Caminho Português do Interior Etapa 08 Vila Real - Parada de Aguiar *CPI*
near Vila Real, Vila Real (Portugal)
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Itinerary description
Tínhamos pedido à proprietária para tomarmos o pequeno almoço mais cedo, e às 7:15 o café no r/c abria portas para nos servir. Temo-nos sentido tão acarinhados ao longo deste Caminho... a dispobilidade, o entendimento das necessidades dos peregrinos, os sorrisos e desejos de bom Caminho aqui e ali... nada de novo se fosse em Espanha, mas que em Portugal tardava.
Os nossos primeiros passos cedo nos levaram a apreciar a bela igreja do Calvário, um edifício muito bem proporcionado, estimado, situado num amplo espaço com largas vistas para nascente. Vale a pena entrar: a talha dourada, o tecto pintado, a estatuária...
Pouco mais adiante encantávamo-nos com a arquitectura modernista do templo dedicado a Nossa Senhora da Conceição, que nos recebe num abraço.
Estrada, vivendas, só ao fim de 5 km entramos em ambiente mais rural, pese embora ainda sobre piso asfaltado; depois foi alternando com a terra e troços de calçada, com minúsculas pontes de arco de meia volta, que quase me pareceu romana, talvez sejam reminiscências da milenar Chaves (AQUAE FLAVIAE) - Lamego (Lamecum). E foi um desses troços que nos levou ao Café Pinheiro em Benagouro, para uma refeição de meio da manhã, terminada em dois expressos Delta muito bem tiradinhos!
A EN2 já aquecida pelo Sol quente do meio do dia e depois uma estrada local levaram-nos até à Samardã de Camilo Castelo Branco. Zona bonita, onde o dia do peregrino muda. A partir de aqui e até ao albergue vamo-nos sentir verdadeiramente em trás-os-montes e, em boa parte, livres do asfalto.
Descansamos um pouco junto do gigantesco eucalipto que se situa no ponto onde deixamos o asfalto. É uma arvore plantada pelo insigne padre Luis Castelo Branco, sobrinho neto do escritor, e logo a seguir fica a casa onde residiu Camilo Castelo Branco de 1839 a 1841, com sua irmã Carolina Rita Botelho Castelo Branco.
Ao lado da casa toma-se um caminho rural, muito antigo, de pedras já gastas e desalinhadas, que nos leva ao que resta de uma velha ponte que agora se atravessa por um passadiço metálico. Um recanto paradisíaco mas a etapa é longa, não nos podemos deter.
Do lado oposto a velha calçada despareceu, subimos agora um estradão de terra branca, seca, que nos leva ao traçado da velha linha do Corgo, precisamente no apeadeiro da Samardã. A linha já fazia serviço entre Régua e Vila Real em 1906, e em 1921 chegava a Chaves, 97km de viagem atrás de uma pachorrenta locomotiva a vapor. Fechou em 2009 e serve agora como ciclovia que percorremos por uns quilómetros, quase até Tourencinho. É um troço de grande beleza e que o peregrino faz descontraído, em piso de terra batida e sem grande declive, e no nosso caso abençoado por uma doce luz outonal.
No Café Central aproveitamos para pedir um prato de queijo flamengo cortado em cubinhos que junto com as bananas que vinham nas mochilas nos deram energias para prosseguir pelo traçado que agora é maioritariamente asfaltado até ao albergue.
Aí chegados telefonamos à D. Adelaide, que já sabia antecipadamente da nossa vinda - num caminho pouco frequentado, onde não vimos um único peregrino até entrar em Espanha, foi boa aposta termos tomado o cuidado de telefonar a todos os albergues antes de sair de casa.
Rápido ela apareceu para nos abrir a porta e fazer a visita guiada às instalações desta antiga escola, belíssimamente bem cuidadas e equipadas (a cargo dela e do marido, o senhor Aprígio Pereira).
Simpatiquíssima, pediu-nos lista do que necessitávamos para cozinhar o jantar, já que ali perto nada havia e queríamos poupar as pernas para as etapas seguintes. Ligamos o aquecimento no espaço comum e fomos aos duches.
