:-: Alenquer PR8H - Rota dos Caminhos da Raínha
near Merceana, Lisboa (Portugal)
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Itinerary description
nota: imagens e links contidos nesta descrição só são visíveis em browser e não na app Wikiloc
Corria o ano de 1300.
Marciano, o touro, tinha desaparecido novamente. Não sabiam dele, mas nem se preocuparam muito, ele voltava sempre, e naquele dia, já perto do sol-pôr, lá veio ele, pachorrento, monte abaixo.
Um dia o pastor resolveu vigiá-lo, e quando ele começou a afastar-se do povo, seguiu-o a pouca distância. Qual não foi a sua surpresa ao descobrir, mais adiante, o Marciano ajoelhado frente a um carvalho!
Chegou mais perto e descobriu que, entre os ramos do carvalho, estava uma pequena imagem de Nossa Senhora da Piedade ou do Carvalheiro.
Quando contou ao povo o que tinha visto, a decisão foi unânime: vamos trazer a Senhora para o altar da nossa igreja! Dito e feito, todos ficaram satisfeitos e orgulhosos por ali albergarem tal preciosidade.
Mas na manhã seguinte a imagem tinha desaparecido, e bastou constatar a ausência de Marciano para logo a localizar: estava de novo entre os ramos da frondosa árvore.
A história repetiu-se, e o povo decidiu erguer então uma ermida no lugar onde a imagem aparecera.
A devoção e o relato dos milagres da Virgem em acontecimentos ligados a animais, espalhou-se rapidamente, e em breve se estabeleceu um círio de romeiros que vinham de Lisboa, pelas festas do Espírito Santo, até Alenquer e que depois seguiam para a Merceana em adoração à milagrosa Senhora da Piedade.
Mas pouco mais de um século depois, a peste negra acaba com as peregrinações e a tradição fica esquecida. Só após quase outro século, em 1520, é que a Raínha D. Leonor, viúva de D. João II e que frequentemente passava por estes domínios a caminho das Caldas da Raínha, mandou construir uma nova igreja no lugar da ermida.
A antiga Confraria do Espírito Santo dá lugar à da Misericórdia e nos anos vindouros a protecção dos monarcas a este Santuário não cessa.
As obras de beneficiação não param, e depois do terramoto também, e o que hoje temos é um templo que de feição maneirista e barroca, recheado com interessantes obras de arte.
(Nesta página da DGPC há informação completíssima sobre a igreja)
Fomos de Lisboa para o ponto de partida do nosso percurso seguindo pela A8 e depois N9, o que nos fez passar pela Carvoeira...
A adega fervilhava de actividade, estamos ainda em plena época de vindima, e a loja está aberta ao Sábado das 9 às 13h, oportunidade que não recusei para trazer comigo uma caixa de Velhos Tempos Reserva (4 eur) e do premiado Velhos Tempos Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon (3 eur).
Chegados ao largo Raínha Dona Leonor, na Merceana, parqueamos. Estava a decorrer o pequeno mercado ao ar livre, que acontece 3 vezes por semana. Abastecemo-nos só de hortícolas, que o peixe fresco de Peniche não aguentaria um dia ao sol no carro, e iniciamos a caminhada.
O percurso
Feita a saída da zona urbana, rápido começamos a sentir os aromas do campo. Meandros por quintinhas e vinhas, sobretudo depois de passar Casais das Eiras, vão ser a nossa companhia o dia todo.
Circundamos depois uma longa vinha pertencente à Quinta do Anjo, onde se produzem os vinhos Quinta do Pinto, até chegarmos a Barbas, que atravessamos, subindo depois atrás do povoado. Mais uma nogueira recheada. Ainda com poucos quilómetros, as mochilas já vão enchendo...
Mais adiante, a meio da subida para Aldeia Galega da Merceana, paramos para uma fuji e um cubo de marmelada. Um pastor veio com o seu rebanho de cabras para o terreno ao lado, a nossa pausa encheu-se de moscas e campainhas.
Continuamos depois por entre vinhas, macieiras e marmeleiros. As máquinas ainda vindimam em alguns terrenos.
Num alto, a vista da Aldeia Galega da Merceana, uma larga ninhada de casas alvas e a sua bela igreja a destacar-se do lado direito, tudo afogado no meio das vinhas que se começam a encher de cor, deixa-nos um bocado em contemplação. As terras de Alenquer encantam-nos mais uma vez.
