De Rio-Frio a Bragança pelo caminho medieval
near Rio Frio, Bragança (Portugal)
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Itinerary description
Waypoints
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Era nesta taberna, em Rio-Frio, que os almocreves e outros viajantes repunham os níveis e davam descanso aos animais. Era a última paragem. Daqui a Bragança o caminho era feito de uma só vez, sem paragens. O Cruzeiro do Espirito Santo era o ponto de encontro dos viajantes e a referência para a partida. Ponto de encontro entre a rua do Castro (promontório no topo da escola primária onde nasceu Rio-Frio), para W (no canto direito da foto) e a rua do Espirito Santo que, do lado sul, conduz à igreja matriz, dedicada à Senhora da Assunção.
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A água corrente deste ribeiro era retida em poços ao ar livre para, na primavera, lavar a roupa: os dias de barrela - lençóis, cobertores e afins, de molho, esfregados e a corar. Era dia de festa para a miudagem que passava o dia fora de casa em total liberdade e brincadeira. Para as mulheres era dia de atualização das "novidades na aldeia" porque, enquanto a roupa corava, havia tempo disponível para afiar a palavra.
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Ainda madrugada o adeus a Rio-Frio e o vislumbre do que espera estes caminheiros em romagem de resgate das memórias, faladas pelas ruas de Rio-Frio
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A autoestrada transmontana, A 4, acompanha e nalguns locais sobrepõe-se a grande parte deste caminho medieval. Deste local é possível observar todo o trajeto até Bragança, por trás da antena de telecomunicações. Para Oeste é possível observar o vale do Sabor e a Serra de Nogueira (a Senhora da Serra). Este local separava definitivamente os terrenos de Rio-Frio dos das Quintas do Vilar. Para trás, no vale anterior, ficaram as hortas e lameiros, os frondosos freixos e as canadas de Cabanas. Mudam-se os tempos e as vontades reciclam as velhas banheiras, transformando-as em bebedouros para o gado, em lameiros ressequidos pelo calor do verão, evitando o trabalho de, com terra, suster a água em velhos poços.
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À entrada das Quintas, como era vulgarmente conhecido este lugar, existem duas opções de caminho. À direita, na direção da ponte românica, em alcatrão desde as obras da A4, 586m numa descida de 8,3%, que permite evitar a passagem pelo interior das Quintas. À esquerda, 1010m numa descida de 5,8%, passando pelo interior do lugar, em calçada e terra batida. Aconselho este último para poupar os músculos e observar um lugar que durante muitos anos esteve perdido entre a agricultura e os montes. A ponte românica será atingida por qualquer dos caminhos. Para Norte é possível observar as elevações da Lombada.
Quintas do Vilar
O lugar das Quintas pertencia à antiga Freguesia de Milhão que, na reorganização administrativa de 2013, se reuniu à antiga Freguesia de Rio-Frio. Era lugar com poucos habitantes, isolada no meio de montes, para quem os viajantes representavam as noticias frescas do mundo. Em dias de festa, um trator carregado de jovens festeiros vindos de Rio-Frio, duplicava as presenças no recinto do baile.
Ponte da Ribeira do Porto
Descrição no Portal do Arqueólogo da Direção Geral do Património Cultural: «Pequena ponte em xisto, sobre a ribeira do Porto. O tabuleiro apresenta um ligeiro cavalete, e o piso apresenta alguns vestígios da antiga calçada, feita com seixos. Conserva ainda as guardas. Tem um só arco, de volta perfeita. Pelo seu aspecto, deverá ter tido obras no período moderno, mas tem alguns aspectos tipologicos de origem medieval, e encontra-se inserida numa antiga via medieval, que ligava Bragança a Outeiro» Era neste local que as gentes vindas da Freguesia de Milhão e do lugar de Vale de Prados se reuniam ao caminho para Bragança. O caminho à saída da ponte da Ribeira do Porto ficou sepultado sob a A4 num pequeno troço. Depois de um pequeno S, para não estafar os animais, o antigo caminho subia para a encosta sobranceira à A4. Foi construído um caminho paralelo à auto estrada, mais curto e com pouco desnível, mas que não existia antigamente. Para tomar o caminho antigo é preciso passar sob as pontes da A4 e subir até ao encontro de outro caminho vindo de Vale de Prados. Aí vira-se à esquerda e, passados 250m, retomamos o traçado antigo. São 650m desde a ponte até retomar o traçado antigo.