Quando terminamos já ela tinha regressado e trazido de sua casa tomates, cenouras, chouriços, esparguete, queijo, pão, vinho, leite, tudo o necessário para o jantar e pequeno almoço... um luxo, que se retribui na forma de donativo.
Ficamos a abrir nozes apanhadas ao longo destes dias pelo caminho até cairmos num belo sono, que o local é muito sossegado.
Muito bom o Albergue de Santiago, contacto dos hospitaleiros 259417030 / 966242586.
O CPI
O Caminho Português do Interior é um dos trajectos utilizados pelos peregrinos Portugueses para chegar a Santiago de Compostela. Por ele seguiam os que partiam da zona Centro, em redor de Viseu, e, claro, todos aqueles que viviam no eixo Viseu > Chaves. Também de Coimbra alguns seguiam por esta via, quando queriam evitar o Caminho Central que seguia via Porto > Valença, ou pretendiam juntar-se a outros grupos que partiam do interior.
Os peregrinos da Via da Prata, que segue de Sevilha até Astorga, onde se junta ao grande Caminho Francês, na maior parte das vezes deixavam a via da Prata em Granja de Moreruela onde tomavam a Via Sanabresa; outros saiam antes, em Zamora, entravam em Portugal por Quintanilha e saiam por Vinhais, atingindo depois Verin. Em qualquer caso todos acabavam por se juntar e nomeadamente a partir de Ourense todos seguem o mesmo trajecto até ao Campo de Estrelas - os do Caminho Interior Português e os da Via da Prata.
Foi um dos mais bonitos dos muitos caminhos que já fiz até Santiago, sobretudo na metade portuguesa do percurso. O Outono é mesmo a altura ideal para o fazer, com os dias mais curtos, as temperaturas amenas, os céus calmos. E a paisagem é espectacular, começando logo com os marmeleiros carregados, salpicando de amarelo toda a paisagem em torno de Viseu, o colorido feérico das vinhas que nos acompanha desde Reconcos, próximo de Lamego, até Vila Real, ou a beleza dos castanheiros e carvalhos vestindo-se de tons outonais até Chaves. E a abundância não tem limites: comemos toneladas de marmelos, maçãs, nozes (muitas nozes!), castanhas, amoras (serôdias!), pêras, uvas, medronhos...
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Aqui ficam os links para os registos de cada uma das etapas:
Track Integral 457 km agregador das 21 etapas
Etapa 01 15.82 km Farminhão - Fontelo
Etapa 02 17.79 Km Fontelo - Almargem
Etapa 03 24.56 Km Almargem - Ribolhos
Etapa 04 23.90 Km Ribolhos - Aldeia do Codeçal
Etapa 05 21.02 Km Aldeia do Codeçal - Lamego
Etapa 06 21.06 Km Lamego - Santa Marta de Penaguião
Etapa 07 19.68 Km Santa Marta de Penaguião - Vila Real
Etapa 08 27.50 Km Vila Real - Parada de Aguiar
Etapa 09 23.76 Km Parada de Aguiar - Vidago
Etapa 10 18.99 Km Vidago - Chaves
Etapa 11 29.93 Km Chaves - Verín
Etapa 12 21.39 Km Verín - Viladerrei
Etapa 13 24.48 Km Viladerrei - Sandiás
Etapa 14 14.01 Km Sandiás - Allariz
Etapa 15 24.05 Km Allariz - Ourense
Etapa 16 23.98 Km Ourense - Cea
Etapa 17 21.40 Km Cea - Castro Dozón por Oseira
Etapa 18 25.38 Km Castro Dozón - Lalín - A Laxe
Etapa 19 18.04 Km A Laxe - Bandeira
Etapa 20 25.19 Km Bandeira - Pico Sacro - Lestedo
Etapa 21 14.21 Km Lestedo - Santiago de Compostela
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Mapa geral da Peregrinação:
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Os nossos primeiros passos cedo nos levaram a apreciar a bela igreja do Calvário, um edifício muito bem proporcionado, estimado, situado num amplo espaço com largas vistas para nascente. Vale a pena entrar: a talha dourada, o tecto pintado, a estatuária...
Pouco mais adiante encantávamo-nos com a arquitectura modernista do templo dedicado a Nossa Senhora da Conceição, que nos recebe num abraço.
