Caminhos de Fátima - Caminho do Tejo (4ª jornada)
near Ribeira de Santarém, Santarém (Portugal)
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Trail photos
Itinerary description
Iniciamos esta jornada já manhã alta mas não tão alta que diluisse uma brisa fresca que nos manteve encasacados enquanto, subindo, seguimos até ao cimo da Rua Comandante José Carvalho para nos reencontrarmos com o caminho sinalizado. Vamos agora, obedientemente, segui-lo durante os próximos 26 quilómetros para, então, deixar o novo traçado às portas dos Amiais e seguirmos, no último quilómetro, o antigo caminho que nos há de levar aos Olhos de Água do Alviela, término desta jornada.
Dez quilómetros de asfalto, ruído, fumo de escapes e o iniciar de uma quente manhã trazem-nos até Azoia de Baixo.
Raros foram os motivos de interesse até aqui. Um ou outro pormenor na decoração dos jardins ou paredes das habitações mas nada que nos capturasse a atenção. Teria sido um óptimo tempo de meditação não fora o ruído constante das viaturas e a atenção necessária para evitar acidentes.
Finalmente, aqui algo desperta a nossa atenção: uma escola. Uma escola igual a tantas outras, no entanto o nome de Alexandre Herculano trouxe-me à memória um facto que, arrumadinho, permanecia na minha memória: Alexandre, desiludido com os "tempos" de então, teria confessado, em epístola a Almeida Garrett, o seu desejo de viver "entre 4 Serras", dispor de "algumas leiras" e nelas viver de "botas grosseiras" nos pés e "chapéu de Braga" na cabeça. As "leiras" foram a Quinta de Vale de Lobos aqui em Azoia de Baixo, onde morreria, como agricultor abastado, em 1877. Hoje repousa nos Jerónimos por tributo à sua obra, o que, para um anticlericalista, não me parece que seja o que quereria. Porque não o Panteão?... Este "bravo do Mindelo", cuja pena mais importante foi que a espada, decerto que mais em paz repousaria ali.
As casas térreas, com cores tão portuguesas, que no tempo parecem esperar, fazem-nos pensar que, a qualquer momento, Herculano aparecerá talvez montando um belo cavalo ou conduzindo uma charrete ou carroça com sacos de azeitona dos grandes olivais que cultivava.
Perigosos estes pensamentos porque a estrada de asfalto onde caminhamos tem curvas sem visibilidade e sem bermas que nos protejam.
Aleluia!... a sinalização indica que vamos entrar num estradão de terra batida e, logo ali uma agradável surpresa: "O Cantinho dos Peregrinos" e o simpático "zelador do Caminho" o octogenário senhor Francisco Torres. Numa amena cavaqueira, descansamos e aprendemos. Não saímos sem o carimbo ainda que não tragamos a credencial. Estar ali, em missão, será melhor que o inevitável lar de 3ª idade.
À frente, não mais que um centena de metros, um olival apresenta espécimes que já mais que dobraram a idade do senhor Francisco.
A terra batida acaba 2 kms adiante. De novo o asfalto, em estrada rural, leva-nos a Santos. Nesta aldeia a Associação local recebe e apoia os peregrinos. Trouxemos cartão: tel. 243478007. Servem refeições e podem albergar peregrinos.
Almoçámos e voltamos ao asfalto mas depressa entramos em terra batida numa estrada que nos leva até muito perto dos Casais da Milheiriça. A seguir vem o Arneiro que passamos com pressa. Não sei se perdemos alguma coisa. A povoação é antiga, diz-se que por aqui passou D. Afonso Henriques aquando da conquista de Santarém.
Agora, de novo em terra batida, passamos junto dos 3 moribundos moinhos de Chãs. Satisfeito ficaria o "cavaleiro da triste figura" ao vê-los assim desasados e sem armas para combater uma brisasinha que seja.
