamos à Meson Alto do Vento. Um belo restaurante que já é sítio de culto entre peregrinos. Convida a uma bebida. Mas não ainda.
Seguimos pelo passeio da AC-453. Hórreos e belos jardins com videiras em latada. Cheira a Minho mas é Galiza.
Deixamos Ventosa para trás.
Chegamos a Augapesada. A velha ponte medieva que serviu o Camiño Real de Santiago a Fisterra sobre o Rego dos Pasos mantém-se de pé orgulhosa do serviço prestado.
Por caminho empedrado ao lado de grandes casarões em pedra começamos a subir para o Alto do Mar de Ovelhas.
O piso do Camiño Real não será o mesmo de outrora, tão pouco a vegetação é o que foi. Os eucaliptos foram aparecendo por aqui mas ainda existem algumas zonas com árvores autóctones de grande beleza. Não sendo grande, a subida custa. Por isso, aqui e ali aparece um banco à beira do caminho, convite mudo, mas sugestivo, ao descanso. Agora uma área de repouso com bancos e fonte. É a Fonte do Mar de Ovelhas. Outrora destas fontes se bebia, agora... mais vale prevenir.
Descemos ajudados por todos os santos e a beleza da paisagem do Vale de A Maia. Aquele santo que coxo era e nos ajudou na subida ficou descansando junto da fonte. Passamos o Carvallo. De um e outro lado belas são as casas, as quintas e as vinhas.
Aqui um cruzeiro lembra alguém aqui finado há quase duzentos anos.
Ao longe o cimo de um campanário antigo em granito domina a aldeia. É a torre da igreja de Santa Maria de Trasmonte. Passamos afastados mas parece ser um belo exemplar do barroco galego.
Reino, assim se chama a povoação em que entramos agora. Andando vamos a pensar no topónimo. Se encontrar alguém da terra pergunto a razão do nome.
Ponte Maceira. Lá em baixo, de "la presa" a água do Tambre desce cantando em cascata de espuma branca. Os penedos e a vegetação que a água beija dão um encanto de frescura ao rio. A Ponte Vella, data do séc XIII ou XIV, construída onde outra terá existido, romana porventura que dela o tempo perdeu a memória. Diz-se que sobre essa pelejaram as hostes do arcebispo Diego Gelmírez contra as de Froilaz de Trava na guerra que os gallegos fidalgos moveram contra D. Urraca para que aclamado rei fosse o jovem Alfonso. Pedro Froilaz de Trava foi pai dos dois amantes de D. Tereza de Portugal: primeiro Bermudo Perez e depois Fernão Perez. Natural será que alguns soldados "portucalenses" possam ter participado na Batalha. Uma mais longeva lenda faz o povo crer que essa antiga ponte seria a "perdida" Ponte Pias, relacionada com a "traslatio", derrubada por ação divina para proteger na fuga Atanásio e Teodoro que libertos haviam sido por angélica mão da prisão de Dungium. Mas... pasme-se!... todas as pontes que sobre o Tambre existiram têm alguém que reclama igual estatuto.
Desçamos por aqui até juntinho da água límpida. Olhamos a velha ponte: tem cinco arcos principais de diferentes aberturas, sendo que o central é ogival. Quase despercebidos passam os dois pequenos arcos "aliviaderos". Atravessamos agora
apreciando a "presa" os moinhos e "el Pazo Baladrón" com seu belo jardim, hórreos e cruzeiro. Privado na posse e na discrição, li que data a sua construção de entre 1945 e 1955 mas também li que tem partes do século XVIII, vai-se lá saber. À nossa frente, aparece a "capilla de San Brais" ou de "San Blas" em tempos idos dedicada à "Virxe do Carme". Pelo talhado e tom da pedra nota-se que a abside foi de construção posterior ao corpo do templo, sendo este do séc. XVIII. Desviamo-nos à direita e descemos aos moinhos. Nas lajes de um a "estrela de David " desenhada denuncia quem o possuiu. Por aqui ficámos saboreando o murmúrio da água e a merenda que na mochila já pesava.
Retomamos o caminho. O pequeno povoado tem asseio no aspeto e no gosto de quem cá mora. Considerado entre os mais belos de Espanha, orgulha-se disso o povo e eu não contesto.
Para trás vai ficando a ponte, a capela, os moinhos, o paço, o Tambre, a presa, as águas límpidas... e, subindo por esta estrada empedrada, não tarda que fique também o belo povoado. Passamos por muda casa brasonada e não há por aqui quem dela fale. Agora um antigo cruzeiro. Sobre o capitel e as cabeças dos anjos, nele talhadas, "o Crucificado" de um lado e "a Dolorosa" do outro. Na base está o nome de quem o ofertou, a quem, em que ano e quem foi o autor. Esclarecedor!