Quando lá chegamos ficamos espantados com o asseio e beleza da aldeia. O Largo do Divino Espírito Santo, onde fica a Capela do Espírito Santo e a igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, é um encanto. A igreja tem um monumental portal pré-Manuelino. Em todo aquele entorno se respirava paz e quietude, mas depois ouvimos vozes, que vinham da porta da sacristia. Entramos. Uma senhora mostrava a igreja a uns futuros noivos que ali se queriam casar; por sua vez todo o templo estava arranjado para um casamenro que iria ocorrer este mesmo fim de semana. Foi a nossa sorte. Sem entrar para a grande nave central, foi-nos permitido ver o interior ali da entrada do altar, tectos magníficos e belas imagens nos altares laterais, além, claro, da monumentalidade do altar mor. Tudo tão bem conservado e restaurado...
Aliás é essa a impressão que a Aldeia Galega nos deixa: muita história, magníficamente conservada e muito cuidada, por quem ama a sua terra.
Chegamos depois junto do pelourinho. Fabuloso trabalho em pedra, não é fácil encontrar um pelourinho tão elaborado. A Casa da Raínha, onde ela se detinha para pernoita na sua viagem de Lisboa para as Caldas, o que resta da velha igreja da Misericórdia... não resistimos: sentamos no banco junto da loja do cidadão (fechada ao Sábado) e aí fizemos o nosso almoço, apesar de só termos 6 km percorridos.
Ao nosso lado, o fontanário público - é água natural muito boa, vem de uma mina lá em cima, explicou-nos uma senhora que veio encher os seus cântaros. A encimar a fonte, um magnífico painel de azulejos representando o encontro de Jesus com a Samaritana do Poço, um dos mais significativos episódios bíblicos, muito bem descrito e explicado aqui. O episódio narrado ocorreu junto do Poço de Jacob, local bem enraízado nas tradições Cristãs, Judaicas, Samaritanas e Muçulmanas, e descrito nesta página da Wikipedia.
Ali ao lado, na Associação recreativa, há um café, onde uns expressos nos ajudaram a retomar o caminho. Tomamos então uma velha álea ladeada de vetustas árvores, até que chegamos aos terrenos da grande Quinta de Chocapalha, onde as vindimas ainda decorriam, em modo tradicional, cachos colhidos à mão.
Seguimos, subindo até Sobreiros de onde logo se sai pela Rua da Fonte onde pouco depois, escondido à direita, sob um grande sobreiro, se encontra a ruína de um poço coberto.
Os nossos passos levam-nos agora à Aldeia Gavinha, parada no tempo, casa de lavradores, casas brasonadas e de novo muita serenidade. Passamos a Fonte Gótica e fomos em seguida apreciar a Igreja de Santa Maria Madalena, onde existe um bonito conjunto de azulejos do séc. XVII.
Segundo uma nota que li, acredita-se que a Aldeia Gavinha tenha sido fundada no séc. XV, pelos sobreviventes de um surto de peste numa povoação vizinha.
Mais abaixo atravessamos a N9 e novamente as vinhas, nogueiras e marmeleiros são a nossa companhia. Já não cabe mais nada nas mochilas.
Chegamos mais adiante ao Bairro de São Martinho, mais adegas particulares e por todo o lado o cheiro ao mosto. Depois Casal das Queimadas e finalmente Freixial do Meio, povoação sem piada, salva-se a capelinha de S. Luís.
Pouco depois entrávamos na Merceana, onde as peixeiras lavavam banca e utensílios, no mercadinho.
Estava terminado o trajecto, e com este PR8H completamos a colecção de percursos da C. M. de Alenquer. Sem dúvida valiosa a recomendação no seu site de fazer este PR8 em final de Verão / princípio de Outono.
Note-se que, como algumas outras da Câmara de Alenquer, esta rota não está numerada e talvez não homologada (mas está marcada no terreno), por isso atribuí a designação PR8 seguido da letra H, para indicar que é numeração provisória minha, a rectificar um dia que ela seja homologado e numerada pelas entidades competentes.
Links para os outros Percursos Pedestres de Alenquer:
Alenquer PR1 - 16.53 Km - Rota das Encostas da Serra
Alenquer PR2H - 22.61 Km - Carreiro da Senhora (alternativa viável)
Alenquer PR3H - 10.94 Km - Charneca de Ota
Alenquer PR4 - 14.19 km - Rota dos Moínhos
Alenquer PR5 - 12.43 Km - Rota de Santa Quitéria
Alenquer PR6 - 11.87 Km - Rota de Nossa Senhora da Encarnação
Alenquer PR7H - 9.57 Km - Campos do Pereiro
Alenquer PR8H - 16.46 Km - Rota dos Caminhos da Raínha
Alenquer PR9H - 13.54 Km - Rota das Cerejas
O site dos percursos pedestres de Alenquer:
--> Percursos Pedestres de Alenquer
Corria o ano de 1300.
Marciano, o touro, tinha desaparecido novamente. Não sabiam dele, mas nem se preocuparam muito, ele voltava sempre, e naquele dia, já perto do sol-pôr, lá veio ele, pachorrento, monte abaixo.