Estrada, vivendas, só ao fim de 5 km entramos em ambiente mais rural, pese embora ainda sobre piso asfaltado; depois foi alternando com a terra e troços de calçada, com minúsculas pontes de arco de meia volta, que quase me pareceu romana, talvez sejam reminiscências da milenar Chaves (AQUAE FLAVIAE) - Lamego (Lamecum). E foi um desses troços que nos levou ao Café Pinheiro em Benagouro, para uma refeição de meio da manhã, terminada em dois expressos Delta muito bem tiradinhos!
A EN2 já aquecida pelo Sol quente do meio do dia e depois uma estrada local levaram-nos até à Samardã de Camilo Castelo Branco. Zona bonita, onde o dia do peregrino muda. A partir de aqui e até ao albergue vamo-nos sentir verdadeiramente em trás-os-montes e, em boa parte, livres do asfalto.
Descansamos um pouco junto do gigantesco eucalipto que se situa no ponto onde deixamos o asfalto. É uma arvore plantada pelo insigne padre Luis Castelo Branco, sobrinho neto do escritor, e logo a seguir fica a casa onde residiu Camilo Castelo Branco de 1839 a 1841, com sua irmã Carolina Rita Botelho Castelo Branco.
Ao lado da casa toma-se um caminho rural, muito antigo, de pedras já gastas e desalinhadas, que nos leva ao que resta de uma velha ponte que agora se atravessa por um passadiço metálico. Um recanto paradisíaco mas a etapa é longa, não nos podemos deter.
Do lado oposto a velha calçada despareceu, subimos agora um estradão de terra branca, seca, que nos leva ao traçado da velha linha do Corgo, precisamente no apeadeiro da Samardã. A linha já fazia serviço entre Régua e Vila Real em 1906, e em 1921 chegava a Chaves, 97km de viagem atrás de uma pachorrenta locomotiva a vapor. Fechou em 2009 e serve agora como ciclovia que percorremos por uns quilómetros, quase até Tourencinho. É um troço de grande beleza e que o peregrino faz descontraído, em piso de terra batida e sem grande declive, e no nosso caso abençoado por uma doce luz outonal.
No Café Central aproveitamos para pedir um prato de queijo flamengo cortado em cubinhos que junto com as bananas que vinham nas mochilas nos deram energias para prosseguir pelo traçado que agora é maioritariamente asfaltado até ao albergue.
Aí chegados telefonamos à D. Adelaide, que já sabia antecipadamente da nossa vinda - num caminho pouco frequentado, onde não vimos um único peregrino até entrar em Espanha, foi boa aposta termos tomado o cuidado de telefonar a todos os albergues antes de sair de casa.
Rápido ela apareceu para nos abrir a porta e fazer a visita guiada às instalações desta antiga escola, belíssimamente bem cuidadas e equipadas (a cargo dela e do marido, o senhor Aprígio Pereira).
Simpatiquíssima, pediu-nos lista do que necessitávamos para cozinhar o jantar, já que ali perto nada havia e queríamos poupar as pernas para as etapas seguintes. Ligamos o aquecimento no espaço comum e fomos aos duches.
Quando terminamos já ela tinha regressado e trazido de sua casa tomates, cenouras, chouriços, esparguete, queijo, pão, vinho, leite, tudo o necessário para o jantar e pequeno almoço... um luxo, que se retribui na forma de donativo.
Ficamos a abrir nozes apanhadas ao longo destes dias pelo caminho até cairmos num belo sono, que o local é muito sossegado.
Muito bom o Albergue de Santiago, contacto dos hospitaleiros 259417030 / 966242586.
O CPI
O Caminho Português do Interior é um dos trajectos utilizados pelos peregrinos Portugueses para chegar a Santiago de Compostela. Por ele seguiam os que partiam da zona Centro, em redor de Viseu, e, claro, todos aqueles que viviam no eixo Viseu > Chaves. Também de Coimbra alguns seguiam por esta via, quando queriam evitar o Caminho Central que seguia via Porto > Valença, ou pretendiam juntar-se a outros grupos que partiam do interior.