Deixamos o caminho empedrado para entrar no asfalto. Uma velha fonte, com mais antigo aspeto que o cruzeiro atrás, tem o nome, escrito em placa moderna e azul que diz "Fonte do Cruce de Ponte Maceira". Duvido que esse tenha sido seu nome de nascença.
Passamos por baixo da "Ponte Nova" e o mesmo faz o Tambre a nosso lado. Atravessamos uma verdejante veiga na direção de um moderno viaduto que serve viajantes mais apressados.
Passámos Outeiros, A Barca, cujo topónimo imaginamos ligado a antiga travessia do Tambre, e fartos de asfalto chegamos a Chancela. À nossa esquerda um alto muro de pedra separa-nos dos belos jardins do "Pazo de Albariña, de Varela ou del Capitán". Passamos à frente do portão ladeado de colunas cilíndricas. Espreitamos mas não vai longe a nossa curiosidade. Por público não ser, é-nos vedado o acesso. Continuamos em frente recordando a lenda de "amor eterno" que dois pinheiros cantavam ao enterlaçar os ramos em noites de ventania. Debaixo deles foram sepultados os corpos decapitados simultaneamente de Bernaldo e Munia. Conta a lenda que um descuido de Munia fez com que se afogasse no rio o pequeno filho do senhor do paço deixado ao seu cuidado. Ordena o senhor a sua morte imediata. Pede clemência Bernaldo, seu esposo, e oferece seu pescoço ao fio do machado. Enquanto o verdugo levanta o mortífero instrumento Munia coloca sua cabeça junto da do amado. Assim morrem em simultâneo e juntos são enterrados por baixos daqueles pinheiros.
Passamos o Rego de Doumes e eis-nos entrando em Negreira, a vila capital de A Barcala. Diz a história ter sido a Nicraria Tamara da antiga "Via Per Loca Marítima" que de Aquae Celenis (Caldas de Reys) seguia até Gradinmirum (Ponte Brandomil) e... nós acreditamos. Apanhamos um atalho para o albergue onde não tardamos A chegar. Todo o corpo clama um bom duche e a alma descontrai grata por mais esta etapa concluída. Deo gratias!
Em um nicho sobre o portal, de colunas ladeada, a Mãe com seu Filho morto ao colo é imagem piedosa e angustiada das mães sofredoras - a Real Angústia. Sabemos que no interior uma outra Senhora da Piedade centra o Altar Mor.
A Rúa das Hortas vai passando sob nossos passos enquanto os olhos deambulam de um para outro lado apreciando fachadas e "balcones". As hortas há muito que desapareceram. Ligeiros e frescos ainda, cá vamos pelo lageado ouvindo o ressoar das botas na pedra. A curva no caminho que à frente se vê impele que para trás olhe na esperança de um último adeus à Catedral, qual filho que parte e sabe que os pais não recolhem enquanto vista do filho houverem.
Passamos o Campo das Hortas, a Rúa do Pombal, a Rúa Poza do Bar e eis-nos já na rua de San Lourenzo entrando na "carballeira". Um maravilhoso reboredo estende-se adiante. Árvores anciãs que muitas gerações de peregrinos acariciaram com sua sombra, sombreiam-nos agora também. No meio uma fonte. É a Fonte da Mixirica. Feita em granito, perdeu-se no tempo e memória do povo a data da sua construção. Notícia é dada em "unha denuncia contra don José Eleicegui" datada de 1849. Antes não haverá outra. Os bancos à volta convidam desonestos, mas cedo ainda é para quem muito caminho tem pela frente.
À esquerda, por entre a ramagem dos velhos carvalhos, vislumbra-se um alto muro de pedra e, para lá daquele, a torre da igreja do antigo convento de San Lourenzo. Diz uma lenda que neste convento esteve encarcerado o bispo Pedro Muñiz el Nigromántico acusado de práticas ocultas, necromancia e bruxaria. Pedro Muñiz foi o bispo que consagrou a Catedral Românica de Santiago no ano de 1211. Extraordinariamente culto e eloquente, com uma biografia riquíssima, ser recordado pelo povo como bruxo... triste sina!...
De entre o que do convento sabemos destaco o que gostaria de ver: o retábulo do altar mor em mármore de Carrara e o jardim com as sebes de buxo podadas em forma de símbolos cristãos. Mas a hora é temporã pelo que do caminho nos não desviamos.