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Deste local, olhando para Este, é possível observar, da direita para a esquerda: - lugar das Quintas do Vilar; - Ponte da A4 e ponte da Ribeira do Porto; - Monte do Crasto ou da Terronha (onde existe o Castro de Vilar, dizem em Milhão); - lugar de Vale de Prados (a meia da foto, no vale onde confluem os vários montes). No monte do Crasto, segundo o Portal do Arqueólogo da Direção Geral do Património Cultural, existiu um «Povoado fortificado de médias dimensões (…) O colo de acesso preferencial fica do lado Leste. O povoado apresenta-se como um recinto de forma elíptica, alongado no sentido Leste-Oeste. Tem vestígios, já pouco evidentes, de ter um torreão em cada um dos extremos, unidos por uma única linha de muralha, visível apenas pelo seu talude. No interior do povoado surgem à superfície diversos afloramentos, em vários dos quais aparecem cavidades circulares que serão buracos de poste. No interior do povoado, ocupado por mato, são escassos os materiais de superfície, mas a zona do colo de acesso a Leste é ocupada com um souto, regularmente lavrado, e aí aparecem diversos fragmentos de cerâmica manual, enquadrável na Idade do Ferro.» Mais para leste há «Evidência de vestígios de muralhas, que parecem ter sido construídos em época romana, na medida em que os muros apresentam-se mais extensos e dobrados.»
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Uma das muitas corriças (edifício de propriedade particular, com paredes de pedra solta e telhado de lousa, destinado à dormida de ovelhas e cabras das aldeias locais) que se observam ao longo do caminho. Algumas delas, em dias de tempestade ou muito cansaço, após pedido no local quando o pastor estava presente, serviam de abrigo temporário aos viajantes que, normalmente, não era recusado.
Corriça
Uma corriça que ainda preserva a forma tradicional. Antes desta corriça, a 400m, o caminho seguia pela direita em relação ao troço percorrido. O caminho antigo, sobranceiro ao existente e destruído pela A-24, tendo sido acrescentada uma passagem agrícola, descrevia um gancho pronunciado junto desta corriça antes de descer, acentuadamente, pela ladeira do rio Sabor.
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Vista para o Rio Sabor, com a ponte da A4 e a ponte Valbom, e para o Monte Guieiro (770m - de onde é possível dominar o troço do rio Sabor até Gimonde).
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Antiga corriça em ruinas, situada na margem esquerda do Sabor, a meio da descida da ladeira. Esta tem a particularidade de assentar sobre uma fraga (penhasco de xisto) dispensando a parede traseira.
Ponte de Valbom
A ponte sobre o rio Sabor, ponte de Valbom, era o "Cabo das tormentas" deste caminho. Fica exatamente a meio do percurso entre Rio-Frio (7,75Km segundo o Google) e Bragança. É o local com maior declive no sentido do nosso caminho: 115m a descer ao longo de 817m para o rio Sabor e 135m a subir durante 1160m desde o rio. Ufa!!! Era nas suas redondezas que, com lábia e manha, gente ardilosa acrescentava uns cobres extras e rapazes, afirmando a condição de homem, disputavam carreiras de subidas e descidas. Muitas estórias teria para contar se a ponte de Valbom falasse! Segundo o Portal do Arqueólogo estava « integrada no antigo caminho medieval que ligava Bragança a Outeiro. É construída em xisto, em tabuleiro em cavalete, mantendo uma calçada antiga, e mantendo igualmente as guardas. As entradas são em ângulo. Apresenta quatro arcos, todos de volta perfeita, com o arco central muito aberto, levemente rebaixado. Nos princípios do século XIX terá tido amplas obras de restauro, assinaladas por umas alminhas à entrada, com a data de 1828. Estas obras, no entanto, terão respeitado a traça original, e a ponte mantém-se em bom estado de conservação.»
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Vencida a subida é tempo de olhar para trás e ver os obstáculos vencidos desde Rio-Frio, lá no alto, junto ao pinhal, recortado no horizonte. Rio-Frio é o ponto mais elevado deste percurso (772m), a ponte de Valbom o mais baixo (493m) e o Castelo de Bragança (698m) o segundo mais elevado. A A4 sobrepôs-se ligeiramente ao trajeto do caminho, neste local. Imediatamente antes de terminar a subida, havia uns "arrouços para poupar os animais". O caminho atual retoma o traçado original no topo norte da passagem superior agora existente.