Um dia o pastor resolveu vigiá-lo, e quando ele começou a afastar-se do povo, seguiu-o a pouca distância. Qual não foi a sua surpresa ao descobrir, mais adiante, o Marciano ajoelhado frente a um carvalho!
Chegou mais perto e descobriu que, entre os ramos do carvalho, estava uma pequena imagem de Nossa Senhora da Piedade ou do Carvalheiro.
Quando contou ao povo o que tinha visto, a decisão foi unânime: vamos trazer a Senhora para o altar da nossa igreja! Dito e feito, todos ficaram satisfeitos e orgulhosos por ali albergarem tal preciosidade.
Mas na manhã seguinte a imagem tinha desaparecido, e bastou constatar a ausência de Marciano para logo a localizar: estava de novo entre os ramos da frondosa árvore.
A história repetiu-se, e o povo decidiu erguer então uma ermida no lugar onde a imagem aparecera.
A devoção e o relato dos milagres da Virgem em acontecimentos ligados a animais, espalhou-se rapidamente, e em breve se estabeleceu um círio de romeiros que vinham de Lisboa, pelas festas do Espírito Santo, até Alenquer e que depois seguiam para a Merceana em adoração à milagrosa Senhora da Piedade.
Mas pouco mais de um século depois, a peste negra acaba com as peregrinações e a tradição fica esquecida. Só após quase outro século, em 1520, é que a Raínha D. Leonor, viúva de D. João II e que frequentemente passava por estes domínios a caminho das Caldas da Raínha, mandou construir uma nova igreja no lugar da ermida.
A antiga Confraria do Espírito Santo dá lugar à da Misericórdia e nos anos vindouros a protecção dos monarcas a este Santuário não cessa.
As obras de beneficiação não param, e depois do terramoto também, e o que hoje temos é um templo que de feição maneirista e barroca, recheado com interessantes obras de arte.
(Nesta página da DGPC há informação completíssima sobre a igreja)
Fomos de Lisboa para o ponto de partida do nosso percurso seguindo pela A8 e depois N9, o que nos fez passar pela Carvoeira...
A adega fervilhava de actividade, estamos ainda em plena época de vindima, e a loja está aberta ao Sábado das 9 às 13h, oportunidade que não recusei para trazer comigo uma caixa de Velhos Tempos Reserva (4 eur) e do premiado Velhos Tempos Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon (3 eur).
Chegados ao largo Raínha Dona Leonor, na Merceana, parqueamos. Estava a decorrer o pequeno mercado ao ar livre, que acontece 3 vezes por semana. Abastecemo-nos só de hortícolas, que o peixe fresco de Peniche não aguentaria um dia ao sol no carro, e iniciamos a caminhada.
O percurso
Feita a saída da zona urbana, rápido começamos a sentir os aromas do campo. Meandros por quintinhas e vinhas, sobretudo depois de passar Casais das Eiras, vão ser a nossa companhia o dia todo.
Circundamos depois uma longa vinha pertencente à Quinta do Anjo, onde se produzem os vinhos Quinta do Pinto, até chegarmos a Barbas, que atravessamos, subindo depois atrás do povoado. Mais uma nogueira recheada. Ainda com poucos quilómetros, as mochilas já vão enchendo...
Mais adiante, a meio da subida para Aldeia Galega da Merceana, paramos para uma fuji e um cubo de marmelada. Um pastor veio com o seu rebanho de cabras para o terreno ao lado, a nossa pausa encheu-se de moscas e campainhas.
Continuamos depois por entre vinhas, macieiras e marmeleiros. As máquinas ainda vindimam em alguns terrenos.
Num alto, a vista da Aldeia Galega da Merceana, uma larga ninhada de casas alvas e a sua bela igreja a destacar-se do lado direito, tudo afogado no meio das vinhas que se começam a encher de cor, deixa-nos um bocado em contemplação. As terras de Alenquer encantam-nos mais uma vez.
Quando lá chegamos ficamos espantados com o asseio e beleza da aldeia. O Largo do Divino Espírito Santo, onde fica a Capela do Espírito Santo e a igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, é um encanto. A igreja tem um monumental portal pré-Manuelino. Em todo aquele entorno se respirava paz e quietude, mas depois ouvimos vozes, que vinham da porta da sacristia. Entramos. Uma senhora mostrava a igreja a uns futuros noivos que ali se queriam casar; por sua vez todo o templo estava arranjado para um casamenro que iria ocorrer este mesmo fim de semana. Foi a nossa sorte. Sem entrar para a grande nave central, foi-nos permitido ver o interior ali da entrada do altar, tectos magníficos e belas imagens nos altares laterais, além, claro, da monumentalidade do altar mor. Tudo tão bem conservado e restaurado...