Descendo a Costa do Cano saímos da "carballeira" em direção à Ponte Sarela. Atravessamos o rio. Já não sente a velha ponte nossas botas pois de tantas que a pisaram mais umas são. Um Santiago em pedra aponta-nos a direção e deseja-nos "Animo".
Olhamos a antiga fábrica de curtumes que de Santaló, da Ribeira de San Lourenzo ou da Ponte de Sarela se chamou segundo gentes e épocas. Agora está convertida em habitações com prémio de arquitetura e alguma polémica, li eu. Neste rio foram imensas as fábricas de curtumes. Esta foi das últimas a finar-se. Funcionou entre finais do séc XVIII e o ano de 1950. Digamos que este rio deu um grande contributo à economia de Compostela e odor às terras que dele bebem.
O Camiño Regueiro leva-nos por bosque sombreado de ripícola vegetação. Passamos o Rego Bar por pequena ponte de grandes pedras alinhadas. Chegamos a Sarela de Baixo e, olhando ao longe, dizemos um derradeiro adeus à Catedral.
As Moas de Baixo e de Riba já para trás ficaram e chegamos ao Carballal.
Um hórreo bem cuidado em casa rural gallega restaurada atrai nosso olhar. Por muitos que passemos, exóticos sempre os acharemos de tão peculiares que são. Os prados à volta mantêm a frescura que lhes dá a água do Rego de Porto Marelo.
As povoações vão passando. As casas dispersas, estão plantadas numa paisagem rural de verdes tons ainda que o outono já espreite. Os hórreos nos jardins, recuperados têm agora função decorativa. Um cruzeiro dentro de muros numa antiga mansão restaurada, talhado como se de tronco de carvalho se tratasse, mostra duas imagens a meio que não identificamos. Passamos Quintáns. Descemos para o vale do Roxos que atravessamos por ponte medieval. Ao lado do rio, olhando o suave deslizar da água refletindo ramagens e azul celeste, está um espaço de merendas tão agradável que apetece ficar e desfrutar da quietude e beleza. Mas não... temos caminho para andar. Vamo-nos.
Passamos a Cascalleira e eucaliptos, pisamos asfalto e as pernas já vão menos frescas. E chegamos à Meson Alto do Vento. Um belo restaurante que já é sítio de culto entre peregrinos. Convida a uma bebida. Mas não ainda.
Seguimos pelo passeio da AC-453. Hórreos e belos jardins com videiras em latada. Cheira a Minho mas é Galiza.
Deixamos Ventosa para trás.
Chegamos a Augapesada. A velha ponte medieva que serviu o Camiño Real de Santiago a Fisterra sobre o Rego dos Pasos mantém-se de pé orgulhosa do serviço prestado.
Por caminho empedrado ao lado de grandes casarões em pedra começamos a subir para o Alto do Mar de Ovelhas.
O piso do Camiño Real não será o mesmo de outrora, tão pouco a vegetação é o que foi. Os eucaliptos foram aparecendo por aqui mas ainda existem algumas zonas com árvores autóctones de grande beleza. Não sendo grande, a subida custa. Por isso, aqui e ali aparece um banco à beira do caminho, convite mudo, mas sugestivo, ao descanso. Agora uma área de repouso com bancos e fonte. É a Fonte do Mar de Ovelhas. Outrora destas fontes se bebia, agora... mais vale prevenir.
Descemos ajudados por todos os santos e a beleza da paisagem do Vale de A Maia. Aquele santo que coxo era e nos ajudou na subida ficou descansando junto da fonte. Passamos o Carvallo. De um e outro lado belas são as casas, as quintas e as vinhas.
Aqui um cruzeiro lembra alguém aqui finado há quase duzentos anos.
Ao longe o cimo de um campanário antigo em granito domina a aldeia. É a torre da igreja de Santa Maria de Trasmonte. Passamos afastados mas parece ser um belo exemplar do barroco galego.
Reino, assim se chama a povoação em que entramos agora. Andando vamos a pensar no topónimo. Se encontrar alguém da terra pergunto a razão do nome.