À frente um rebanho com mais de 300 cabeças. O pastor, homem simples, habituado à solidão, não alonga a conversa que tentamos entabular. Um pouco mais e entramos na estrada dos Amiais. Cortamos à direita e seguimos para os Olhos d'Água do Alviela. Não sei quantas vezes aqui vim. Gosto da praia fluvial, gosto das nascentes de onde brota a água, tão pura outrora que a capital a reivindicou e canalizou por tantos quilómetros, gosto das formações cársicas que tornam aquele um lugar de singular beleza, gosto de aqui vir e por isso já o fiz por tantas vezes, gosto hoje particularmente porque acho que é o mais belo local desta caminhada. Por tudo isto não entendo porque foi decidido que "O Caminho" por aqui deixasse de passar. Eu passo!... e hoje por aqui ficamos. Se ficares também não deixes de passear um pouquito mais, aprecia a praia fluvial, o dique, a ressurgência da Ribeira dos Amiais e sobe o PR1. Vale a pena visitar as grutas onde se perde a ribeira para voltar a ressurgir 250 m depois; vale a pena apreciara as janelas cársicas; vale a pena extasiarmo-nos com a beleza do canhão flúvio cársico e, se tiver chovido muito (o que não é o caso de hoje), quedarmo-nos perante a monumentalidade dos "olhos" jorrando a água que vem de profundidades superiores a 90m.
Meus senhores, o caminho tem mesmo que passar por aqui.Aqui, ao apreciar a natureza, a nossa alma de peregrinos enche-se até às lágrimas, as mesmas que brotam da rocha e nos enchem o olhar. Por aqui ficamos hoje. Bendito sejas!
Dez quilómetros de asfalto, ruído, fumo de escapes e o iniciar de uma quente manhã trazem-nos até Azoia de Baixo.
Raros foram os motivos de interesse até aqui. Um ou outro pormenor na decoração dos jardins ou paredes das habitações mas nada que nos capturasse a atenção. Teria sido um óptimo tempo de meditação não fora o ruído constante das viaturas e a atenção necessária para evitar acidentes.
Finalmente, aqui algo desperta a nossa atenção: uma escola. Uma escola igual a tantas outras, no entanto o nome de Alexandre Herculano trouxe-me à memória um facto que, arrumadinho, permanecia na minha memória: Alexandre, desiludido com os "tempos" de então, teria confessado, em epístola a Almeida Garrett, o seu desejo de viver "entre 4 Serras", dispor de "algumas leiras" e nelas viver de "botas grosseiras" nos pés e "chapéu de Braga" na cabeça. As "leiras" foram a Quinta de Vale de Lobos aqui em Azoia de Baixo, onde morreria, como agricultor abastado, em 1877. Hoje repousa nos Jerónimos por tributo à sua obra, o que, para um anticlericalista, não me parece que seja o que quereria. Porque não o Panteão?... Este "bravo do Mindelo", cuja pena mais importante foi que a espada, decerto que mais em paz repousaria ali.
As casas térreas, com cores tão portuguesas, que no tempo parecem esperar, fazem-nos pensar que, a qualquer momento, Herculano aparecerá talvez montando um belo cavalo ou conduzindo uma charrete ou carroça com sacos de azeitona dos grandes olivais que cultivava.
Perigosos estes pensamentos porque a estrada de asfalto onde caminhamos tem curvas sem visibilidade e sem bermas que nos protejam.
Aleluia!... a sinalização indica que vamos entrar num estradão de terra batida e, logo ali uma agradável surpresa: "O Cantinho dos Peregrinos" e o simpático "zelador do Caminho" o octogenário senhor Francisco Torres. Numa amena cavaqueira, descansamos e aprendemos. Não saímos sem o carimbo ainda que não tragamos a credencial. Estar ali, em missão, será melhor que o inevitável lar de 3ª idade.
À frente, não mais que um centena de metros, um olival apresenta espécimes que já mais que dobraram a idade do senhor Francisco.
A terra batida acaba 2 kms adiante. De novo o asfalto, em estrada rural, leva-nos a Santos. Nesta aldeia a Associação local recebe e apoia os peregrinos. Trouxemos cartão: tel. 243478007. Servem refeições e podem albergar peregrinos.