Quinta de Vale das Ratas
Era um ponto significativo no deslocamento para Bragança. Atingida a Quinta de Vale das Ratas estavam ultrapassadas as dificuldades do percurso. Daqui até Bragança era um passeio. Era local para alguns procurarem abrigo ou retemperar forças antes de chegar a Bragança. É o momento de despedida do Sabor e de olhar para o Castelo de Bragança.
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Na descida para o lugar da Seara surge a primeira vista para o Castelo de Bragança. O panorama para Norte estende-se desde a aldeia de Gimonde às alturas de Puebla de Sanábria, cobertas de neve no inverno. Para Sul e Sudeste observam-se as Serras de Nogueira e Bornes.
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Depois da Seara, uma ligeira subida por caminho pedregoso, a rua dos Olivais, entre a Quinta do Marrão a Norte e a Quinta dos Diogos a Sul, pela crista do monte de São Sebastião.
Rua dos Olivais
Pelo topo do monte de São Sebastião, ao longo da rua dos Olivais, em terra batida. À esquerda é possível observar o rio Fervença que vai desaguar no rio Sabor, em Rio Frio, a sul do monte das freiras, no Porto das Areias. Em futuras caminhadas visitaremos estas histórias.
São Sebastião
O cruzeiro de São Sebastião apresenta uma base quadrangular com inscrições ilegíveis.
Capela de São Sebastião
São Sebastião é uma verdadeira encruzilhada: Capela, Escola primária, proximidade da Igreja e Convento de São Francisco e local de passagem da via romana XVII do traçado de Antonino que, através de Gimonde e Babe, se dirigia para Espanha, para terras de Aliste. É também local de passagem dos peregrinos que, pelo caminho moçárabe, vindos de Sevilha, desviam em Zamora, por Bragança e Vinhais, em direção a Segirei, em Espanha.
Porta do Sol
Trata-se da porta do castelo voltada a nascente. Oposta a esta encontra a dupla "Porta da Vila". A uni-las existe a rua principal que, atravessando o burgo, era a via principal da estrutura urbana medieval.
Castelo de Bragança
Castelo de Bragança: A vila medieval de Bragança foi fundada em finais do século XII por D. Sancho I e teve uma origem pelo menos na época romana. A construção do atual castelo deve-se a D. João I, na primeira metade do século XIV. Com a expansão das casas para fora do muro primitivo, foi erguida uma segunda cerca no século XV, da qual pouco ou nada resta. Ao longo da época moderna, muitas alterações foram feitas, com destaque para obras de fortificação das muralhas, no século XVIII, de que ainda são visíveis alguns vestígios. No interior, destacam-se a imponente torre de menagem e a torre da princesa. Igreja de Santa Maria: o templo de Santa Maria da Assunção, do Sardão na tradição popular, tem origem medieval de que pouco ou nada resta. O templo atual, erigido no 3º quartel de quinhentos, tem três naves com arcos apoiados em colunas de tijoleira mudéjar. O portal é pseudo-barroco (1701-1715). Domus Municipalis: Ao lado da igreja ficam os paços do concelho, conhecidos por "Domus Municipalis". É um edifício de arquitetura civil, de traça românica tardia, datável do século XIV. De planta pentagonal irregular, foi construído por cima da cisterna da vila, razão pela qual o piso interno é muito mais elevado que o externo. Atualmente, o interior é uma só sala, em cujas paredes se encontram embutidos bancos de pedra. Num deles, encontra-se gravado um tabuleiro de jogo. Por cima dos bancos, corre por todos os lados uma sequência de janelas em arco, tendo por cima a cachorrada que se repete no exterior do edifício. Os cachorros ostentam motivos antropomórficos, zoomórficos e vegetais. Nas paredes externas do edifício, várias pedras apresentam siglas de canteiro. Porca da Vila: A chamada "Porca da Vila" de Bragança é uma estátua zoomórfica de granito, representando um porco macho. Encontra-se colocada sobre o pedestal do pelourinho de Bragança, o qual foi colocado atravessando o dorso da estátua. Esta tem cerca de dois metros de comprimento por 70 centímetros de altura. A cabeça apresenta o característico focinho de porco. A parte traseira apresenta explicitamente a representação dos órgãos sexuais masculinos.
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A vista a partir da primeira linha de muralhas, mandada construir por D. João I, é extraordinária em todas as direções. Destaca-se a vista para nascente, sobre o caminho percorrido desde Rio-Frio.
Terminus
Seja na Tasca do Zé Tuga ou com vista para a Domus: a merecida recuperação!
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