Aliás é essa a impressão que a Aldeia Galega nos deixa: muita história, magníficamente conservada e muito cuidada, por quem ama a sua terra.
Chegamos depois junto do pelourinho. Fabuloso trabalho em pedra, não é fácil encontrar um pelourinho tão elaborado. A Casa da Raínha, onde ela se detinha para pernoita na sua viagem de Lisboa para as Caldas, o que resta da velha igreja da Misericórdia... não resistimos: sentamos no banco junto da loja do cidadão (fechada ao Sábado) e aí fizemos o nosso almoço, apesar de só termos 6 km percorridos.
Ao nosso lado, o fontanário público - é água natural muito boa, vem de uma mina lá em cima, explicou-nos uma senhora que veio encher os seus cântaros. A encimar a fonte, um magnífico painel de azulejos representando o encontro de Jesus com a Samaritana do Poço, um dos mais significativos episódios bíblicos, muito bem descrito e explicado aqui. O episódio narrado ocorreu junto do Poço de Jacob, local bem enraízado nas tradições Cristãs, Judaicas, Samaritanas e Muçulmanas, e descrito nesta página da Wikipedia.
Ali ao lado, na Associação recreativa, há um café, onde uns expressos nos ajudaram a retomar o caminho. Tomamos então uma velha álea ladeada de vetustas árvores, até que chegamos aos terrenos da grande Quinta de Chocapalha, onde as vindimas ainda decorriam, em modo tradicional, cachos colhidos à mão.
Seguimos, subindo até Sobreiros de onde logo se sai pela Rua da Fonte onde pouco depois, escondido à direita, sob um grande sobreiro, se encontra a ruína de um poço coberto.
Os nossos passos levam-nos agora à Aldeia Gavinha, parada no tempo, casa de lavradores, casas brasonadas e de novo muita serenidade. Passamos a Fonte Gótica e fomos em seguida apreciar a Igreja de Santa Maria Madalena, onde existe um bonito conjunto de azulejos do séc. XVII.
Segundo uma nota que li, acredita-se que a Aldeia Gavinha tenha sido fundada no séc. XV, pelos sobreviventes de um surto de peste numa povoação vizinha.
Mais abaixo atravessamos a N9 e novamente as vinhas, nogueiras e marmeleiros são a nossa companhia. Já não cabe mais nada nas mochilas.
Chegamos mais adiante ao Bairro de São Martinho, mais adegas particulares e por todo o lado o cheiro ao mosto. Depois Casal das Queimadas e finalmente Freixial do Meio, povoação sem piada, salva-se a capelinha de S. Luís.
Pouco depois entrávamos na Merceana, onde as peixeiras lavavam banca e utensílios, no mercadinho.
Estava terminado o trajecto, e com este PR8H completamos a colecção de percursos da C. M. de Alenquer. Sem dúvida valiosa a recomendação no seu site de fazer este PR8 em final de Verão / princípio de Outono.
Note-se que, como algumas outras da Câmara de Alenquer, esta rota não está numerada e talvez não homologada (mas está marcada no terreno), por isso atribuí a designação PR8 seguido da letra H, para indicar que é numeração provisória minha, a rectificar um dia que ela seja homologado e numerada pelas entidades competentes.
Links para os outros Percursos Pedestres de Alenquer:
Alenquer PR1 - 16.53 Km - Rota das Encostas da Serra
Alenquer PR2H - 22.61 Km - Carreiro da Senhora (alternativa viável)
Alenquer PR3H - 10.94 Km - Charneca de Ota
Alenquer PR4 - 14.19 km - Rota dos Moínhos
Alenquer PR5 - 12.43 Km - Rota de Santa Quitéria
Alenquer PR6 - 11.87 Km - Rota de Nossa Senhora da Encarnação
Alenquer PR7H - 9.57 Km - Campos do Pereiro
Alenquer PR8H - 16.46 Km - Rota dos Caminhos da Raínha
Alenquer PR9H - 13.54 Km - Rota das Cerejas
O site dos percursos pedestres de Alenquer:
--> Percursos Pedestres de Alenquer
Waypoints
Waypoint
0 ft
Casais das Eiras
Waypoint
487 ft
Casal das Queimadas
Waypoint
417 ft
Lavadouro coberto
Waypoint
365 ft
Lavadouro coberto com WCs fracos
Information point
437 ft
Marca - Caminho de Fátima e Santiago
Bridge
363 ft
Ponte sobre vala
Waypoint
728 ft
Sobreiros - paragem de autocarro coberta
Waypoint
440 ft
Wc
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Information
Easy to follow
Scenery
Moderate
Trilha agradável de fazer com dunas e floresta