Por terras de Romanos e Mouros: de Almorquim à Cabrela - Treino 6 do Baco
near Almocrim, Lisboa (Portugal)
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Trail photos
Itinerary description
Waypoints
Saída de Almorquim
Como nome da aldeia indica, já por aqui viveram e tiraram rendimento os mouros, ou seja os Árabes. D. Afonso Henriques conquistou Lisboa antes de afirmar o domínio sobre a região Oeste. Tinha que aproveitar a força dos Cruzados que, de barco, se dirigiam à Terra Santa para multiplicar as forças. Não perdeu tempo. De Santarém correu para Lisboa. Mais tarde veio ocupar a terra dos saloios: se a capital estava conquistada, era preciso negociar com os "fornecedores" de Lisboa que lhes era poupada a vida e o negócio, à custa de um pequeno contributo para o poder do rei, que indo buscar a etimologia do salário, deu em saloio. Deparamo-nos a cada passo com os muros de pedra solta que sustinham as terras de cultivo de todas as encostas do Rio Lizandro.
Sinais do passado
Os carreiros de hoje já foram caminhos para acesso aos campos agrícolas. As paredes de pedra solta são o testemunho.
Frondosa vegetação
Exuberante, densa e frondosa vegetação. Os carvalhos fazem lembrar a aldeia seguinte, na margem direita do Lizandro: Carvalhal. Até o Baco estava admirado. Não sabia para que lado se virar ...
Poço tradicional
Estamos à entrada da aldeia de Broas e encontramos um poço tradicional. Trata-se de uma construção antiga, em pedra solta, existente em todas as aldeias na região de Mafra. É um misto de nascente e cisterna onde nasce e é conservada a água. Sempre fresca!
Aldeia de Broas
Segundo o Guia do Concelho de Mafra, editado em 2000, trata-se um "aglomerado de casa rurais em pedra curraleira que remonta ao século XVI, mais precisamente a 1527. (...) ostenta palheiros, estábulos, lagares, poços, eiras e diversas pocilgas, pombais e habitações (...) o último residente deixou a aldeia em 1969. (...) Um testemunho ímpar de uma cultura em que esteve ao longo de séculos inserida: a cultura saloia." A última habitante, D. Gertrudes, acabou por sair e ir viver para Almorquim, para casa de uma filha. Broas precisava de um destino como o da aldeia da Mata Pequena, alguém que a recupere e dê vida ao testemunho de outras vidas, às portas de Lisboa e Sintra.
Caminho pedregoso
A descer de Broas para a Ribeira da Cabrela encontra-se o caminho mais irregular, coberto de pedra solta e esventrado pela águas das chuvas. A descida é pronunciada e recomenda-se cautela! Nada que afete o Baco.
Ribeira da Cabrela
A Ribeira da Cabrela, vinda do vale entre Vila Verde, Godigana e Faião, aumenta o seu caudal com a junção das águas da Ribeira do Fervença e Ribeira da Granja (vindas da Base Aérea de Sintra e que reúnem as águas desde Algueirão-Mem Martins a Cortegaça), com a Ribeira do Adrião (águas desde Morelena, Pero Pinheiro e Armés). É acompanhada por um caminho ao longo da margem esquerda que nós seguimos para sul. De águas tranquilas, com as margens cobertas de vegetação sempre fresca torna-se um local aprazível para amantes da natureza, em qualquer época do ano.
Ribeira da Cabrela
Mais um dos muitos locais com motivos de interesse: a vegetação, as travessias improvisadas, a frescura das árvores e as águas tranquilas.
Caminho da várzea
Num local designado de Alparrel, que já foi terra de cultivo, entende-se uma pequena várzea com ambiente muito agradável. Do lado oeste apresenta algumas ruinas e no topo sul, o mais elevado, há ruinas de uma azenha.
Ponte Romana?