Almoçámos e voltamos ao asfalto mas depressa entramos em terra batida numa estrada que nos leva até muito perto dos Casais da Milheiriça. A seguir vem o Arneiro que passamos com pressa. Não sei se perdemos alguma coisa. A povoação é antiga, diz-se que por aqui passou D. Afonso Henriques aquando da conquista de Santarém.
Agora, de novo em terra batida, passamos junto dos 3 moribundos moinhos de Chãs. Satisfeito ficaria o "cavaleiro da triste figura" ao vê-los assim desasados e sem armas para combater uma brisasinha que seja.
À frente um rebanho com mais de 300 cabeças. O pastor, homem simples, habituado à solidão, não alonga a conversa que tentamos entabular. Um pouco mais e entramos na estrada dos Amiais. Cortamos à direita e seguimos para os Olhos d'Água do Alviela. Não sei quantas vezes aqui vim. Gosto da praia fluvial, gosto das nascentes de onde brota a água, tão pura outrora que a capital a reivindicou e canalizou por tantos quilómetros, gosto das formações cársicas que tornam aquele um lugar de singular beleza, gosto de aqui vir e por isso já o fiz por tantas vezes, gosto hoje particularmente porque acho que é o mais belo local desta caminhada. Por tudo isto não entendo porque foi decidido que "O Caminho" por aqui deixasse de passar. Eu passo!... e hoje por aqui ficamos. Se ficares também não deixes de passear um pouquito mais, aprecia a praia fluvial, o dique, a ressurgência da Ribeira dos Amiais e sobe o PR1. Vale a pena visitar as grutas onde se perde a ribeira para voltar a ressurgir 250 m depois; vale a pena apreciara as janelas cársicas; vale a pena extasiarmo-nos com a beleza do canhão flúvio cársico e, se tiver chovido muito (o que não é o caso de hoje), quedarmo-nos perante a monumentalidade dos "olhos" jorrando a água que vem de profundidades superiores a 90m.
Meus senhores, o caminho tem mesmo que passar por aqui.Aqui, ao apreciar a natureza, a nossa alma de peregrinos enche-se até às lágrimas, as mesmas que brotam da rocha e nos enchem o olhar. Por aqui ficamos hoje. Bendito sejas!
Waypoints
Photo
184 ft
Uma parede inteira para homenagear quem, enfrentando, monstros e mar se libertaram da lei da morte
Photo
77 ft
Entrando em Azoia de Baixo
A Escola Alexandre Herculano é ruas tão portuguesas quanto o foi Herculano em todos os momentos de sua vida de herói, historiador e escritor.
Comments (4)
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Information
Easy to follow
Scenery
Difficult
Excelente Trilha, Obrigado pela Partilha!
Bom Caminho
Obrigado Bfshk, Bom Caminho.
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Information
Easy to follow
Scenery
Easy
Fiz Santarém-Fátima de uma vez, e porventura esta metade é a mais bonita. Saindo do centro de Santarém é mais bonito do que saindo da Estação, e sim vale a pena subir da Estação ao centro. Não há muitos estabelecimentos pelo caminho, mas há alguns poucos se necessário. Boa água no parque de merendas junto à Nacional 3 (7,3km deste trilho), e depois nos Casais das Milhariças (21,8km). Vale a pena subir à Igreja na Azoia de Baixo. Cuidado que depois de Santos é fácil não dar pela saída à direita (19,2km). Lá para o fim (28,9km) recomendo antes continuar em frente mais uns 200 metros e virar à direita pelo Caminho de Fátima (Rua do Alviela) e em cima descer para os Olhos d'Água - evita-se uma estrada de asfalto estreita e com pouca visibilidade por parte dos automóveis. Bom caminho!
Bem haja, António Amaral, pelo comentário e complemento à informação. Possivelmente assim outros caminheiros possam acrescentar mais estrelas ao item "Informação". Bons Caminhos.