Ponte Maceira. Lá em baixo, de "la presa" a água do Tambre desce cantando em cascata de espuma branca. Os penedos e a vegetação que a água beija dão um encanto de frescura ao rio. A Ponte Vella, data do séc XIII ou XIV, construída onde outra terá existido, romana porventura que dela o tempo perdeu a memória. Diz-se que sobre essa pelejaram as hostes do arcebispo Diego Gelmírez contra as de Froilaz de Trava na guerra que os gallegos fidalgos moveram contra D. Urraca para que aclamado rei fosse o jovem Alfonso. Pedro Froilaz de Trava foi pai dos dois amantes de D. Tereza de Portugal: primeiro Bermudo Perez e depois Fernão Perez. Natural será que alguns soldados "portucalenses" possam ter participado na Batalha. Uma mais longeva lenda faz o povo crer que essa antiga ponte seria a "perdida" Ponte Pias, relacionada com a "traslatio", derrubada por ação divina para proteger na fuga Atanásio e Teodoro que libertos haviam sido por angélica mão da prisão de Dungium. Mas... pasme-se!... todas as pontes que sobre o Tambre existiram têm alguém que reclama igual estatuto.
Desçamos por aqui até juntinho da água límpida. Olhamos a velha ponte: tem cinco arcos principais de diferentes aberturas, sendo que o central é ogival. Quase despercebidos passam os dois pequenos arcos "aliviaderos". Atravessamos agora
apreciando a "presa" os moinhos e "el Pazo Baladrón" com seu belo jardim, hórreos e cruzeiro. Privado na posse e na discrição, li que data a sua construção de entre 1945 e 1955 mas também li que tem partes do século XVIII, vai-se lá saber. À nossa frente, aparece a "capilla de San Brais" ou de "San Blas" em tempos idos dedicada à "Virxe do Carme". Pelo talhado e tom da pedra nota-se que a abside foi de construção posterior ao corpo do templo, sendo este do séc. XVIII. Desviamo-nos à direita e descemos aos moinhos. Nas lajes de um a "estrela de David " desenhada denuncia quem o possuiu. Por aqui ficámos saboreando o murmúrio da água e a merenda que na mochila já pesava.
Retomamos o caminho. O pequeno povoado tem asseio no aspeto e no gosto de quem cá mora. Considerado entre os mais belos de Espanha, orgulha-se disso o povo e eu não contesto.
Para trás vai ficando a ponte, a capela, os moinhos, o paço, o Tambre, a presa, as águas límpidas... e, subindo por esta estrada empedrada, não tarda que fique também o belo povoado. Passamos por muda casa brasonada e não há por aqui quem dela fale. Agora um antigo cruzeiro. Sobre o capitel e as cabeças dos anjos, nele talhadas, "o Crucificado" de um lado e "a Dolorosa" do outro. Na base está o nome de quem o ofertou, a quem, em que ano e quem foi o autor. Esclarecedor!
Deixamos o caminho empedrado para entrar no asfalto. Uma velha fonte, com mais antigo aspeto que o cruzeiro atrás, tem o nome, escrito em placa moderna e azul que diz "Fonte do Cruce de Ponte Maceira". Duvido que esse tenha sido seu nome de nascença.
Passamos por baixo da "Ponte Nova" e o mesmo faz o Tambre a nosso lado. Atravessamos uma verdejante veiga na direção de um moderno viaduto que serve viajantes mais apressados.
Passámos Outeiros, A Barca, cujo topónimo imaginamos ligado a antiga travessia do Tambre, e fartos de asfalto chegamos a Chancela. À nossa esquerda um alto muro de pedra separa-nos dos belos jardins do "Pazo de Albariña, de Varela ou del Capitán". Passamos à frente do portão ladeado de colunas cilíndricas. Espreitamos mas não vai longe a nossa curiosidade. Por público não ser, é-nos vedado o acesso. Continuamos em frente recordando a lenda de "amor eterno" que dois pinheiros cantavam ao enterlaçar os ramos em noites de ventania. Debaixo deles foram sepultados os corpos decapitados simultaneamente de Bernaldo e Munia. Conta a lenda que um descuido de Munia fez com que se afogasse no rio o pequeno filho do senhor do paço deixado ao seu cuidado. Ordena o senhor a sua morte imediata. Pede clemência Bernaldo, seu esposo, e oferece seu pescoço ao fio do machado. Enquanto o verdugo levanta o mortífero instrumento Munia coloca sua cabeça junto da do amado. Assim morrem em simultâneo e juntos são enterrados por baixos daqueles pinheiros.
Passamos o Rego de Doumes e eis-nos entrando em Negreira, a vila capital de A Barcala. Diz a história ter sido a Nicraria Tamara da antiga "Via Per Loca Marítima" que de Aquae Celenis (Caldas de Reys) seguia até Gradinmirum (Ponte Brandomil) e... nós acreditamos. Apanhamos um atalho para o albergue onde não tardamos A chegar. Todo o corpo clama um bom duche e a alma descontrai grata por mais esta etapa concluída. Deo gratias!
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Ponte medieval Românica de Augapesada. Por aqui passava a Estrada Real de Santiago a Fisterra
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