A ponte e os caminhos de acesso, em calçada, são descritos como sendo romanos, eventualmente por serem muito antigos, talvez medievais. A ponte não tem arcos, não tem guardas, e o tabuleiro é composto por lajes de rochas naturais, de grandes dimensões. Os pilares são em alvenaria de pedra, ligados por argamassa e apresentam cunha do lado da nascente para combater o desgaste provocado pela corrente. O caminho que liga Casal Sequeiro, na encosta do lado este, à Cabrela, do lado oeste, apresenta piso em calçada de pedra trabalhada que aparenta ser medieval ou anterior. Do lado poente, na localidade de Faião, a caminho do museu de Odrinhas, foi escavado um habitat luso-romano e tardo-romano (séc.I a.C ao séc. IX d.C.). No entanto, nem esta ponte nem o caminho que lá conduz apresentam qualquer classificação nem constam do Portal do Arqueólogo. Por estas razões só podemos dizer o que os nossos olhos vêm: apresentam sinais de muita antiguidade. O local é idílico. Ouve-se a passarada e o vento nas folhas dos choupos, freixos, carvalhos e mais árvores que cobrem as margens da ribeira. O verde tranquilizante da primavera é a cor dominante. A completar o quadro, os cheiros dão o último golpe nos sentidos. Apetece estender a manta, abrir o farnel e gozar o resto do dia sem contar os minutos. O Baco também gostou. Testou tudo e acho que tem queda para a história! Subiu, desceu, rodopiou e farejou, insistentemente, os dejetos de um animal selvagem. Estando a meio do percurso, dada a hora, tivemos que prosseguir.
Belas vistas
Para evitar a longa subida até a Cabrela decidi seguir a meia encosta, 250m após a saída da ponte. Ao longo deste carreiro, nalguns locais pouco usado e difícil de identificar, a vista sobre o vale e a encosta do lado este da ribeira, são muito agradáveis.
Trilho
Depois de saltar vários muros à procura do carreiro, recuperámos o trilho. Piso em rocha, da laje existente na área, e laterais cobertas de vegetação. Só falta o teto para ser túnel.
Panorama
Estamos na encosta poente da Ribeira da Cabrela (50m de altitude), a meia distância para o alto de de Faião (206m de altitude). A vista para Sintra e para o vale são espetaculares. O Baco já se queixou. Entre o esforço da subida e as picadas dos cardos que ladeiam o trilho, não sei o que deu deu mais contributos. Teve que andar ao colo uns 50m.
Moinho do Barrão
Se as vistas até agora já eram bonitas, agora são excecionais. Qualquer dos lados tem algo interessante e bonito para se ver: para sul o moinho do Barrão recortado no céu, para norte o Carvalhal e Mafra, para nordeste Cheleiros e os monte do Funchal, na Malveira e para noroeste os moinhos da Serra do Lima, sobranceiros a Almorquim. Bonito.
Caminho romano?
Mais uma estrada identificada em muitos mapas como sendo romana. Mas é só de boca porque não existe classificação em lado nenhum. Nem o museu de Odrinhas, aqui ao lado, o confirma. E são muito ativos e já fizeram escavações em muitos locais nesta zona. Podemos dizer que, por aqui, chama-se romano a tudo o que é muito antigo? Para a direita segue um desvio para a aldeia de Broas, 500m para sudeste. Vê-se o convento de Mafra e o vale do Rio Lizandro. Mais bonito ainda do que até aqui. Até o Baco está admirado!
Almorquim
Entrámos pela rua do Lajeal e passámos à rua Principal. Sem nada de relevante a não ser o contraste de moderníssimas casas com imensas ruinas. Tenho a certeza que as modernas não vão durar tanto como as antigas, agora em ruinas. Coisas do betão. Se fossem feitas com as argamassas dos romanos talvez a história fosse outra! Chegámos. Com algum cansaço e picadas nas canelas, mas satisfeitos com as memórias visitadas, a beleza da paisagem e as vistas excecionais. Tenho que trazer cá os meus amigos, os humanos, daqui a dias.
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