Os peregrinos da Via da Prata, que segue de Sevilha até Astorga, onde se junta ao grande Caminho Francês, na maior parte das vezes deixavam a via da Prata em Granja de Moreruela onde tomavam a Via Sanabresa; outros saiam antes, em Zamora, entravam em Portugal por Quintanilha e saiam por Vinhais, atingindo depois Verin. Em qualquer caso todos acabavam por se juntar e nomeadamente a partir de Ourense todos seguem o mesmo trajecto até ao Campo de Estrelas - os do Caminho Interior Português e os da Via da Prata.
Foi um dos mais bonitos dos muitos caminhos que já fiz até Santiago, sobretudo na metade portuguesa do percurso. O Outono é mesmo a altura ideal para o fazer, com os dias mais curtos, as temperaturas amenas, os céus calmos. E a paisagem é espectacular, começando logo com os marmeleiros carregados, salpicando de amarelo toda a paisagem em torno de Viseu, o colorido feérico das vinhas que nos acompanha desde Reconcos, próximo de Lamego, até Vila Real, ou a beleza dos castanheiros e carvalhos vestindo-se de tons outonais até Chaves. E a abundância não tem limites: comemos toneladas de marmelos, maçãs, nozes (muitas nozes!), castanhas, amoras (serôdias!), pêras, uvas, medronhos...
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Aqui ficam os links para os registos de cada uma das etapas:
Track Integral 457 km agregador das 21 etapas
Etapa 01 15.82 km Farminhão - Fontelo
Etapa 02 17.79 Km Fontelo - Almargem
Etapa 03 24.56 Km Almargem - Ribolhos
Etapa 04 23.90 Km Ribolhos - Aldeia do Codeçal
Etapa 05 21.02 Km Aldeia do Codeçal - Lamego
Etapa 06 21.06 Km Lamego - Santa Marta de Penaguião
Etapa 07 19.68 Km Santa Marta de Penaguião - Vila Real
Etapa 08 27.50 Km Vila Real - Parada de Aguiar
Etapa 09 23.76 Km Parada de Aguiar - Vidago
Etapa 10 18.99 Km Vidago - Chaves
Etapa 11 29.93 Km Chaves - Verín
Etapa 12 21.39 Km Verín - Viladerrei
Etapa 13 24.48 Km Viladerrei - Sandiás
Etapa 14 14.01 Km Sandiás - Allariz
Etapa 15 24.05 Km Allariz - Ourense
Etapa 16 23.98 Km Ourense - Cea
Etapa 17 21.40 Km Cea - Castro Dozón por Oseira
Etapa 18 25.38 Km Castro Dozón - Lalín - A Laxe
Etapa 19 18.04 Km A Laxe - Bandeira
Etapa 20 25.19 Km Bandeira - Pico Sacro - Lestedo
Etapa 21 14.21 Km Lestedo - Santiago de Compostela
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Mapa geral da Peregrinação:
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Waypoints
Provisioning
1,560 ft
Bar Zuri Party
Waypoint
0 ft
Eucalipto Padre Luís Castelo Branco
Road and Rua Camilo Castelo Branco and Rua Do Adro
Fountain
2,484 ft
Fonte natural
Provisioning
0 ft
Minimercado
Estrada N2
Fountain
2,470 ft
Torneira 2
Comments (4)
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Sobre o CPIS (Caminho Português Interior de Santiago de Compostela) têm informação detalhada, um WEBSIG, mapas e gravações audiovisuais do percurso em:
/
/mapas/
BOM CAMINHO!!!
Xerardo Pereiro (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD)
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Information
Easy to follow
Scenery
Difficult
Muito bonita, mas também muito difícil de fazer nesta altura do ano. Calçadas romanas molhadas são sempre difíceis, mas quando elas se tornam ribeiras a perigosidade aumenta...
É verdade, Ana Peixeiro, fica sempre mais difícil. Se um dia fizer a Via Mariana, sobretudo no trajecto em Portugal, fuja de época pluviosa, porque é muito pior que este CPI.
Eu gostei bastante deste caminho do Interior, sobretudo de Castro Daire para cima, mas tem partes mais exigentes, outras com sinalização menos clara...
Bom Caminho!
Muito obrigada!